Começam audiências da investigação contra Trump

A primeira audiência pública transmitida pela televisão foi marcada por novas evidências que reforçam as suspeitas de abuso de poder por parte do presidente dos Estados Unidos

qua, 13/11/2019 - 20:33
Andrew CABALLERO-REYNOLDS William Taylor, o principal diplomata de Washington em Kiev Andrew CABALLERO-REYNOLDS

Novas evidências que reforçam as suspeitas de abuso de poder do presidente Donald Trump surgiram nesta quarta-feira (13), no primeiro dia de transmissão pela televisão das audiências públicas no Congresso dos Estados Unidos para determinar se o presidente republicano deve sofrer o impeachment.

William Taylor, o principal diplomata de Washington em Kiev, declarou ao Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes, onde são realizados os interrogatórios, que para Trump "importava mais" que o governo ucraniano investigasse o pré-candidato democrata à presidência em 2020 Joe Biden que a situação na Ucrânia, em luta contra separatistas apoiados pela Rússia.

Taylor surpreendeu ao afirmar sob juramento que recentemente soube de um telefonema entre Trump e o embaixador americano na União Europeia, Gordon Sondland. Um colega que estava ciente da conversa disse a ele que, no final, ele perguntou a Sondland o que Trump pensava sobre a Ucrânia.

"O embaixador Sondland respondeu que o presidente Trump estava mais preocupado em investigar Biden", revelou Taylor.

Os democratas, que controlam a Câmara de Representantes, acusam Trump de usar a política externa para seu benefício político, usando a assistência militar dos Estados Unidos para pressionar Kiev a abrir uma investigação sobre um suposto caso de corrupção envolvendo Biden e seu filho Hunter, que fez parte do conselho da empresa de gás ucraniana Burisma.

Ex-vice-presidente de Barack Obama, Biden é um dos favoritos entre os pré-candidatos democratas para enfrentar Trump nas eleições de 2020.

"Reter assistência militar em troca de ajuda com uma campanha política nacional nos Estados Unidos seria uma loucura", afirmou Taylor.

Taylor também disse que as pressões para abertura de investigação contra Biden e o filho provinham de "um canal diplomático irregular" que envolvia o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani.

- "Muito ocupado" -

O presidente americano, que garante que seu comportamento é "irrepreensível", disse mais uma vez que a investigação iniciada em 24 de setembro pelos democratas é uma "caça às bruxas" e acrescentou que estava "muito ocupado" para acompanhar as audiências na TV.

A porta-voz da Casa Branca Stephanie Grisham disse que Trump, que à tarde recebeu o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, passou a manhã "trabalhando" em "reuniões no Salão Oval".

No entanto, na conta do Twitter de Trump, houve uma enxurrada de declarações retuitadas de pessoas contrárias à investigação do Congresso.

Os republicanos acusam os democratas de montar um circo midiático.

Isso faz parte "de uma operação de três anos realizada por democratas, mídia corrupta e burocratas partidários para anular os resultados das eleições de 2016", disse o principal legislador republicano no processo, Devin Nunes.

Trump é o terceiro presidente na história dos Estados Unidos a ser ameaçado de impeachment, depois de Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998, sendo que nenhum deles foi afastado do cargo.

É pouco provável que Trump perca o mandato, já que para isso seria necessária sua condenação no Senado, onde os republicanos são maioria.

Em 1974, no entanto, o republicano Richard Nixon renunciou diante da iminência de ser julgado pelo escândalo de Watergate.

- "Sem rancor" -

Ao abrir as audiências, o legislador democrata que lidera a investigação, Adam Schiff, disse que as principais questões da investigação - se Trump abusou de seu poder e se, caso isso seja provado, ele venha a se julgado por isso - devem ser respondidas "sem rancor", "sem demora" e "sem favoritismos ou preconceitos de terceiros".

Além de Taylor, testemunha também um alto funcionário do Departamento de Estado especialista na Ucrânia, George Kent. Ambos já disseram aos parlamentares que Trump usou a ajuda militar americana para forçar o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, a investigar os Biden.

Kent considerou nesta quarta que pedidos este tipo "ferem o Estado de direito".

O diplomata já revelou que em agosto alertou seus superiores sobre as pressões contra Kiev para investigar Biden. Ele também confirmou aos congressistas que meses antes Giuliani havia iniciado uma campanha para investigar o ex-vice-presidente de Obama.

Num artigo publicado pelo Wall Street Journal, Giuliani disse que "o comportamento de Biden merecia uma investigação minuciosa".

Várias audiências estão previstas no Congresso até 20 de novembro.

Até agora, os republicanos pediram, sem sucesso, que testemunhem Hunter Biden e o denunciante não identificado que revelou a conversa telefônica de 25 de julho entre Trump e Zelenski, cuja divulgação deu início ao caso escândalo.

Faltando um ano para as eleições presidenciais, as audiências públicas acarretam grandes riscos para os dois partidos: uma apertada maioria dos americanos apoia um processo de impeachment contra o presidente, segundo pesquisas.

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