Covid-19 deixa rastro: sedentarismo se agrava na pandemia
O Brasil é o país mais sedentário da América Latina, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Tal cenário tende a piorar por causa do isolamento social.
A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina da população mundial. Seja devido ao medo da contaminação, seja pelas restrições de circulação impostas, as pessoas, agora, passam boa parte do tempo em casa e apartamentos. Aumento na quantidade de horas sentada, longos períodos em uma mesma posição, por vezes má alimentação e queda na prática de exercícios físicos são alguns exemplos de hábitos que o isolamento social intensificou.
Segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 40,3% dos brasileiros acima de 18 anos são considerados sedentários. O Brasil é o país mais sedentário da América Latina, ocupando o quinto lugar no ranking mundial, conforme a OMS – Organização Mundial da Saúde. Tal cenário tende a se agravar em virtude da pandemia.
“O Colégio Americano de Medicina do Esporte preconiza que pessoa sedentária é toda pessoa que pratica atividade física numa quantidade inferior a 150 minutos semanais. Ou seja, você que gosta de correr, que pratica qualquer tipo de esporte coletivo, academia, caminhada, inferior a esse tempo estipulado é considerado uma pessoa sedentária”, afirma Márcio Cerveira, professor e coordenador do curso de Educação Física da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau.
Uma vida sedentária, sem exercícios físicos regulares, pode causar inúmeros problemas de saúde, como diabetes, doenças cardiovasculares, agravamentos de doenças das articulações, dos músculos e colunas, bem como ganho de peso e insônia. Tão importante quanto a prática de exercícios físicos é a alimentação saudável e equilibrada. “A gente precisa entender que a atividade física precisa ser alinhada sempre com a boa alimentação. Não adianta fazer tudo aquilo que acho importante para minha saúde e esquecer de cuidar da minha questão alimentar”, pontua Márcio Cerveira.
O sedentarismo na pandemia
Muitas pessoas têm dificuldades de manter uma rotina de exercícios. Miriã Santos, 23 anos, passa por isso. Ela disse que já praticou atividade física por um tempo, mas parou. "Minha maior dificuldade sempre foi a questão do tempo, por ter uma rotina de trabalho. Acordar cedo é uma tortura, e quando voltar do trabalho, pensar em ir a uma academia, outra tortura. Das vezes que me esforcei ao entrar não continuei por esses motivos e também por me achar dependente de outra pessoa. Se a minha parceria desistisse, automaticamente desistia também”, comenta.
O isolamento afetou a rotina de Miriã, tornando mais difícil a prática de exercícios. "Sempre criamos na nossa mente aquela ideia ‘esse ano vou ser fitness’. E, quando veio o isolamento social, poderia até ser mais fácil praticar exercícios em casa, mas comigo não funcionou muito bem, já que me sentia esgotada pelo trabalho e o psicológico afetado com a nossa nova realidade. Então me afetou negativamente", explica.
A jovem relata que sentiu a disposição para fazer as coisas diminuir durante esse período. "A pandemia mexe com nosso estado físico e mental. A disposição fica ainda menor, tendo que se preocupar com a nossa saúde e daqueles que estão ao nosso redor. A pandemia nos deixa sob um alto nível de pressão psicológica que faz com que o desânimo faça parte de nossa vida, até em relação à rotina normal, do dia a dia", conta Miriã.
Na contramão
A pandemia também trouxe um processo de inovação, segundo Márcio Cerveira. Houve a quebra da mentalidade de que a pessoa só consegue fazer exercício físico na academia ou em centro esportivo. “Com seu próprio smartphone, você consegue acessar o que você imaginar, consegue encontrar vídeos de grandes profissionais que trabalham com a dança, com ginástica, com balé clássico e daí por diante. A pandemia, na verdade, tem que ser um processo de motivação para que continuemos cuidando da nossa saúde”, conta o coordenador de educação física.
Carol Santos, 34 anos, mesmo durante o isolamento social, permanece se exercitando. Praticante de exercícios há cinco anos, há um ano está levando mais seriamente essa rotina, com ajuda profissional do professor Mykael Miranda e de outros professores. "Treino de segunda a sexta em uma assessoria esportiva, não costumo faltar, digo sempre que esse é o meu maior compromisso comigo mesma", explica.
Carol conta por que decidiu começar a se exercitar. "Primeiro o sobrepeso, muitas dores nos pé e pernas e falta de ânimo para fazer as coisas. Chegou um tempo que quase desisti de mim", relata. Hoje diz que já não se considera mais uma pessoa sedentária.
Ela fala quais foram os benefícios que percebeu após começar a se exercitar. "Primeiro a vontade de viver novamente. Depois ser mais ágil, mais ativa, com mais vontade de ir mais longe. Por último, a estética. Não posso ser hipócrita de dizer que me olhar no espelho e me ver mais bonita não me alegra, mas isso nunca foi, nem será o meu maior objetivo", diz Carol.
Carol afirma que a maior dificuldade foi estar em casa. "Tenho algumas coisas em casa que me ajudam. Amo pular corda e também temos o suporte das lives com a nossa assessoria Geração Saúde", conclui.
Atividade x exercício
O professor Márcio Cerveira chama a atenção para a diferença entre atividade física e exercício físico. Segundo ele, atividade física é toda e qualquer ação que gera contração muscular. Ou seja, limpar a casa, carregar uma cadeira ou sentar são consideradas atividades físicas, pois há contração muscular na ação. Já o exercício físico está relacionado com orientação e com a periodização do exercício.
O coordenador aconselha que as pessoas devem buscar aquilo que mais gostam de fazer e começarem a praticar aos poucos. “Gradativamente seu corpo vai se adaptando, sentindo a necessidade de continuar e você vai se sentindo melhor cada dia mais. A motivação vai melhorando, porque automaticamente melhora a qualidade de vida, a autoestima, e as medidas diminuem. Então, use a pandemia não como um pretexto para não fazer, e sim como um grande fator motivador para que você dê continuidade as suas atividades diárias”, orienta.
Para manter uma rotina de exercícios físicos é necessário ter regularidade. Mesmo no período de lockdown, quando as academias estão fechadas, há possibilidade de continuar com a rotina em casa. “Eu consigo fazer uma aula de abdominal, uma aula de ginástica, de dança, de zumba, de ritmos, uma aula de fitdance, aquilo que mais se sentir a vontade. É possível você fazer hoje, dentro da sua residência, num pequeno espaço. Você consegue fazer qualquer tipo de atividade, consegue manter a sua frequência de atividade, que é muito importante durante esse período de pandemia e também durante o período de não pandemia”, afirma Márcio Cerveira.
O profissional ainda dá dicas para quem deseja sair do sedentarismo e começar a se exercitar. A primeira delas é encontrar algo que goste de fazer. Uma companhia agradável também incentiva. Além disso, é importante ter um profissional da área de nutrição e fazer um acompanhamento alimentar. Por fim, é necessário procurar um médico para fazer exames e verificar como está a condição fisiológica do organismo para que não ocorram problemas na hora de praticar o exercício. “O exercício físico é como um remédio, tem que ser na dosagem certa. Através dos exames vocês vão conseguir se identificar e entender onde vocês precisam cuidar e melhorar”, finaliza Márcio Cerveira.
Por Carolina Albuquerque e Karoline Lima.