Youssef confirma R$ 10 milhões para abafar CPI

Doleiro negou que tenha passado por ele remessas de dinheiro a Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Ele presta depoimento no Paraná, onde está preso desde março do ano passado

seg, 11/05/2015 - 11:30

O doleiro Alberto Youssef abriu seu depoimento aos parlamentares da CPI da Petrobras, em Curitiba, base das investigações da Operação Lava Jato, nesta segunda-feira (11) falando sobre o pagamento de R$ 10 milhões para abafar as investigações de outra comissão parlamentar em 2010, que apurava irregularidades na estatal - e envolveu suposta exigência do ex-presidente do PSDB Sergio Guerra, morto em 2014.

"Em 2010, fui cobrar a empreiteira Queiroz Galvão para que ela pudesse pagar seus débitos na diretoria de Abastecimento da Petrobras e fui informado que eles teriam repassado R$ 10 milhões a pedido do Paulo Roberto Costa", afirmou Youssef, em uma das primeiras respostas dadas em questionamento feito pelo relator da CPI, deputado Luiz Sergio (PT-RJ).

Youssef afirmou também que havia anuência do Palácio do Planalto com o esquema que operava para o PP dentro da Petrobras. Ele relatou que "em determinado momento, houve um racha no Partido Progressista". "Essa situação foi parar no Palácio (do Planalto). Paulo (Roberto Costa, ex-diretor da estatal) deixou claro para Nelson Meurer (PP-PR) que o Palácio tinha que indicar um interlocutor", disse o doleiro à CPI.

Perguntado, Youssef disse que os pontos de contato com o Planalto eram os ministros Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais, e Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência. "Em 2012 ou 2011 houve um racha no Partido Progressista e foi motivo de discussão entre líderes governistas, onde houve queda do Nelson Meurer. O Arthur de Lira assumiu a liderança do partido. Isso foi discutido tanto pelo líder Nelson Meurer como pelo Arthur de Lira e Ciro Nogueira, como foi discutido com Gilberto Carvalho e Ideli. Paulo Roberto Costa deixou claro que esse assunto teria que chegar através do Palácio a quem ele iria se reportar", respondeu Youssef ao ser questionado pelo deputado federal Bruno Covas (PSDB-SP).

Youssef disse que, em sua opinião, o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff também sabiam do esquema, mas o doleiro afirmou que não teria como confirmar a informação.

Cunha e Renan

Alberto Youssef esclareceu que não pode confirmar a remessa de dinheiro da OAS para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Recebi da OAS para que fosse entregue o recurso nesse endereço. Não sabia quem era morador dessa residência", disse Youssef aos parlamentares. "Eu recebia o endereço, o local, a cidade e quem iria receber", disse Youssef ao argumentar que eram comum o procedimento de entregar sabendo o nome apenas do intermediário e não do destinatário final dos recursos desviados.

Youssef repetiu que quem fez a entrega foi o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca. Sobre o depoimento de Careca, que implicou Cunha e Antonio Anastasia (PSDB), o doleiro disse não saber se é verdade. "Não tenho ideia. Não sei se ele inventou nomes, porque quem foi ao endereço foi ele."

Youssef foi confrontado pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que disse que o doleiro não estava sendo verdadeiro. Valente argumentou não ser possível ele lembrar de nomes de quem teria recebido pelo PT, citando a cunhada de João Vaccari, Marice, e não lembrar o nome do recipiente na casa de Cunha. "Deputado, alguns eu lembro, outros não lembro", respondeu Youssef.

Youssef disse não conhecer pessoalmente Cunha nem ter repassado diretamente recursos. O doleiro disse também não conhecer ou ter feito repasses diretamente ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele, contudo, disse ter feito repasses para Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, que seria o operador do PMDB no esquema.

O doleiro reafirmou repasses destinados a lideranças pepistas, como o ex-ministro Mário Negromonte, o senador Ciro Nogueira e o deputado Aguinaldo Ribeiro.

Propina PT e PP

Youssef disse ainda que PT e PP dividiram uma propina de R$ 6 milhões que teria sido paga a uma agência, a Muranno Marketing Brasil, em 2010, a pedido do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. "O Paulo Roberto Costa passou para que eu procurasse a Muranno e outra agência para que pagasse", explicou Youssef, ouvido no Paraná, onde está preso desde março do ano passado.

Youssef já havia relatado esse capítulo do esquema de corrupção na Petrobras em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, em 2014. Segundo o doleiro, o valor pago para a Muranno foi uma ordem do ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli, que teria sido acionado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Youssef revelou ainda que quase a totalidade dos R$ 7 milhões que a Muranno e outra agência de publicidade do Rio tinham a receber foi paga com dinheiro de propina. Segundo ele, quem pagou a parte do PT foi o lobista Julio Camargo, representante no Brasil do Grupo Mitsui. "Em determinado momento, Julio Camargo fez os repasses da parte da conta do PT."

Segundo ele, "o doutor Paulo Roberto disse que o total foi R$ 6 milhões e pouco e o PT teria que dividir, R$ 3 milhões era o PT que pagaria e R$ 3 milhões era o PP". A Muranno apareceu no rastreamento de valores da empresa MO Consultoria, uma das usadas na lavanderia de Youssef. Os delatores explicaram que o valor era referente a uma extorsão que seria feita pelo dono da Muranno, Ricardo Villani, para que valores atrasados a receber da Petrobrás fossem pagos.

A Muranno prestou serviços para a Petrobrás, em provas da Fórmula Indy, nos Estados Unidos sem contrato. De R$ 7 milhões que ela teria a receber, parte não foi paga e o dono estaria cobrando o pagamento.

Palocci e Vaccari

O doleiro negou conhecer o ex-ministro Antonio Palocci ou qualquer assessor dele, assim como ter repassado R$ 2 milhões a Palocci para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. "Não conheço Antonio Palocci. Ele nunca me fez nenhum pedido para que angariasse recurso para campanha de 2010 de Dilma Rousseff", disse o doleiro aos deputados. Youssef disse que Paulo Roberto Costa não mente necessariamente, mas pode estar equivocado. "Não digo que seja mentira, pode ser que outra pessoa tenha pedido esse recurso a ele e ele tenha viabilizado esse recurso através de outra pessoa", disse reforçando que o suposto repasse não passou por ele.

Youssef repetiu partes de seus depoimentos que contrariam a defesa do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Ele afirmou que encontrou pessoalmente com Vaccari em restaurantes e disse que, em 2014, o então tesoureiro foi pessoalmente a seu escritório, mas em um momento em que não estava presente para recebê-lo. O doleiro reafirmou também ter entregado pessoalmente remessa de R$ 400 mil para a cunhada de Vaccari, Marice Lima, e ter feito outra entrega em dinheiro no diretório do PT.

Comissão

Integrantes da CPI da Petrobrás desembarcaram em Curitiba para ouvir os depoimentos de 13 acusados de envolvimento no esquema de cartel e corrupção na Petrobras, que estão presos. Entre eles os ex-deputados André Vargas (ex-PT, hoje sem partido), Pedro Corrêa (PP) e Luiz Argolo (ex-PP, hoje no SD). Youssef é o primeiro a ser ouvido nesta manhã de segunda-feira, por um grupo de 14 deputados federais da comissão, que tem audiências marcadas até esta terça-feira, 12.

Estão marcados para hoje os depoimentos do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano ligados ao PMDB no esquema de loteamento político na estatal, que envolvia ainda PT e PP. de Mário Góes, de Guilherme Esteves e de Adir Assad, outros três lobistas acusados de operarem propina na Diretoria de Serviços - que era cota do PT - também estão nessa lista.

Nesta terça (12), serão ouvidos os depoimentos dos ex-deputados. Eles estão na carceragem do Centro Médico Prisional, na Região Metropolitana de Curitiba. Os interrogatórios serão realizados no auditório da Justiça Federal, em Curitiba. Um grupo de 14 deputados já estão na capital paranaense para início dos interrogatórios.

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