Black Money: Compre de preto, venda para todos

Movimento busca fortalecer a comunidade preta e fazer o capital financeiro girar entre eles

dom, 20/11/2022 - 09:00
Arnaldo Carvalho/Divulgação Nina Silva é CEO do Black Money Arnaldo Carvalho/Divulgação

Compre de preto e venda para todos. Podemos dizer que esse é um dos pilares do movimento Black Money, que busca fortalecer os afroempreendedores e fazer o capital girar entre as pessoas pretas o máximo de tempo. Além disso, é uma iniciativa que fortalece a comunidade preta, capacitando e instrumentalizando jovens autônomos, com geração de emprego, ampliação de renda e fomento do crédito.

Nina Silva é CEO do Black Money, um hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital junto a transformação do ecossistema empreendedor negro, com foco em comunicação, educação e geração de negócios. Ela detalha que o movimento é o apoio mútuo entre as pessoas pretas dentro do sistema capitalista que vivemos. “A gente atua e sobrevive enquanto a manutenção do capital. Nada seria diferente também na manutenção das vidas e da possibilidade de prosperidade de pessoas pretas”, diz. 

A CEO confirma ainda que o movimento com “m minúsculo”, é um movimento de apoio para fazer com que o capital, seja ele financeiro, social ou intelectual de pessoas pretas, seja inserido intencionalmente no esforço e progresso de outros negros. “Quando a gente bota o movimento com 'M maiúsculo', que é a institucionalização, a gente data de cinco anos, que foi o intuito dentro da minha ideologia e também o meu amor a tecnologia junto ao meu sócio Alan Soares, que já atuava também pensando na emancipação da autonomia das pessoas pretas no Brasil”, destaca.

No e-book disponibilizado pela instituição Black Money, é detalhado que os afroempreendedores possuem o crédito 3x mais negado do que um não negro. Além disso, as pessoas pretas, em sua maioria, têm como origem empregos de baixo salário, onde ficam impossibilitados de construir reserva de capital. 

Um estudo da consultoria IDados, publicado no ano passado com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que cerca de 30 milhões de brasileiros que recebem apenas um salário mínimo, quase 20 milhões são negros, o que representa 43,1% dos negros ocupados até setembro do ano passado.

Para tentar melhorar a realidade dos afroempreendedores, o movimento Black Money, enquanto instituição, consegue atuações locais com os cursos e apoios específicos aos afroempreendedores. “A gente acabou de acelerar 120 negócios no país, onde cerca de um terço desses negócios eram da região Nordeste”, assegura Nina Silva, que já conseguiu impactar com o seu movimento cerca de mil negócios liderados por negros. 

Nina também facilita a ponte dos empreendedores pretos junto com empresas que estão alinhadas à luta antirracista. “Essas alianças precisam ser feitas de maneira muito horizontal. Nosso intuito, para além de colocar colaboradores em grandes empresas, é fazer com que essas pessoas entrem no mercado de tecnologia de igual pra igual com não negros. Não adianta só essas empresas nos procurar porque precisam fazer um movimento reparatório de ter pessoas pretas no seu quadro. Precisa também fazer um movimento mais amplificado”, assevera.

Junto com uma outra mulher preta, Manoela criou o Instituto Enegrecer. Foto Arnaldo Carvalho/Divulgação

Enegrecer as empresas dá lucro

É o que afirma Manoela Alves, advogada, professora e CEO do Instituto Enegrecer, que atua para inspirar práticas organizacionais socialmente responsáveis e inclusivas. A CEO destaca que pesquisas mostram que empresas que têm perfis diferentes de pessoas, que valorizam a diversidade, são empresas que geram mais lucros e conseguem se manter na ponta da inovação. 

“São empresas que têm suas equipes muito mais motivadas, que conseguem atender com muito mais fidelidade os anseios de seus clientes. Pensar um ambiente organizacional mais responsável e mais inclusivo é a principal missão do Instituto Enegrecer”, diz Manoela.

Criado há um ano, o Enegrecer vem numa expectativa de, junto com as organizações, perceber qual o papel das empresas para combater o racismo, a LGBTfobia e todo tipo de discriminação. “No instituto a gente entende que as instituições correm grave risco quando elas têm colaboradores com condutas discriminatórias, com o risco de sofrer indenizações, de precisar passar por processos que podem acarretar em condenações milionárias”, fala a advogada.

Enegrecer não só no período da Consciência negra

Manoela comenta que as empresas precisam entender que a pauta do combate ao racismo e o "enegrecimento" das instituições precisam crescer durante todo o ano, não só ser lembrado ou feito como algo pontual, seja para atender a lei ou o período de debate da Consciência Negra. 

"As minorias marginalizadas, elas têm um potencial muito grande e nós enquanto sociedade temos uma responsabilidade muito grande com elas. Indiscutivelmente ainda temos muito para crescer. A gente não pode pensar em igualdade racial só em novembro. Mas esse movimento [de inclusão] tem crescido e se apresentado de forma intensa. Nós trabalhamos arduamente para que essas pautas sejam pensadas como prioritárias. É uma agenda que vem da ONU e que deve incluir organizações públicas e privadas numa missão única que é para vencer todo tipo de discriminação”, pontua Manoela.

Guinada

Povo preto ajudando povo preto fortalece as instituições e auxilia para que essa parcela da sociedade saia da base da pirâmide. Por isso, o reforço: o aumento na produção e consumo entre as pessoas pretas faz com que o dinheiro permaneça por mais tempo na comunidade, gerando renda e emprego. O poder de consumo da população menos favorecida se torna maior e a economia começa a girar de forma mais sustentável e benéfica para essas pessoas.

Os afroempreendedores podem procurar acessar o site do Movimento Black Money (www.movimentoblackmoney.com.br), onde podem encontrar capacitações e treinamentos para melhor empreender - tudo de graça.

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