Economista questiona liberação do FGTS e critica bancos
"Nenhum banco privado deu a mão de maneira suficiente para a economia. São instituições que tem bilhões de lucros e não dão a contrapartida dela", alfinetou
Através da Medida Provisória 946, o Governo Federal anunciou a liberação de R$ 1.045 para contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a partir do dia 15 de junho. Com isso, o Fundo PIS-Pasep foi extinto e seus recursos serão transferidos para o FGTS.
A proposta ainda vai passar por votação no Congresso, mas assume caráter emergencial, visto que em ato reduziu para 16 dias o prazo para MPs "em razão do enfrentamento do estado de calamidade pública e da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente da pandemia de coronavírus (covid-19)".
"Acredito que ele [ o ministro Paulo Guedes ] tem que dar uma contrapartida de como vai continuar dando suporte às famílias de até dois salários mínimos em relação a essa injeção", apontou o economista Rafael Ramos ao comentar sobre fim do PIS-Pasep.
O especialista destaca a importância da medida para aquecer a economia e de 'desengessar' fundos que acabam retornando à União. "[O PIS] era uma contribuição significativa para as famílias que têm uma renda mais baixa. Ele era um dos poucos fundos que funcionavam, ainda que muita gente deixasse de tirar os recursos", avaliou.
Desde o governo de Michel Temer, as liberações se tornaram um afago para conquistar apoio popular, o que trouxe um "vício" para este tipo de ganho. No entanto, a conjuntura da pandemia está acelerando muitas decisões políticas e, tal pressa, pode causar efeitos negativos no futuro. "A gente vem trabalhando com políticas com validade. Se libera e usa os recursos, ele acaba. Então só vão dando fôlego, mas uma hora esses recursos do FGTS vão acabar", ressaltou.
Para o especialista, "de um lado você acelera recursos, mas aí o Governo também aproveita e começa a cortar o que ele queria. Um exemplo são os recursos do Sistema S que tiveram uma queda, ao longo desses três meses, de 50%", complementou Ramos.
Uma solução para trazer liquidez ao setor diante dos efeitos do novo coronavírus na economia seria pressionar os bancos privados pelo baratear e aumentar a disponibilidade de crédito. "Nesse momento, nenhum banco privado deu a mão de maneira suficiente para a economia. São instituições que tem bilhões de lucros e não dão a contrapartida dela", declarou.
"Caberia ao Governo verificar uma maneira para esse crédito ficar mais barato para os empresários. Principalmente neste momento que estão precisando de capital de giro", sugeriu o economista, na tentativa de estimular a economia e movimentar a relação entre emprego e renda.