Restos mortais de Jango chegam a Brasília
Cerimônia com honras militares foi realizada na Base Aérea de Brasília. Exumação visa constatar causa da morte
Os restos mortais do ex-presidente João Goulart chegaram nesta quinta-feira (14) a Brasília, onde foi realizada uma solenidade com honras de Chefe de Estado, cerimônia que não pôde ser realizada na época da morte de Jango. A exumação tem o objetivo de realizar exames periciais para constatar a causa da morte do ex-presidente.
A homenagem póstuma com honras militares compreendeu, entre outros aspectos, salva de 21 tiros, execução do hino nacional e condução do esquife com os restos mortais por militares até a Base Aérea de Brasília, local onde foi prestada a homenagem. Além da presidente Dilma Rousseff, estiveram presentes os familiares de Jango, como a ex-esposa Maria Tereza Goulart, e várias autoridades, como os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Lula.
Mais cedo, antes da cerimônia, Dilma ressaltou a importância da cerimônia, em postagem no Twitter. "Hoje é um dia de encontro do Brasil com a sua história. Como chefe de Estado da República Federativa do Brasil participo da recepção aos restos mortais de João Goulart, único presidente a morrer no exílio, em circunstância ainda a serem esclarecidas por exames periciais. Este é um gesto do Estado brasileiro para homenagear o ex-presidente João Goulart e sua memória. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove hoje com a memória de João Goulart é uma afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com este gesto histórico", considerou no microblog.
Biografia
João Belchior Marques Goulart nasceu em 1º de março de 1919, em São Borja (RS). Ele foi deputado estadual (RS), deputado federal, Secretário de Estado de Interior e Justiça (RS), Ministro do Trabalho e duas vezes vice-presidente. Em agosto de 1961, Jango tornou-se Presidente da República, cargo que ocupou até 31 de março de 1964, data do golpe de Estado.
Deposto, ele refugiou-se no RS e depois partiu para o exílio no Uruguai e na Argentina, onde faleceu em 6 de dezembro de 1976. A causa oficial da morte foi um ataque cardíaco, mas a família de Jango nunca se convenceu por acreditar que o governo de Ernesto Geisel tenha envenenado o ex-presidente. Essa suspeita foi reforçada por um militar uruguaio que afirmou que os remédios para problemas cardíacos, tomados regularmente pelo ex-presidente, foram trocados por veneno. A expectativa é de que os exames possam ser anexados a documentos e testemunhos na investigação sobre o óbito de Jango.
O processo de exumação foi iniciado em 2007, por iniciativa de familiares. Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em maio de 2012, foi criado um grupo de trabalho que vem coordenando as investigações em torno da morte de João Goulart. O trabalho é feito, de forma conjunta, pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e pela CNV.
A exumação durou 18 horas, no Cemitério Jardim da Paz, na cidade de São Borja (RS), e foi encerrado as 2h desta quinta-feira. O trabalho envolveu 12 profissionais do Brasil, Argentina, Cuba e Uruguai. O médico João Marcelo Goulart, neto do ex-presidente, teve participação efetiva em todo o procedimento.
Os restos mortais permanecem na capital federal até o dia 6 de dezembro, quando serão levados novamente para São Borja, onde serão enterrados também com honras militares. Algumas amostras serão coletadas no Instituto Nacional de Criminalística, em Brasília, para exames periciais. Também serão feitos exames toxicológicos em laboratórios de outros países. Não há previsão para a divulgação dos resultados.