Jerusalém em alerta antes da 'marcha das bandeiras'
O desfile, para o qual foram mobilizados 3.000 policiais, é realizado no chamado "Dia de Jerusalém", em que Israel relembra a "reunificação" da cidade
Jerusalém será palco neste domingo (29) da polêmica "marcha das bandeiras", com a qual os israelenses lembram a ocupação da parte leste da cidade, que coincide este ano com semanas de tensões exacerbadas entre israelenses e palestinos.
O desfile, para o qual foram mobilizados 3.000 policiais, é realizado no chamado "Dia de Jerusalém", em que Israel relembra a "reunificação" da cidade, cuja parte oriental foi ocupada por Israel em 1967 e anexada em 1980.
A grande maioria da comunidade internacional nunca reconheceu o domínio israelense sobre Jerusalém Oriental. Horas antes de começar, um líder de extrema direita israelense, Itamar Ben Gvir, e outros nacionalistas visitaram o Monte do Templo em Jerusalém Oriental.
"Vim para apoiar as forças de segurança e espero que a polícia traga ordem ao Monte do Templo (...) Hoje venho afirmar que nós, o Estado de Israel, somos soberanos aqui", disse Itamar Ben Gvir.
A Esplanada está no centro das recentes tensões israelenses-palestinas na Cidade Velha de Jerusalém. É o terceiro lugar mais sagrado para o Islã e o mais sagrado para os judeus, que o chamam de Monte do Templo.
O status quo atual estipula que os judeus podem entrar na Esplanada, mas não podem rezar lá. Os palestinos denunciam como "provocações" a entrada de judeus no local, cujo acesso também é controlado pelas forças israelenses.
Nas ruas da Cidade Velha, dezenas de jovens judeus nacionalistas cantavam e dançavam, agitando bandeiras israelenses brancas e azuis, diante de palestinos surpresos, segundo um jornalista da AFP.
Antecipando os confrontos, no bairro muçulmano da Cidade Velha, a maioria das lojas fechou neste domingo e os moradores permaneceram trancados em suas casas.
Em partes de Jerusalém Oriental, muitos palestinos colocam bandeiras palestinas nos telhados e janelas, como sinal de protesto contra esta celebração israelense, que reunirá milhares de pessoas. Os palestinos esperam que Jerusalém Oriental seja um dia a capital de seu futuro Estado.
- 11 dias de guerra-
No ano passado, no Dia de Jerusalém e após dias de confrontos entre israelenses e palestinos em Jerusalém Oriental, o movimento islâmico palestino Hamas disparou foguetes contra Israel da Faixa de Gaza, que respondeu com ataques aéreos contra este enclave palestino.
Gaza é governada pelo Hamas e está sob bloqueio israelense há 15 anos.
A guerra deixou 260 palestinos mortos, incluindo 66 crianças, enquanto 14 pessoas foram mortas em Israel.
O Hamas e outros grupos palestinos alertaram nestes dias que vão "responder" se os participantes da manifestação nacionalista israelense se aproximarem da Esplanada das Mesquitas.
"Não hesitaremos em usar todos os meios para impedir a incursão em nossos lugares sagrados e Israel pagará um alto preço", disse à AFP Ghazi Hamad, um dos funcionários do Hamas em Gaza.
Espera-se que os manifestantes israelenses entrem na Cidade Velha pelo Portão de Damasco, muito usado pelos palestinos, antes de se moverem em direção ao Muro das Lamentações, que os judeus reverenciam como remanescente do Templo de Jerusalém e no qual rezam diariamente.
O primeiro-ministro israelense Naftali Bennett confirmou que a marcha "será realizada na rota planejada, como tem sido o caso há décadas". Ou seja, dentro da Cidade Velha, mas sem passar pela Esplanada.
O desfile será um teste "pessoal" para Bennett, que há anos encarna a direita nacionalista israelense, segundo o jornal Yediot Aharonot.
De acordo com o analista e ex-oficial de inteligência israelense Shlomo Mofaz, Bennett está apostando que "o Hamas não tem interesse em outra guerra e agora está focado na reconstrução de Gaza". Mas se houver violência em Jerusalém e baixas palestinas, isso pode levar o Hamas ou outros grupos armados palestinos, como a Jihad Islâmica, a mudar de ideia, disse Mofaz.