Em carta, Renata agradece homenagem a Campos

A viúva do ex-governador deixou a cargo de Paulo Câmara ler o texto da solenidade em Brasília

por Élida Maria qua, 10/06/2015 - 19:04
Humberto Pradera/Divulgação Paulo Câmara recebeu a homenagem em nome da família de Campos Humberto Pradera/Divulgação

Com quase três laudas de texto, a viúva do ex-governador Eduardo Campos, Renata Campos, emitiu uma carta em agradecimento pela homenagem feita pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que concedeu – In Memoriam – o titulo de Doutor Honoris Causa a Campos. Lida pelo governador Paulo Câmara (PSB) nesta quarta-feira (10), em Brasília, a carta relata a história do ex-gestor estadual e dá sinais de continuidade de sua atuação política.

Confira o texto de Renata Campos na íntegra:

“Senhoras e Senhores,

Em primeiro lugar, quero agradecer, em meu nome e no da minha família, a honrosa homenagem de Concessão do Título de Doutor Honoris Causa que neste momento está sendo prestada a Eduardo pelo Instituto Brasiliense de Direito Público – IDP.

Em sua brilhante trajetória, Eduardo deixou marcas profundas na cena política, na cultura de gestão pública brasileira – ainda em formação – e, principalmente, na memória do nosso povo. E estas marcas devem ser sempre valorizadas pelo que contêm de lição para o presente e de encaminhamentos para a construção de um futuro melhor para nosso País e o nosso povo.

Eduardo trouxe para a administração pública valores fundamentais para a sociedade que dela tinham estado ausentes. Entre os mais importantes, o dever de ser eficiente e a exigência de que os serviços que se prestam à população tenham qualidade e atendam ao interesse dos mais pobres – justamente aqueles que mais precisam do Estado.

Eduardo defendia que o chamado ”risco Brasil” não era mais puramente econômico. Para ele, verdadeiramente arriscado era o Brasil ter uma Educação falha, inconsistente, insuficiente. Risco para o Brasil é termos uma escola que não funciona, que não tem estrutura nem profissionais valorizados,condição fundamental para qualificar o povo brasileiro para o grande desafio de se afirmar no contexto global.

Ele também considerava importantes a formação superior e a pesquisa e a inovação para o desenvolvimento do país. Como ele mesmo dizia, “nos últimos anos, o Brasil já aprendeu a transformar dinheiro em pesquisa e pesquisa em conhecimento. E agora está aprendendo a transformar conhecimento em qualidade de vida para as pessoas. Contudo, é preciso compreender a produção do conhecimento e o próprio conhecimento não como um fim em si mesmo, mas como algo que em última instância deve, acima de tudo, servir à humanidade“. 

Por alimentar tal convicção, Eduardo fez tudo o que estava ao seu alcance para mudar esta realidade. Como Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia no governo do presidente Lula, ele quintuplicou o orçamento da pasta, desenhou estratégias e fixou metas para a formação de mestres e doutores, assim como trabalhou para expandir as universidades federais para o interior. Ainda como Ministro, usou sua liderança e habilidade política para aprovar, no Congresso Nacional, leis de fundamental importância para o País. Entre elas, a Lei da Inovação, que faz a universidade dialogar com o mundo da produção, bem assim a lei que libera pesquisa científica com células-tronco embrionárias, outro marco para o desenvolvimento cientifico no Brasil. 

Como governador, Eduardo transformou a educação pública de Pernambuco, implantando a maior rede de escolas em tempo integral do Brasil, dezenas de escolas técnicas e programas como o Ganhe o Mundo, que oferece oportunidade a jovens de escola pública – escolhidos por mérito - de fazerem intercâmbio no estrangeiro, exatamente como fazem os filhos da classe média.

No nível Superior, multiplicou os campi e os cursos da Universidade de Pernambuco pelo interior e ainda tornou-a pública e gratuita para os milhares de jovens pernambucanos que a frequentam. Para estimular a pesquisa e a inovação, deu à Fundação de Apoio à Ciência do Estado, a Facepe, mais de cem milhões de reais por ano para financiar pesquisas e formar mestres e doutores.

Pelo que aqui foi dito pode-se perceber o quanto Eduardo ficaria feliz com este reconhecimento. E para expressão deste sentimento, nada melhor do que ouvir um pouco do discurso que pronunciou numa situação semelhante, quando foi distinguido com o título de Doutor Honoris Causa pela nossa Universidade Federal Rural de Pernambuco. 

Disse ele:

'Foi entre 2004 e 2005, quando passei a me relacionar com a Academia como ministro da Ciência e Tecnologia, que tive a honra de discutir e encaminhar com toda a comunidade científica programas de extrema relevância para o desenvolvimento do País, como a reestruturação do programa espacial brasileiro e do programa nuclear, a criação do programa de Biossegurança, que permitiu as pesquisas com células-tronco, e a Lei de Inovação Tecnológica, que inaugurou uma nova era nas relações entre empresas, universidades e instituições de pesquisa.

No Ministério desenvolvemos uma política nacional de ciência e tecnologia, junto com a comunidade científica, apoiada em três princípios básicos. Primeiro, é preciso apoiar a ciência no sentido mais amplo da palavra, como produtora de conhecimento para toda a sociedade. Relacionar esse conhecimento com uma política industrial ampla e aos setores estratégicos para o País. Além de promover, a partir da ciência e da tecnologia, a inclusão social.

E trabalhamos paras colocar a Academia na rua e levar o povo para dentro da Academia. A Universidade deve estar presente e atenta às necessidades e vocações econômicas de cada região. 

Além de uma vasta produção de conhecimento voltada à sociedade e à comunidade que a cerca, a Universidade tem também grande importância para a economia do futuro, apoiada no conceito de sustentabilidade, que alia desenvolvimento, preservação do meio ambiente e inclusão social. É preciso encarar essa construção do conhecimento como agente transformador da realidade. 

Tudo o que aprendemos sobre o mundo que nos cerca pode ser descrito como a crônica da imperfeição humana. Nunca saberemos o suficiente e nunca teremos nossa sede de saber saciada de todo. 

E, no entanto, não podemos sufocar o nosso desejo de aprender, de compreender e de lutar para fazer esse mundo uma morada melhor. As ciências sociais nos ensinam a nos entender e nos complementar uns aos outros. As ciências chamadas de duras nos habilitam a domar a natureza, respeitando-a e preservando seus recursos. As ciências médicas alongam nossas vidas e nos preparam para desfrutar a arte de viver.

Vocês, homens e mulheres que fazem o dia a dia desta grande casa do saber, são nossos parceiros e nossos guias nesta viagem tão dura quanto bela em direção ao conhecimento pleno. Ter sido distinguido por vocês, como estou sendo neste momento, é uma honra e uma grande responsabilidade. 

Emocionado pela homenagem e confiante na minha disposição para encarar o desafio de merecê-la e dignificá-la, agradeço comovido.'

Portanto, Senhoras e Senhores, reafirmo nossa gratidão pela homenagem.

Iniciativas como esta lançam luz sobre tudo de bom que se faz na política e na gestão pública brasileira, oferecendo ao país, principalmente às novas gerações, outros exemplos, diferentes daqueles que, para nosso desgosto, nos oferecem cotidianamente os noticiários.

Particular agradecimento ao eminente Ministro Gilmar Mendes e ao Professor Doutor Paulo Gonet Branco, também pela realização deste importante V Seminário Internacional de Direito Administrativo e Administração Pública.

Tenho confiança de que o sentimento que movia Eduardo na sua luta por um Brasil mais justo e solidário haverá de animar ainda muitas gerações para que o seu sonho possa ser realizado e possamos ser uma nação efetivamente próspera, solidária e generosa como nosso povo.

Abraço fraterno a todos e todas.

Renata Campos”

 

COMENTÁRIOS dos leitores