Sérvia vive segundo dia de protestos contra confinamento
Embora o presidente Aleksandar Vucic tenha dito nesta quarta que é provável que o toque de recolher do fim de semana seja suspenso, milhares de pessoas se reuniram em frente ao parlamento novamente para protestar
A capital da Sérvia foi palco na noite desta quarta-feira (8), pelo segundo dia consecutivo, de confrontos violentos entre a polícia e manifestantes indignados com a formo como o governo combate a pandemia de coronavírus.
Nuvens de gás lacrimogêneo e fumaça encheram o centro de Belgrado em meio a cenas caóticas que lembravam a violência da noite anterior, quando a polícia dispersou milhares de pessoas que saíram para protestar contra o retorno do confinamento no fim de semana devido ao aumento de novos casos da Covid-19.
Embora o presidente Aleksandar Vucic tenha dito nesta quarta que é provável que o toque de recolher do fim de semana seja suspenso, milhares de pessoas se reuniram em frente ao parlamento novamente para protestar.
A indignação está concentrada no presidente, a quem os críticos acusam de ter favorecido uma segunda onda da epidemia ao suspender muito rápido o confinamento para realizar as eleições de 21 de junho.
"O governo apenas procura proteger seus próprios interesses, as pessoas são danos colaterais", disse Jelina Jankovic, 53 anos, no meio do protesto.
O Partido Progressista Sérvio de Vucic (SNS) venceu confortavelmente a eleição em uma votação boicotada pela oposição.
Desde então, as infecções pelo novo coronavírus dispararam para mais de 300 casos por dia, superlotando hospitais.
"Já tivemos o suficiente com a manipulação dos dados da Covid-19", disse outra manifestante, Danijela Ognjenovic, referindo-se às acusações de que as autoridades estão subestimando o número de mortos.
Após um começo pacífico, a manifestação desta quarta-feira acabou tendo cenas de violência, depois que alguns manifestantes lançaram objetos nos policiais, que reagiram com gás lacrimogêneo.
Quando boa parte da multidão que estava em frente ao Parlamento se dispersou, a polícia de choque ainda perseguia manifestantes nas ruas próximas.
- Brutalidade policial -
Durante o dia, Vucic disse que ainda era a favor de uma nova fase de confinamento a partir do fim de semana, mas que uma equipe de crise do governo "decidirá amanhã" (na quinta-feira).
"Definitivamente haverá um aperto nas medidas para Belgrado", embora a "equipe de crise pareça achar que não deve haver toque de recolher", afirmou o presidente.
Vucic chamou os manifestantes de "fascistas" e disse que havia suspeita de "intromissão da inteligência estrangeira", sem fornecer nenhuma evidência.
O presidente sérvio também reconheceu que alguns policiais, acusados de força excessiva na noite de terça-feira, "falharam" e seriam responsabilizados.
Estima-se que os confrontos na véspera tenham deixado cerca de 60 feridos, incluindo manifestantes e policiais.
As cenas de brutalidade policial foram registradas pela televisão, incluindo um incidente na terça em que policiais usaram cassetetes para espancar três homens sentados pacificamente em um banco.
A Comissão de Direitos Humanos do Conselho da Europa condenou a "dispersão violenta de manifestantes", dizendo que "levanta sérias preocupações com os direitos humanos".
A nova onda de casos de coronavírus ocorre dois meses depois que a Sérvia suspendeu quase todas as restrições para permitir grandes eventos esportivos com milhares de espectadores e eleições em junho.
Nas últimas duas semanas, as infecções diárias dispararam, enquanto o país registrou seu pior dia na terça-feira, com 13 pessoas mortas pelo novo coronavírus.
Até agora, o governo registrou quase 17.000 infecções e 330 mortes em uma população de sete milhões.