Campanha eleitoral 'morna' preocupa especialista
Para o cientista político Ernani Carvalho, a corrupção que se alastra no país tem um peso grande na falta de “empolgação” da sociedade em relação à disputa que se acerca
Em pleno período de campanha das eleições municipais, os candidatos estão preferindo ficar fora dos holofotes e de embates. A campanha tem sido marcada até o momento por debates sem grandes polêmicas, cautela ao criticar os adversários, agendas reduzidas e pesquisas que apontam a falta de credibilidade na política agravada pelos escândalos de corrupção. Esse é o cenário perceptível aos olhos dos cidadãos na atual disputa eleitoral que já evidencia que as eleições de 2016 serão atípicas: ruas com poucas lembranças de que faltam apenas 39 dias para a escolha de prefeitos e vice-prefeitos, que irão governar as cidades brasileiras pelos próximos quatro anos também pode ser observado.
Todo esse panorama é definido como “um novo marco” pelo cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho. Diante de todo esse quadro, ele disse que agora é a hora de ver como os “autores” irão se comportar. “A ciência política está preocupada com esse novo olhar. A reforma eleitoral é a grande novidade, pois, muda toda uma cultura, uma trajetória de financiamento de campanha que era permitia e não mais é. Doação agora somente é permitida por pessoa física como nos Estados Unidos. Nesse contexto, o trabalho da justiça eleitoral brasileira será gigantesca. As coisas se tornam mais individuais e já nota-se um comportamento diferente nas ruas nesta campanha”.
Para Ernani, outro importante peso é a corrupção alastrada no país. “Quando existe corrupção e a economia vai bem, isso não impacta tanto, porém, no caso do Brasil, a corrupção passa a ser a maior preocupação dos brasileiros. Antes, era segurança, saúde, a corrupção passou a ser o centro. Está no sentimento dos brasileiros”, afirmou.
Estratégia montada
Para Ernani Carvalho, outro ponto no qual acredita que a campanha ainda está morna é porque os candidatos, primeiro, estudam seus adversários para, depois, atacar. “É como uma luta de box. Primeiro, se analisa, depois esquenta. Os candidatos esperam ver quem ataca primeiro, além disso, existe outro fator: eles observam as possibilidade de irem para um segundo turno, possíveis alianças e calculam ações a serem seguidas. Não se pode sair atacando sem uma estratégia montada. São cálculos prematuros ”, explicou.
Sentimento negativo
O cientista ainda declarou que a política é mal vista entre a população. “As pessoas não querem que seus filhos sejam políticos. Querem que sejam advogados, juízes. Me parece que é uma situação tipicamente brasileira. Majora esse sentimento negativo em relação aos políticos, mas, acredito que o momento atual irá passar. Não podemos prescindir desse sistema de democracia. Se tiramos o sistema, o que sobra é a violência e a violência não resolve nada e não se pode generalizar o comportamento dos políticos”, acrescentou.
Carvalho ainda disse nestas eleições pode haver mais novidades. “Existe um grau de incerteza muito alto sobre as eleições gerais. Será uma disputa muito acirrada”, finalizou o cientista.