Dilma diz que a 'democracia foi julgada junto' com ela

Ao lado de Eduardo Cardozo, a petista disse que irá recorrer a todas as instâncias para que seja reavaliado o seu impeachment

por Thabata Alves sex, 02/09/2016 - 17:26
Roberto Stuckert Filho /PR Dilma garante que fará oposição ao governo de Temer Roberto Stuckert Filho /PR

A agora ex-presidente Dilma Rousseff (PT) concedeu entrevista à imprensa internacional direto do Palácio da Alvorada, na tarde desta sexta-feira (2). À imprensa ela reforçou que seu impeachment tem uma característica diferente, pois segundo a petista, trata-se de um “golpe parlamentar”.

“Tenho a consciência de que a democracia foi julgada junto comigo e as pessoas também têm, ao longo do tempo teremos ainda mais claro de que foi um golpe”. “Somos uma democracia jovem e ela não pode passar de que de quatro presidentes eleitos só quatro conseguiram concluir integralmente seus mandatos”, se referindo Juscelino Kubitschek, Lula, Fernando Henrique Cardozo e ela (no seu primeiro mandato).

A petista também voltou a reforçar a analogia do seu impeachment com uma árvore quando é cortada de uma só vez e quando ela sofre com fungos, sendo destruída gradativamente, além de falar do respeito às manifestações populares. “Esse golpe nosso tem uma característica muito diferente que é a do golpe parlamentar. Por isso, a ditadura funcionaria como o machado e o golpe atua como se fosse um parasita, um fungo”, disse. Ao complementar suas considerações a respeito de ser mantido o poder das diferentes posições políticas, ela afirmou: “Não é possível que não possa falar o que se quer, a exemplo do “Fora Temer”. Se eu tenho orgulho de uma coisa que nunca tivemos nada contra manifestações contrárias. Prefiro a voz rouca das ruas do que o silêncio da ditadura”.

A respeito do ex-presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Eduardo Cunha (PMDB), Dilma não mais disse que ele é o “coadjuvante” de seu impeachment. A petista agora se refere ao peemedebista como o “grande articulador” de seu afastamento permanente. Segundo ela, o deputado teria a chantageado para que deputados de seu partido votassem para ele permanecer na presidência da Casa. Isto porque, Cunha é réu na Lava Jato por contas não declaradas na Suíça e pelo recebimento de propina de contratos de navios-sonda da Petrobras.

“Ao logo de 2015, os projetos que nós mandamos para a Câmara foram negados ou aprovados integralmente. Ele não foi o coadjuvante, ele foi o grande articular do meu impeachment. Houve uma ação deliberativa de desviabilizar o meu governo. Chegou ao ponto de ter bilhões em pautas-bombas e depois foi ainda pior porque as comissões pararam. A crise é de um lado é fruto dessa tentativa de criar o ambiente favorável ao meu impeachment”, afirmou.

Ao falar do número vasto de partidos no Brasil, ela voltou a criticar Cunha. “Hoje no Brasil nós temos 35 ou 37 partidos. Aqueles como o PMDB, que era o MDB do Ulisses, você tem muitas divisões dele pelo país. Você não pode supor que os partidos sejam programáticos. É baixa a correspondência dos partidos que têm ação homogênea, tem fisiologismo, tem os interesses regionais, municipais. Temos de trabalhar o funcionamento programático dos partidos. Por que me achavam dura? porque é difícil de você ter suas convicções e ficar no toma-lá-da-cá. Cunha queria que três deputados do PT votassem a seu favor para permanecer na presidência da Câmara”, disparou.

Sobre suas pretensões políticas, a petista assegurou que ainda não amadureceu como atuará. “Eu não vou fazer planos de hoje para amanhã. Eu fiz política de várias formas na minha vida eu não fui presa por ter representação parlamentar... Eu fui uma militante sem mandato e fui presidente da República. Eu não tenho nenhum projeto muito claro hoje. Política para mim é quando eu não olho só para minha vida pessoal, para mim fazer política é pensar nos outros. Demonizar a política é característica do nazismo e do fascismo. Tenho a disponibilidade de contribuir com o povo”, destacou. No entanto, apesar de declarar que não tem um projeto político eleitoral formatado agora, ela disse que de alguma forma vai fazer “oposição ao governo Temer”, ao qual tratou anterior “governo interino e hoje ilegítimo”.

Ao lado do seu defensor, José Eduardo Cardozo, a petista frisou que vai recorrer as todas as instâncias possíveis para que seja reavaliado o julgamento do seu impeachment. Já Cardozo disse acreditar que se o Supremo Tribunal Federal (STF) for avaliar a segunda votação, que se refere aos direitos políticos de Dilma mantidos pelos senadores, é “provável” que anule as duas votações. Uma vez que, na sua análise, o senador que votou pela permanência dos direitos políticos de Dilma votou pelo impeachment mas de certo modo acreditando que não havia crime.

Mudança - Dilma ainda disse que irá se mudar para Porto Alegre na próxima semana, mas citou três cidades que deve ter como base. “Eu posso ficar em Brasília, ir para Porto Alegre e para o Rio de Janeiro, porque minha mãe mora lá. Eu devo ir na próxima semana, mas não sei exatamente que dia porque tenho muitas coisas para tirar daqui”. 

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