Aracruz: professoras sobreviventes relatam o ataque
Algumas professoras sobreviventes relataram os momentos de terror vivido no ataque
Sobreviventes do atentado a duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixou quatro pessoas mortas e 12 feridas relataram ao Uol como foram os momentos de tensão e desespero de quando o atirador de 16 anos entrou nas escolas.
A professora de biologia Jessica Conceição Perini, de 31 anos, foi uma das sobreviventes da primeira escola invadida, a Escola Estadual Primo Bitti, e desabafou que sentiu “como se Deus tivesse me dado uma segunda chance”.
Ela, que levou um tiro de raspão na cabeça e só percebeu depois, relatou ter ouvido disparos e, ao olhar para trás, percebeu que o atirador se aproximava pela porta dos fundos. “Era como se fosse um cenário de guerra. Quando virei para correr senti algo passando por cima da minha cabeça. O tiro passou de raspão, mas não percebi, porque não senti a dor”, relatou ao Uol.
Jessica disse ter se jogado sobre o sofá durante o ataque, e achou que morreria ali mesmo. “Ele [o atirador] estava ali para matar mesmo. Imaginei que não sairia dali viva. Só fechei os olhos e esperei que os tiros chegassem em mim, só que isso não aconteceu. Orava a Deus enquanto ouvia os disparos”, lembrou.
A professora de biologia detalhou só ter percebido o tamanho da tragédia quando viu que todas as professoras ao lado dela estavam baleadas e, entre elas, Cybelle Bezerra e Flavia Merçon, que morreram na hora. Elas foram sepultadas no Cemitério Jardim da Paz, na Serra, no domingo (27).
“Olhei em volta e vi quem estava perto, havia sido atingido. Eu estava bem perto da Cybelle e da Flavia. Foram cenas de terror, que voltam toda a hora na minha memória. Senti uma tristeza profunda, porque perdi amigas queridas. Mas tive uma segunda chance. Ficou uma lição de viver o hoje. Já abracei quem eu tinha que abraçar. Esse episódio fortaleceu ainda mais a minha fé”, contou ao Uol.
Jessica procurou atendimento médico após ter sido alertada por alunos sobre o tiro de raspão na cabeça, mas o ferimento foi superficial e não precisou de curativo. “Se o tiro tivesse sido um pouco abaixo, eu não estaria aqui para contar a história. As cinco professoras que estavam perto de mim foram baleadas. Foi um milagre eu não ter sido atingida, porque estava desprotegida”.
Uma outra professora ouviu os tiros de longe e fugiu junto com alguns alunos. De acordo com Marlene Fernandes Barcelos, houve uma palestra sobre empreendedorismo na escola no dia do atentado e ela estava afastada da sala dos professores quando ouviu os disparos, porque se despedia dos palestrantes. “Quando percebi que era tiro, já corri e pedi que o guarda abrisse o portão para os alunos saírem. Falei: sai que é tiro. Aí, os alunos correram. Alguns até pularam o muro da escola. Consegui fugir com eles. Nós sobrevivemos”, disse ao Uol.