Lava Jato escondeu informações da ministra Rosa Weber
Diálogos obtidos pelo site The Intercept apontam que procuradores temiam vazamento de informações e que ministra aceitasse argumentos da defesa de Lula
Procuradores da Operação Lava Jato esconderam informações da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, ao pedir seu apoio durante investigações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2016. As mensagens foram divulgadas pela Folha de São Paulo em parceria com o site The Intercept.
Os diálogos mostram que a força-tarefa sabia que Lula havia mencionado Rosa Weber em telefonemas grampeados e convocado aliados para influenciá-la na decisão de uma ação. Os procuradores temiam vazamentos e que a ministra aceitasse os argumentos da defesa.
Weber havia sido sorteada para examinar uma ação da defesa de Lula para suspender as investigações. O argumento era de que havia um conflito entre a Lava Jato e promotores de São Paulo, que também o investigavam.
As mensagens revelam que o grampo nos telefones do ex-presidente permitiu que a força-tarefa soubesse a movimentação dos advogados e se antecipassem. O conteúdo também apresenta novos indícios da relação próxima entre procuradores e o então juiz Sergio Moro.
Em 26 de fevereiro de 2016, quando a ação foi protocolada, a Polícia Federal interceptou duas ligações do advogado Roberto Teixeira, sócio do escritório que defende Lula. Na gravação, Teixeira sugere que o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, hoje senador, deveria entrar em contato com Rosa Weber.
O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, enviou a conversa da escuta telefônica para Sergio Moro, destacando os riscos da ação no STF. O atual ministro da Justiça e da Segurança Pública já havia trabalhado como juiz instrutor no gabinete de Rosa Weber durante julgamento do Mensalão em 2012.
"Até onde tenho presente, ela é pessoa seria. Nao tem tb a tendência de entrar em bola dividida. Mas claro, tudo é possível", escreveu o juiz para Deltan. A grafia está reproduzida conforme consta nos arquivos obtidos pelo Intercept.
O assunto foi debatido pela força-tarefa ao longo da semana. Os procuradores avaliavam conversar com a ministra, mas não queriam entrar em detalhes. "Um contato lá seria bom, mas teríamos que abrir a existência do diálogo e poderia vazar", escreveu Deltan ao procurador Júlio Noronha sobre as conversas grampeadas de Lula. "O moro pode neutralizar", apontou o procurador Januário Paludo.
Não há registro nas mensagens de que Sergio Moro tenha procurado Rosa Weber. Ele e os procuradores disseram não ter discutido o tema com a ministra, segundo a Folha.
Em 28 de fevereiro, os procuradores discutiram a elaboração de um documento apontando as diferenças entre as investigações em Curitiba e São Paulo a ser entregue pela Procuradoria-Geral da República a Weber.
Deltan defendeu que seria difícil contar com o apoio do procurador-geral Rodrigo Janot sem passar informações sobre o andamento da investigação e as ações previstas contra Lula.
O coordenador da força-tarefa foi a Brasília no dia 29 e discutiu o assunto com o chefe de gabinete de Janot, o procurador Eduardo Pelella. De acordo com as mensagens obtidas pelo Intercept, Pelella levou as informações produzidas pela força-tarefa ao Supremo à tarde e as entregou ao chefe de gabinete da ministra.
"Boa conversa com o chefe de Gabinete dela. Mas o cara é fechadão", escreveu Pelella a Deltan no Telegram após reunião no tribunal. Pouco depois, Rosa determinou que a defesa de Lula fosse comunicada das informações apresentadas pelos procuradores de Curitiba para que se manifestasse, apontando que iria esperar uma resposta para tomar uma decisão.
O despacho foi comemorado pela força-tarefa, que ganhava mais tempo para executar ações contra o líder do PT. As buscas e a condução coercitiva de Lula foram realizadas no dia 4 de março. No mesmo dia, Rosa assinou despacho afirmando não ter encontrado indício de ilegalidade na condução das investigações e negou o pedido dos advogados de Lula.
"Rosa weber mandou lils pastar", afirmou o delegado Márcio Anselmo, tratando Lula pelas iniciais. Duas semanas depois, Moro determinou a interceptação e levantou o sigilo das investigações, o que tornou público os telefonemas de Lula, incluindo a conversa para que procurassem Rosa Weber.
A força-tarefa da Lava Jato defendeu o sigilo mantido em 2016 e destacou que a proteção de informações sensíveis em casos criminais complexos é necessária "para atender o interesse público".
Questionados sobre os motivos para não informar à ministra Rosa Weber sobre as menções a ela nos telefonemas de Lula, os procuradores enviaram apenas uma descrição genérica. "O conhecimento de informações sensíveis só é dado às autoridades que podem ter acesso legal a elas na medida em que isso é necessário para atender o interesse público."
A força-tarefa salientou também não reconhecer as mensagens vazadas, por serem oriundas de crimes cibernéticos, mas "ainda que fossem lícitos e autênticos, não revelam absolutamente nenhuma ilegalidade."