Russos são condenados à prisão por poema hostil
Milhares de russos, opositores ou cidadãos comuns, foram condenados pela Justiça por criticar a ofensiva na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, às vezes com penas especialmente severas
Um tribunal de Moscou condenou, nesta quinta-feira (28), a penas de cinco anos e meio a sete de prisão, dois poetas russos que participaram de uma leitura contra o conflito na Ucrânia, em mais um exemplo da repressão contra dissidentes no país.
Milhares de russos, opositores ou cidadãos comuns, foram condenados pela Justiça por criticar a ofensiva na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, às vezes com penas especialmente severas.
Segundo comprovou um jornalista da AFP presente na audiência, os simpatizantes de Artiom Kamardin, de 33 anos, e de Yegor Shtovba, de 23, gritaram "Que vergonha!" quando a decisão foi anunciada.
"É de uma arbitrariedade absoluta", exclamou o pai de Artiom Kamardin, Yuri. "Todo mundo é igual perante a lei, mas alguns são mais iguais que outros", ironizou sua mãe, Elena.
Após o julgamento, ao menos dez pessoas foram detidas pela polícia em frente ao tribunal.
Artiom Kamardin e Yegor Shtovba foram detidos em setembro de 2022 após participarem de uma leitura pública em Moscou, perto do monumento ao poeta Vladimir Maiakovski, ponto de encontro de dissidentes desde a época soviética.
Nesta leitura, Kamardin declamou um poema, "Mate-me, miliciano", muito hostil ao separatistas do leste da Ucrânia.
- "Sete anos por uma poesia" -
No dia seguinte, foi detido durante uma batida em sua casa, na qual afirma ter sido agredido e violentado pelos policiais com um aparelho de halterofilismo.
Os dois poetas foram primeiro acusados de "incitação ao ódio", e depois, também indiciados por "chamado público a cometer atividades contra a segurança do Estado".
"Não sou um herói e ir para a prisão pelo que penso nunca esteve nos meus planos", disse Kamardin em suas alegações finais perante a corte, publicadas no Telegram por seus simpatizantes.
O réu pediu ao juiz que o deixasse "voltar para casa" e, em troca, prometeu se distanciar de qualquer "tema sensível".
Sua esposa, Alexandra Popova, disse à AFP estar indignada com a pena "tão severa" imposta a seu marido. "Sete anos por uma poesia, um delito não violento...", afirmou.
"Se tivéssemos tribunais normais, esta situação não aconteceria", acrescentou, antes de ser levada pela polícia juntamente com um amigo do poeta e dois jornalistas.
Três pessoas, incluindo um jornalista, continuavam detidas na noite desta quinta-feira antes de uma visita judicial, acusadas de participar de um comício, segundo o veículo de comunicação independente Sota.
A advogada do jornalista havia informado horas antes que os detidos foram acusados de "alteração da ordem pública" e podem pegar 30 dias de prisão.
Durante seu julgamento, Shtovba, condenado a cinco anos e meio de prisão, insistiu em que não violou a lei.
Um terceiro poeta, Nikolai Daineko, detido ao mesmo tempo que os dois primeiros, foi condenado, por sua vez, a quatro anos de prisão em maio, segundo a OVD-info.
O Ministério alemão das Relações Exteriores condenou o veredicto e lamentou que a liberdade de expressão esteja "sufocada" na Rússia.
Há anos, o poder russo reprime as vozes críticas, e a campanha se intensificou desde o início da ofensiva militar na Ucrânia.
Segundo o OVD-Info, cerca de 20.000 pessoas foram detidas na Rússia por sua oposição ao conflito na Ucrânia desde fevereiro de 2022.
A ONG Memorial tem contabilizados 633 presos políticos atrás das grades.