Deltan Dallagnol cogitou candidatura ao Senado em 2018
Procurador também não descartou postulação em 2022. Informações são do site The Intercept Brasil
Procurador chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol cogitou ser candidato a senador em 2018 e deixou o caminho aberto para a disputa em 2022. É o que apontam as novas mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil. De acordo com a reportagem, em uma conversa consigo mesmo no aplicativo Telegram, o procurador chegou a considerar sua provável eleição e ponderou que o Ministério Público Federal (MPF) deveria "lançar um candidato em cada Estado".
Segundo a matéria, apesar de ter sido incentivado por outros procuradores, Deltan decidiu permanecer no MPF - caso fosse se candidatar ele precisaria abdicar do posto - e postergar a possibilidade para 2022.
“Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, escreveu, em 29 de janeiro de 2018, para ele mesmo.
Deltan recebeu um convite, no início de 2018, para ser candidato pelo Podemos, partido, inclusive, do senador Álvaro Dias que encerra seu mandato em 2022. Em um texto de reflexão enviado para si próprio no Telegram, o procurador se viu dividido em três pontos.
O primeiro apontava para uma fácil eleição ao Senado, onde via “circunstâncias apontando possivelmente nessa direção” e um apoio de todos da Lava Jato, mas ponderou um “risco para a Lava Jato porque muitas pessoas farão uma leitura retrospectiva com uma interpretação de que a atuação desde sempre foi política”.
“Pior ainda, pode macular mais do que a Lava Jato, mas o movimento anticorrupção como um todo, que pode parecer politicamente motivado. Por fim, a candidatura pode macular as 10+ como uma plataforma pessoal ou de Deltan para eleição, retirando aura técnica e apartidária”, pensou o procurador.
“Há ainda quem leia que uma atuação simbólica como a de Randolfe é inócua (como Josias de Souza), embora eu discorde (com Michael Mohallem). Além disso, ainda que seja algo que está no meu destino, como Joaquim Falcão disse, sair agora seria muito arriscado e não produtivo em comparação com outras opções”, emendou Dallagnol.
O segundo ponto colocado por ele para si próprio foi seguir no MPF. “Lutar pela renovação enquanto procurador: mantém a credibilidade, mas perde a intensidade que seria necessária”, avaliou. “Precisaria me dedicar bastante a isso e me programar. Para aumentar a influência, precisaria muito começar uma iniciativa de grupos de ação cidadã. Dois pilares seriam: grupos de ação cidadã em igrejas e viagens. Tem um risco de CNMP, mas é pagável, cabendo fazer uma pesquisa de campanhas públicas (de órgãos) de voto consciente, para me proteger”, acrescentou no texto.
Já o terceiro item observado por Dallagnol em janeiro de 2018 foi abandonar a carreira de procurador sem abraçar a política partidária. “Lutar pela renovação enquanto cidadão, pedindo exoneração: esta seria a solução ideal pela perspectiva da credibilidade (não seria político, mas ativista) e de intensidade (“Não vote em Fulano). Perderia um pouco de credibilidade e visibilidade, por deixar a posição pública de coordenador da operação. Não teria riscos de corregedoria. Poderia me dedicar integralmente às 10+”, calculou.
Apoio de procuradores
Ainda de acordo com o The Intercept, as primeiras conversas sobre uma eventual candidatura de Dallagnol aconteceram em 2016, entre ele o procurador Vladimir Aras. Em dezembro daquele ano, Aras disse a Dallagnol: “Você tem de pensar no Senado”. O chefe da Lava Jato agradece e o colega insiste: “Você se elege fácil e impede um dos nossos inimigos no Senado: Requião ou Gleisi caem”.
Já em 2017, outros procuradores trataram do assunto com Deltan. A procuradora Luciana Asper Valdir pergunta a ele se teria alguma chance de ser candidato ao Senado, que responde: “Eu não gostaria, sendo sincero, por uma série de razões. Não é meu perfil, é uma turbulência na vida familiar, ganha menos, tem menos férias, fica tomando pedrada na vitrine num jogo de mentiras, correria um risco grande ao me desligar do MPF, tem a questão da LJ etc. Contudo, tem muitas pessoas que respeito muito que estão incentivando, inclusive o pessoal da LJ. Hoje, descogito, e essa é a melhor resposta para quem pergunta, até para não expor o caso”.
Em setembro, durante outra conversa, Deltan chegou a observar que não descartava a candidatura, “mas não considero completamente. Jamais falaria com partido agora, seria de idiotice total”.
Ao amigo Vladimir Aras, em fevereiro de 2018, Deltan foi claro: "Pelas pesquisas, estaria eleito, mas tem muito mais coisa importante em jogo". E Aras ponderou: “acho que não haveria prejuízo à causa anticorrupção. Você ficou maior do que o cargo de procurador”.
O The Intercept disse ter solicitado nova entrevista a Deltan Dallagnol, mas foi recusada, dando resposta pela a assessoria de imprensa: “O procurador Deltan Dallagnol se lembra de ter feito reflexões sobre esse assunto, mas não vai comentar pensamentos ou cogitações de caráter íntimo. As mensagens são oriundas de crime cibernético e têm sido usadas fora do contexto para acusações falsas”.