Inflação provoca alta no preço do açaí. Consumidor sofre.
Pesquisa mostra que aumento médio mensal do produto preferido dos paraenses já chega a 10%, em 2022
No sorvete refrescante ou com charque e farinha. Não importa a combinação, o açaí continuará sendo um dos mais importantes alimentos da região Norte do Brasil. Sua polpa é famosa não só pelo sabor, mas devido às diferentes possibilidades e variedades de consumo.
Os paraenses são os maiores consumidores do produto, já que a fruta existe em abundância no Pará e faz parte da cultura e da culinária locais. Cerca de 95% do açaí consumido no mundo todo provém do Estado do Pará.
No entanto, por causa das safras e entressafras do fruto, os consumidores sofrem com o aumento do preço. A guerra na Ucrânia também afeta os negócios. De acordo com o levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), em dezembro de 2021, o litro do açaí teve aumento considerável, custando em média, em Belém, R$ 28,60. No início deste ano, foi comercializado em média a R$ 31,29 e, no mês de fevereiro, a R$ 33,12 por litro.
Muitos comerciantes que trabalham com o produto buscam alternativas para se manter de pé, como é o caso do empreendedor Augusto Junior, de 23 anos, que é um dos responsáveis pelos dois pontos de venda chamado “Açaí do Junior”, no bairro do 40 horas, em Ananindeua. O empreendimento, organizado pela família de Junior, vende em média 120 litros por dia. Nos fins de semana, saem em torno de 150 litros. “Em ocasiões especiais, como na safra, que é quando os preços de venda caem, nós conseguimos vender até mais de 150 litros, mas na entressafra (período que contempla o fim da colheita até o início do novo plantio) o negócio fica mais apertado. Quem conhece sobre o preço de açaí sabe como é que é”, afirma o comerciante.
Para José Augusto Silveira, pai de Junior e também responsável pelo negócio, a venda do produto mudou a sua vida, melhorando a infraestrutura da sua casa, permitindo até a contratação de duas funcionárias. Ele ressalta que o investimento na venda dá resultado, apesar dos constantes aumentos que ocorrem nesse período de crise.
“Nós tínhamos pés de açaí no quintal de casa. Compramos uma máquina para bater o fruto, já que vimos que ele começou a crescer no local, o que nos permitiu fornecer o açaí para a família, mas começamos a vender para quem quisesse. Nessa época eu trabalhava empregado, mas enxerguei que a venda estava dando resultado. Vendi meu carro, saí da empresa em que trabalhava e chamei a família para trabalhar no ramo”, disse Augusto.
O empresário resolveu investir na venda do produto. Alugou o ponto, realizou a compra de um maquinário e até hoje está obtendo grandes resultados. “O ano que começamos a vender foi em 2018, mas a criação do nosso primeiro local de venda foi em 2019. Estamos trabalhando com o açaí há três anos”, lembrou.
Até hoje, os pontos de venda nunca fecharam devido à alta do produto. “A gente sempre tenta buscar outras alternativas para o preço, nós até brigamos muito por um preço mais acessível na hora da compra e para que seja repassado um valor mais razoável ao cliente”, afirmou.
“O açaí é uma alimentação muito boa, todos os paraenses consomem, inclusive a nossa família é consumidora. Vamos continuar nas vendas até quando Deus permitir, buscando sempre um produto da melhor qualidade para os nossos clientes”, expressou.
Em maio deste ano, o menor preço do açaí médio comercializado foi de R$ 14,00 o litro, encontrado em feiras livres, enquanto o maior foi de R$ 30,00, vendido em supermercados. Com isso, a variação registrada gira em torno de 10% em relação ao mês de fevereiro, enquanto o litro do açaí grosso apresentou um aumento de 13,57% no mesmo período, chegando a custar em média R$ 35,00 em feiras livres, e R$ 45, em supermercados.
Com a necessidade do reajuste no preço do produto, muitos paraenses precisaram reduzir a quantidade do consumo do açaí , como é o caso da Maria Zilza Cavalcante, de 72 anos. A moradora do bairro 40 Horas e consumidora assídua do açaí afirma que a diminuição do consumo do produto foi uma necessidade inevitável: "Eu continuo comprando, não todo tempo, mas uma vez por semana estou atrás de um preço acessível".
"É difícil. Às vezes, quando fico dois dias sem tomar, já fico doente. Procuro não ficar sem, mas quando o preço está muito alto, já peço ajuda para os meus filhos comprarem. Incomoda muito quando algo tão importante pra gente se torna tão caro", disse a consumidora sobre os desafios de manter o consumo do açaí.
Por Messias Azevedo e Vitória Reimão (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).