Doleiro diz que pagou propina de R$ 2 mi destinada a Cunha
O doleiro Alberto Youssef, personagem central da Operação Lava Jato, declarou à força tarefa do Ministério Público Federal que o lobista Julio Camargo pediu propina que seria destinada ao deputado Eduardo Cunha (PMDB/RJ), presidente da Câmara. Em depoimento gravado em vídeo o doleiro afirmou que a propina teve origem em um contrato de locação de sondas para a Petrobras do qual Camargo participou. Ele disse que o dinheiro foi entregue diretamente ao lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, suposto operador do PMDB na estatal petrolífera e muito próximo ao presidente da Câmara.
O deputado Eduardo Cunha tem reiterado que jamais recebeu dinheiro ilícito de negócios de empreiteiras com a Petrobras. O peemedebista disse que conhece Fernando Baiano, mas que nunca trataram de pagamento de propinas. Cunha afirma que o Ministério Público Federal "selecionou" quem deve ser investigado no âmbito da Operação Lava Jato.
"Eu não tive contato com Eduardo Cunha, eu não mandei recurso diretamente ao Eduardo Cunha", declarou Youssef, que atribuiu ao lobista Julio Camargo a citação ao nome do presidente da Câmara.
Julio Camargo representava uma empreiteira na Petrobras. Ele também fez delação premiada e apontou como operava o esquema de corrupção na estatal. "Ele (Julio Camargo) me relatou que, em determinado momento, a Samsung deixou de pagar ele e ele deixou de passar esses valores ao Fernando Soares", disse o doleiro no depoimento gravado. "Por conta disso, tinha sobrado um saldo. E o Fernando Soares, para pressionar a pagar, colocou no caso o Eduardo Cunha para que fizesse uma representação perante uma comissão da Câmara, pedindo informações da vida inteira do Julio Camargo, da Toyo, que ele representava, e da Mitsui na Petrobras. E que eu ajudasse ele a resolver o problema com o Fernando Soares."
Youssef disse ter ouvido que o presidente da Câmara "estaria pressionando via Câmara, via Comissão". Dois deputados do PMDB queriam feito esse pedido sobre a Petrobras perante a Câmara. Youssef disse que "o Julio saiu pedindo ajuda para todo mundo".
Nesse trecho de seu relato, o doleiro citou o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e João Cláudio Genu, ex-assessor do ex-deputado José Janene (PP/PR), que morreu em 2010.
"(O Julio) pediu ajuda para mim, para o Paulo Roberto. O Paulo Roberto, inclusive, pedia para que eu cobrasse o Julio, referente a essas sondas, US$ 1,5 milhão, que o Julio tinha ficado devendo a ele. E também o Genu pedia que eu cobrasse o Julio Camargo US$ 500 mil pelo aluguel dessa sonda, que também o Julio tinha ficado devendo a eles."
Youssef contou que este assunto "é um dos motivos da sua discórdia com a declaração nos termos (depoimentos da delação) do Julio Camargo". "Ele diz que repassou a mim R$ 11,3 milhões para que eu repassasse esse valor ao Fernando Soares imediatamente. Não foi isso que aconteceu. Aconteceu, sim, um pagamento ao Fernando Soares, mas foi US$ 2 milhões, que ele (Julio Camargo) me depositou. Eu fiz esse pagamento diretamente ao Fernando Soares, no escritório do Fernando Soares."
"Determinado dia, o Julio Camargo me telefona pedindo que eu fosse ao escritório dele, que ele precisava ter uma conversa comigo. Eu fui e quando eu cheguei no escritório eu até estranhei porque o doutor Julio dá aquele chá de banco na gente de 1 hora, 2 horas pra você ser atendido, quando não era de interesse dele. Como era de interesse dele, ele estava me aguardando e me atendeu de prontidão."
O doleiro declarou: "Ele (Julio Camargo) me relatou, eu estou dizendo da boca dele, por isso eu não posso afirmar. Eu não tive contato com Eduardo Cunha, eu não mandei recurso diretamente ao Eduardo Cunha. Eu vou reportar o que o Julio Camargo me passou. Ele tinha feito um aluguel de sondas. O Paulo Roberto Costa participou, o João Genu participou, o Fernando Soares participou, entre Samsung, Mitsui e a área internacional da Petrobras."
Cartel
Alberto Youssef apontou algumas empreiteiras, como a OAS e a UTC, sob suspeita de integrarem o cartel da Petrobras. "Eu fazia caixa 2 tanto da OAS quanto da UTC. Não na totalidade, mas alguns valores. Muitas vezes a OAS ou a UTC mandavam dinheiro para o Rio de Janeiro, para entregar em alguns endereços. Eu repassava esses endereços ao Jayme ou ao Rafael ou ao Adarico (Jayme Careca, agente da Polícia Federal, Rafael Ângulo e Adarico Negromonte são apontados como carregadores de malas do doleiro). Nesses endereços nunca foi especificado que valores era para entregar a Eduardo Cunha ou alguém ligado a ele. O Jayme (Careca), quando esteve preso aqui na carceragem perguntou para mim se eu lembrava dele ter entregue algum dinheiro ao Eduardo Cunha. Eu disse que não, que quem tinha de saber era ele. Quem ia nos endereços era ele (Jayme Careca). Ele me perguntou se uma casa amarela assim, assim, era do Eduardo Cunha. Eu falei: 'não sei'. Não sei se ele mora numa casa amarela, num condomínio. Quem tem que saber é você. Antes de dar qualquer declaração, ir lá no endereço, na portaria do condomínio, se certificar de quem é a casa e depois dar a declaração."