Procuradores ironizaram morte de Marisa e luto de Lula
É o que sugerem as novas conversas divulgadas nesta terça-feira (27), a partir do conteúdo recebido pelo site The Intercept Brasil
Novas conversas atribuídas aos procuradores membros da força-tarefa da Lava Jato, divulgadas nesta terça-feira (27), sugerem que eles ironizaram a morte da esposa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marisa Letícia, o luto do petista e divergiram quanto aos pedidos de Lula, quando já estava preso, para ir ao enterro do irmão, Genival Inácio da Silva (Vavá), e do neto, Arthur Araújo Lula da Silva.
Os diálogos foram expostos em reportagem do UOL, a partir das mensagens recebidas pelo site The Intercept Brasil que vêm sendo publicadas por diversos veículos de comunicação do país desde 9 de junho.
No dia 24 de janeiro de 2017, quando Marisa Letícia sofreu um AVC Hemorrágico e foi internada, no grupo do Telegram Filhos do Januário 1, Deltan Dallagnol diz: "Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal". O procurador Januário Paludo responde: "estão eliminando as testemunhas".
Já na véspera da confirmação da morte encefálica, 2 de fevereiro, a procuradora da República Luara Tessler diz que Lula faria uso político da perda da esposa. "Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização", disse. E, no dia seguinte, com a morte anunciada oficialmente, Jerusa Viecili pergunta: "Querem que eu fique pro enterro?"
Em 4 de fevereiro de 2017, de acordo com a reportagem, é compartilhado um link com nota da colunista da Folha de São Paulo, Mônica Bergamo, sobre a agonia vivida por Marisa desde a condução coercitiva de Lula, determinada pelo juiz Sérgio Moro. E Luara Tessler refuta: "Ridículo... Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão... Ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula".
Logo em seguida, na mesma conversa, Januário questiona a causa da morte de Marisa Letícia. "A propósito, sempre tive uma pulga atrás da orelha com esse aneurisma. Não me cheirou bem. É a segunda morte em sequência", diz, sem pontuar qual seria a primeira morte.
Um pouco mais tarde, Laura Tessler cita trecho do discurso de Lula no velório e Deltan observa: "bobagem total... Ninguém mais dá ouvidos a esse cara".
O tema volta ao grupo no dia seguinte, quando o procurador Antônio Carlos Welter diz que "a morte da Marisa fez uma martir [sic] petista e ainda liberou ele pra gandaia sem culpa ou consequência política".
"O safado só queria passear"
De acordo com a reportagem, os procuradores também divergiram sobre os dois pedidos de Lula para deixar da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O primeiro para o velório do irmão, Vavá, que morreu em 29 de janeiro, e o segundo em 1º de março, com a morte do neto Arthur.
Assim que o procurador Athayde Ribeiro Costa compartilha no grupo Filhos do Januário 3 a notícia da morte de Vavá, Deltan Dallagnol observa: "Ele vai pedir para ir ao enterro. Se for, será um tumulto imenso".
Athayde responde fazendo uma ressalva para repercussão negativa de uma eventual proibição. "Mas se nao for, vai ser uma gritaria. e um prato cheio para o caso da ONU [Organização das Nações Unidas]", diz.
Em seguida, o procurador Orlando Martello afirma que é "uma temeridade ele sair. Não é um preso comum. Vai acontecer o que aconteceu na prisão". E acrescenta: "A militância vai abraçá-lo e não o deixaram voltar. Se houver insistência em trazê-lo de volta , vai dar ruim!!".
Por outro lado, o procurador Diogo Castor destaca: "tem que deixar o cara sair. Eh [sic] muito grave você não poder enterrar um irmão. Mas, enfim, respeito opiniões contrárias". "Eu também acho que tem que autorizar a saída", reforça Athayde. A discussão segue entre os procuradores até a Polícia Federal alegar que não tem condições de atender ao pedido de Lula por risco de "fuga ou resgate" do ex-presidente e, porque, o efetivo estava empenhado nos resgates dos atingidos pelo rompimento da Barragem de Brumadinho, em Minas Gerais.
No chat, Antônio Carlos Welter concorda com a PF, mas diz acreditar que Lula tinha o direito de ir ao enterro do irmão. "Eu acho que ele tem direito a ir. Mas não tem como". Januário Paludo responde: "O safado só queria passear e o Welter com pena". Na ocasião, Lula chegou a recorrer da decisão, mas quando foi autorizado o irmão já havia sido enterrado.
Em 1º de março, o quadro se repete. No grupo Filhos do Januário 4, a procuradora Jerusa Viecili compartilha a notícia da morte de Arthur, de 7 anos, e diz: "Preparem para nova novela ida ao velório". Desta vez, Lula foi autorizado pela Justiça e foi ao enterro do neto em uma aeronave cedida pelo governo do Paraná.
No velório, o ex-presidente afirmou que Arthur havia sofrido bullying na escola por ser seu neto. "Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta... vão vendo", analisou, no aplicativo de conversa, a procuradora Monique Cheker.
À reportagem, os procuradores da Lava Jato e do Rio de Janeiro citados nas conversas não se manifestaram sobre o assunto.