Covid-19: morte é nove vezes maior entre doentes crônicos
A análise do perfil foi feita com base em amostra de 55.924 casos e 2.114 mortes registrados na China até 20 de fevereiro
A taxa de mortalidade por coronavírus é até nove vezes maior entre pessoas com alguma doença crônica quando comparada à de pacientes sem patologia preexistente. Segundo dados do governo chinês compilados por uma missão de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) em fevereiro, no grupo de infectados que não tinham nenhuma comorbidade, apenas 1,4% morreu. Já entre os pacientes com alguma doença cardiovascular, por exemplo, o índice chegou a 13,2%. Considerando todos os pacientes infectados, a letalidade foi de 3,8%.
A análise do perfil foi feita com base em amostra de 55.924 casos e 2.114 mortes registrados na China até 20 de fevereiro. O país asiático já confirmou 80.422 casos e 2.984 óbitos.
As estatísticas mostram a taxa de mortalidade para pacientes com diferentes tipos de doença crônica. No caso de diabéticos, o índice foi de 9,2%. Em hipertensos, a taxa observada foi de 8,4%. Entre aqueles que já tinham alguma doença respiratória, como asma, a letalidade foi de 8%. Entre os doentes com câncer, a taxa ficou em 7,6%.
Idade
Análises anteriores já haviam mostrado que outro importante fator de risco para complicações é a idade. Segundo o relatório da OMS, acima de 80 anos, a mortalidade pela doença chegou a 21,9%.
Nos dois casos, a principal explicação por trás do risco é a resposta imunológica deficiente do organismo. Isso porque, como não há tratamento ainda para a infecção por coronavírus, as células de defesa do paciente é quem precisam trabalhar para eliminar a ameaça. Nas pessoas com sistema imunológico enfraquecido, o corpo não consegue ter uma resposta igual à de uma pessoa saudável.
"Essas pessoas têm uma alteração na imunidade celular e nos processos inflamatórios. Geralmente elas já têm um ou mais órgãos comprometidos, sem funcionar adequadamente. Quanto tem um processo inflamatório, esse órgão pode ser demandado ainda mais e não dar conta", explica a infectologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
De acordo com Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não só a condição crônica pode levar a uma infecção viral mais aguda, como a contaminação pelo vírus piora a doença preexistente. "Uma exacerba a gravidade da outra. A infecção viral também piora a doença de base, aumentando o risco de morte não só pelo vírus, mas por complicação da doença crônica", diz.
Os especialistas explicam que o tamanho do risco para doentes crônicos vai depender do estágio da doença de base e do nível de controle dela. "Quanto maior o nível de cuidado daquela pessoa com a doença preexistente, melhor será a resposta, mas, mesmo com a doença controlada, o risco de complicações é maior do que o de uma pessoa sem nenhuma comorbidade", explica o especialista.
"Todo diabético, por exemplo, pode ter alterações no metabolismo e descompensações no quadro clínico quando enfrenta uma infecção. Por isso, em caso de surto, a orientação é que esse grupo procure orientação médica quando tiver sintomas", ressalta Nancy.
Crianças
Idosos e doentes crônicos já são considerados grupos com maior risco de complicação em outras doenças respiratórias, como a gripe. As crianças, no entanto, que também costumam integrar esse grupo mais crítico, não estão sendo afetadas de forma significativa pelo coronavírus - e isso está intrigando os cientistas.
De acordo com uma análise feita pelo Centro de Controle de Doenças chinês (CCDC) no início de fevereiro, não foi registrada nenhuma morte pela doença em pacientes com menos de 9 anos. E a taxa de letalidade em crianças, adolescentes e adultos jovens ficou em apenas 0,2%.
"Nenhum estudo mostrou ainda por que as crianças estão sendo poupadas. Pode ser por algum receptor celular do vírus que não é tão expressivo nelas. Ou então pode ser que, como elas se infectam com outros coronavírus mais fracos na infância, tenham imunidade cruzada para esse novo. Mas essa é uma hipótese que não aposto muito", diz Nancy Bellei, professora de infectologia da Unifesp.
A análise do perfil dos mortos mostra ainda que a letalidade é muito maior na região de Wuhan (5,8%), epicentro da crise, em comparação com outras áreas da China (0,7%). A mortalidade também foi muito mais alto nas primeiras semanas do surto, em dezembro e janeiro, do que em fevereiro. A explicação, segundo especialistas, pode estar no fato de os serviços médicos terem aprendido melhores formas de suporte aos doentes e também à redução de casos na China nas últimas semanas, o que teria feito o sistema de saúde ficar menos sobrecarregado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.