Haia inaugura 'tribunal' para jornalistas assassinados
As audiências de seis meses, criadas por uma coalizão de organizações de defesa da liberdade de imprensa, se concentrarão nos casos não resolvidos de três jornalistas assassinados no México, Sri Lanka e Síria
Um "tribunal popular" sem poderes jurídicos foi inaugurado nesta terça-feira (2) em Haia para buscar justiça para os jornalistas assassinados e defender a liberdade de imprensa.
As audiências de seis meses, criadas por uma coalizão de organizações de defesa da liberdade de imprensa, se concentrarão nos casos não resolvidos de três jornalistas assassinados no México, Sri Lanka e Síria.
Embora não tenha poderes jurídicos para condenar os responsáveis, o tribunal pretende sensibilizar, pressionar os governos e reunir provas por meio do que chama de "justiça de base".
Hatice Cengiz, que iria se casar com o jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi antes que fosse assassinado em 2018 dentro do consulado da Arábia Saudita em Istambul, disse que testemunhou no tribunal para que o mundo não se esqueça de seu noivo assassinado.
"No passado, os jornalistas eram atacados, mas agora são o governo e os dirigentes dos governos que os atacam. Então é um ponto muito, muito importante", disse Cengiz.
A filipina Maria Ressa, prêmio Nobel da Paz, e o filho da jornalista maltesa assassinada Daphne Caruana Galizia são alguns dos que testemunharão no tribunal em uma antiga igreja do século XVII em Haia.
O tribunal foi organizado pela Free Press Unlimited (FPU), pelo Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) e Repórteres sem Fronteiras e começa precisamente no Dia Internacional para Acabar com a Impunidade dos Crimes contra Jornalistas.
Examinará o assassinato em 2009 do diretor de jornal Lasantha Wickrematunge, durante o conflito separatista tamil no Sri Lanka, o assassinato em 2011 do jornalista mexicano Miguel Ángel López Velasco junto à sua esposa e filho, e o de Nabil Al-Sharbaji, que morreu em um centro de detenção sírio em 2015.
Mais de 1.400 jornalistas foram assassinados no mundo desde 1992 e oito em cada dez casos os assassinos ficaram livres, segundo o CPJ.
O tribunal pretende demonstrar que é possível encontrar novas provas nos assassinatos de jornalistas, inclusive quando os Estados não podem ou não querem, disse o diretor da FPU, Leon Willems.