'Nada deixará de ser apurado', diz Gurgel sobre Valério
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou na manhã desta quarta-feira (19) que "nada deixará de ser apurado" em relação ao depoimento prestado em setembro pelo empresário Marcos Valério e revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo na semana passada. Valério disse ao Ministério Público Federal que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve despesas pessoais pagas com recursos do esquema do mensalão. Ele afirmou ainda que Lula deu aval para os empréstimos simulados tomados pelos bancos BMG e Rural que abasteceram a compra de apoio político no Congresso.
Roberto Gurgel disse que, com o fim do julgamento do mensalão, vai analisar "em profundidade" o depoimento de Valério. Segundo ele, "com muita frequência" o empresário "faz referência a declarações que ele considera bombástica". Contudo, destacou, quando são examinadas as falas, "não é bem isso". "Mas vamos ver o que existe no depoimento que possa motivar futuras investigações. Como sempre, nada deixará de ser investigado", afirmou Gurgel, na chegada à última sessão plenária do Supremo Tribunal Federal (STF) no ano.
O chefe do Ministério Público Federal disse que uma eventual investigação contra Lula não ficaria a cargo nas mãos dele, uma vez que o ex-presidente não detém foro privilegiado. Gurgel disse que o que estiver relacionado ao ex-presidente será encaminhado à Procuradoria da República de primeiro grau, podendo ficar em Brasília ou São Paulo, dependendo do conteúdo. Ele negou que tenha havido um segundo depoimento prestado recentemente.
O procurador-geral afirmou que Valério entregou "alguns documentos, muito poucos". Esse material, de acordo com ele, será analisado para verificar sua autenticidade e quais providências podem ser tomadas para uma eventual apuração. Gurgel exemplificou que o empresário entregou dois comprovantes de depósitos, o que levará a uma verificação sobre os beneficiários dos repasses e em que contexto a transação ocorreu. "Tudo isso, enfim, tem que ser aprofundado para que a atuação do Ministério Público seja responsável e com objetivo de tudo apurar", observou.
Roberto Gurgel disse ter ficado "extremamente satisfeito" com o fim do julgamento do mensalão, ocorrido na segunda-feira. "Foi um esforço imenso de todos do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal e, felizmente, com um resultado excelente", destacou. Dos 37 réus na ação, a Corte condenou 25, dentre os quais o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares.