Lava Jato escondeu informações da ministra Rosa Weber

Diálogos obtidos pelo site The Intercept apontam que procuradores temiam vazamento de informações e que ministra aceitasse argumentos da defesa de Lula

ter, 05/11/2019 - 09:23
Roberto Jayme/Ascom/TSE Ministra não foi informada que havia sido citada em telefonemas grampeados do ex-presidente petista Roberto Jayme/Ascom/TSE

Procuradores da Operação Lava Jato esconderam informações da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, ao pedir seu apoio durante investigações sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2016. As mensagens foram divulgadas pela Folha de São Paulo em parceria com o site The Intercept.

 Os diálogos mostram que a força-tarefa sabia que Lula havia mencionado Rosa Weber em telefonemas grampeados e convocado aliados para influenciá-la na decisão de uma ação. Os procuradores temiam vazamentos e que a ministra aceitasse os argumentos da defesa.

 Weber havia sido sorteada para examinar uma ação da defesa de Lula para suspender as investigações. O argumento era de que havia um conflito entre a Lava Jato e promotores de São Paulo, que também o investigavam.

 As mensagens revelam que o grampo nos telefones do ex-presidente permitiu que a força-tarefa soubesse a movimentação dos advogados e se antecipassem. O conteúdo também apresenta novos indícios da relação próxima entre procuradores e o então juiz Sergio Moro. 

 Em 26 de fevereiro de 2016, quando a ação foi protocolada, a Polícia Federal interceptou duas ligações do advogado Roberto Teixeira, sócio do escritório que defende Lula. Na gravação, Teixeira sugere que o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, hoje senador, deveria entrar em contato com Rosa Weber.

 O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, enviou a conversa da escuta telefônica para Sergio Moro, destacando os riscos da ação no STF. O atual ministro da Justiça e da Segurança Pública já havia trabalhado como juiz instrutor no gabinete de Rosa Weber durante julgamento do Mensalão em 2012. 

"Até onde tenho presente, ela é pessoa seria. Nao tem tb a tendência de entrar em bola dividida. Mas claro, tudo é possível", escreveu o juiz para Deltan. A grafia está reproduzida conforme consta nos arquivos obtidos pelo Intercept.

 O assunto foi debatido pela força-tarefa ao longo da semana. Os procuradores avaliavam conversar com a ministra, mas não queriam entrar em detalhes. "Um contato lá seria bom, mas teríamos que abrir a existência do diálogo e poderia vazar", escreveu Deltan ao procurador Júlio Noronha sobre as conversas grampeadas de Lula. "O moro pode neutralizar", apontou o procurador Januário Paludo.

Não há registro nas mensagens de que Sergio Moro tenha procurado Rosa Weber. Ele e os procuradores disseram não ter discutido o tema com a ministra, segundo a Folha.

 Em 28 de fevereiro, os procuradores discutiram a elaboração de um documento apontando as diferenças entre as investigações em Curitiba e São Paulo a ser entregue pela Procuradoria-Geral da República a Weber.

 Deltan defendeu que seria difícil contar com o apoio do procurador-geral Rodrigo Janot sem passar informações sobre o andamento da investigação e as ações previstas contra Lula.

 O coordenador da força-tarefa foi a Brasília no dia 29 e discutiu o assunto com o chefe de gabinete de Janot, o procurador Eduardo Pelella. De acordo com as mensagens obtidas pelo Intercept, Pelella levou as informações produzidas pela força-tarefa ao Supremo à tarde e as entregou ao chefe de gabinete da ministra.

 "Boa conversa com o chefe de Gabinete dela. Mas o cara é fechadão", escreveu Pelella a Deltan no Telegram após reunião no tribunal. Pouco depois, Rosa determinou que a defesa de Lula fosse comunicada das informações apresentadas pelos procuradores de Curitiba para que se manifestasse, apontando que iria esperar uma resposta para tomar uma decisão.

 O despacho foi comemorado pela força-tarefa, que ganhava mais tempo para executar ações contra o líder do PT. As buscas e a condução coercitiva de Lula foram realizadas no dia 4 de março. No mesmo dia, Rosa assinou despacho afirmando não ter encontrado indício de ilegalidade na condução das investigações e negou o pedido dos advogados de Lula.

 "Rosa weber mandou lils pastar", afirmou o delegado Márcio Anselmo, tratando Lula pelas iniciais. Duas semanas depois, Moro determinou a interceptação e levantou o sigilo das investigações, o que tornou público os telefonemas de Lula, incluindo a conversa para que procurassem Rosa Weber. 

 A força-tarefa da Lava Jato defendeu o sigilo mantido em 2016 e destacou que a proteção de informações sensíveis em casos criminais complexos é necessária "para atender o interesse público".

 Questionados sobre os motivos para não informar à ministra Rosa Weber sobre as menções a ela nos telefonemas de Lula, os procuradores enviaram apenas uma descrição genérica. "O conhecimento de informações sensíveis só é dado às autoridades que podem ter acesso legal a elas na medida em que isso é necessário para atender o interesse público."

 A força-tarefa salientou também não reconhecer as mensagens vazadas, por serem oriundas de crimes cibernéticos, mas "ainda que fossem lícitos e autênticos, não revelam absolutamente nenhuma ilegalidade."

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