Fora do Brasil, paraenses descrevem quadro da pandemia
Bem longe de casa, Samuel, Pedro, Luana e Melissa contam como estão lidando com o novo coronavírus e o confinamento nos países onde moram
Nesta quinta-feira (16), de acordo com o monitoramento em tempo real da universidade norte-americana John Hopkins, 2.101.064 casos de infecção pelo novo coronavírus foram confirmados em todo o mundo. Os Estados Unidos encabeçam a lista dos países mais infectados, seguidos por Espanha, Itália e França. A covid-19, doença provocada pelo vírus já matou 140.773 pessoas em todo o mundo.
A Alemanha é o quinto país mais afetado pela pandemia. Segundo o Instituto Robert Koch (RKI), centro de epidemiologia e controle de doenças alemãs, o primeiro caso da pandemia no país foi confirmado em 27 de janeiro, em Munique, na Baviera. A primeira morte foi registrada em 9 de março, de uma pessoa infectada em um evento carnavalesco em Heinsberg, na Renânia do Norte-Vestfália.
De acordo com o psicopedagogo Samuel Lins, paraense que mora na Alemanha há nove anos, em Niedersachsen, logo que as pessoas souberam dos primeiros casos de infectados na Itália, elas procuraram ir aos supermercados para estocar comida, principalmente a população mais antiga. “Eles vieram de uma Segunda Guerra Mundial, sabem o que não poder sair de casa e ter que guardar comida para sobreviver como, por exemplo, as minhas avós”, explica. “Quando ia ao supermercado para comprar e estocar também, eu percebia que as pessoas estavam se preparando para algo terrível”, complementa.
Segundo Samuel, a Alemanha tomou medidas drásticas para proteger a população com seis semanas de quarentena seguidas. “Todos os eventos que tivessem mais de 20 pessoas fossem cancelados. Os restaurantes foram fechados, os shoppings e as escolas. Os ônibus só podiam vender o tíquete por aplicativo, o veículo passava de um em uma hora, os passageiros não podiam mais ter contato com o motorista e entravam pela porta de trás, sempre se organizando para se sentar em uma fileira, sim, e duas, não”, afirma.
“Nos supermercados, só é permitido entrar um grupo de dez pessoas por vez, cada um com o carrinho, na fila do caixa existe uma marcação no chão de dois metros de distância de cada individuo, e não pode ultrapassar senão o estabelecimento é sujeito à multa e o cidadão também por desrespeitar as regras”, explica o paraense sobre algumas medidas que estão sendo tomadas no país.
O psicopedagogo afirma que desmarcou uma viagem para Israel pela universidade. De home office, sai de casa apenas para comprar o necessário que está faltando. “Às vezes, desço para o jardim de casa, mas sigo todas as recomendações adequadas, como desinfetar as mãos com álcool gel, tomar banho e trocar de roupa”, disse.
Samuel tem familiares em Belém e mata a saudade por videochamada. Sempre procura alertá-los sobre a importância de respeitar a quarentena. “Conversei com alguns familiares que estão na Alemanha também, minha avó é idosa e procurei visita-lá antes de tudo acontecer porque sabia que demoraria esse reencontro”, afirma.
O Canadá é o 13º país com o maior número de infectados por coronavírus, segundo o monitoramento da universidade norte-americana John Hopkins. Em 25 de janeiro, o primeiro caso suspeito no Canadá foi admitido no Sunnybrook Health Sciences Centre, em Toronto.
De acordo com o paraense Pedro Pina, que mora no Canadá há dois anos, quando foi noticiado o primeiro caso de covid-19 no país ele ficou em alerta, mas só foi entender a proporção da situação quando pararam os jogos da NBA. “Tomar a decisão de parar um campeonato tão importante para a América do Norte é sinal que as coisas estavam ficando sérias”, afirmou.
Segundo o paraense, a sua rotina só não mudou totalmente porque permanece indo para o trabalho todos os dias, mas assegura que vai do trabalho direto para a casa. “Restaurantes, shoppings, lojas de roupas estão todos fechados. Funcionam apenas os serviços básicos como, supermercado e farmácia”, disse Pedro. “Eu e a minha esposa estamos nos reeducando, pois tínhamos uma vida social bastante agitada antes de tudo isso acontecer. Agora é totalmente dentro de casa e adaptando tudo para a vida on-line”, complementa.
Com vários familiares no Pará, e alguns em Belém, Pedro procura manter contato com todos, sempre conversando por WhatsApp, orientando como seguir a quarentena com qualidade de vida e cuidando da saúde mental. “Sempre envio músicas, vídeos, informo leituras para ocupar a mente da minha mãe e do meu padrasto”, afirma.
Em 2 de março foram descobertos os primeiros casos de coronavírus em Portugal, praticamente o último país infectado da Europa Ocidental, e eram importações da Itália e da Espanha. Atualmente, segundo o monitoramente, o país possui 18.841 casos confirmados e 629 mortes.
Segundo a paraense Luana Rodrigues, que mora há um ano em Portugal, no distrito de Setúbal, após uma viagem feita para a Madri e a confirmação de uma suspeita de caso, já se imaginava que o vírus chegaria a Portugal. “Todos já esperavam que isso fosse acontecer por conta da proximidade da Espanha”, afirma.
Luana trabalhava como atendente de balcão, e afirma que tomava todos os cuidados necessários, como o uso de máscara, luvas. No local de trabalho tinha o costume de higienizar o ambiente e deixou os cumprimentos de lado. “Moro em uma parte litorânea de Portugal, é comum observar o grande movimento de turistas, principalmente na época de primavera e verão, que é a melhor altura para o comércio português”, disse. “Mas, por conta de toda essa situação do coronavírus não tivemos 1\3 do faturamento esperado porque não existem pessoas nas ruas”, complementou.
De acordo com Luana, foi decretado em Portugal que duas pessoas não podem mais andar juntas na rua. Os estabelecimentos que ainda estão funcionando exigem que entre uma pequena quantidade de pessoas, principalmente em supermercados. “É um pouco assustador”, afirma.
A pandemia da covid-19 se espalhou da China para o Japão em 23 de janeiro de 2020. De acordo com a estudante paraense Melissa Toledo, que mora há nove anos no Japão, após os primeiros casos do vírus ela notou a diferença no tratamento que recebeu ao chegar no Brasil. “Mediram a temperatura dos passageiros e separaram em duas fileiras, uma para quem chegava da Ásia e a outra, de quem chegava da Europa”, disse.
“Quase todos os estabelecimentos no Japão têm na porta álcool gel e água sanitária, as pessoas estão saindo menos de casa e as ruas estão vazias. O governo proibiu a entrada de encomendas do exterior no país e os aeropostos estão fechados”, afirma Melissa.
Segundo Melissa, todas as orientações estão sendo seguidas por ela e pela família. “Estamos usando mascaras, evitando aglomerações, medindo a temperatura sempre de saímos e voltamos para a casa”, disse a estudante. “Na escola, estão sendo organizados grupos para a higienização das maçanetas e devemos usar mascara e evitar beijos e abraços com os colegas da turma”, complementou.
Por Amanda Martins.