Irã e Estados Unidos, de aliados a inimigos

Em março de 2009, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se oferece para 'falar diretamente com o povo e os líderes da República Islâmica do Irã'

seg, 04/11/2019 - 09:05
- (Arquivo) Estudantes revolucionários iranianos escalam o portão da embaixada americana em Teerã em 4 de novembro de 1979 -

A seguir, os momentos cruciais das complicadas relações entre Estados Unidos e Irã desde a tomada de reféns na embaixada americana em Teerã que completa 40 anos nesta segunda-feira (4).

- O retorno do xá -

Em agosto de 1953, Reino Unido e Estados Unidos organizaram um golpe de Estado contra o primeiro-ministro do Irã, Mohammad Mossadegh, que havia nacionalizado a empresa de petróleo que era controlada pelos britânicos.

O golpe permitiu o retorno a Teerã do xá Mohammad Reza Pahlavi, obrigado a se refugiar na Europa por divergências com Mossadegh, que tentava limitar seus poderes.

Com o xá novamente no poder, o Irã se tornou um dos principais clientes da indústria de defesa dos Estados Unidos e um baluarte contra a influência da União Soviética.

No fim da década de 1950 foram estabelecidas as bases do programa nuclear iraniano, com o apoio dos Estados Unidos e no âmbito de acordos bilaterais com o xá. Em 1957 foi assinado um programa nuclear de cooperação civil com Washington.

- A ruptura -

Em janeiro de 1979, depois de meses de protestos contra seu regime, o xá fugiu do país, inicialmente para o Egito. No dia 1 de fevereiro o aiatolá Ruhollah Khomeini retorna a Teerã após 15 anos de exílio.

Em 4 de novembro de 1979, sete meses depois da proclamação da República Islâmica do Irã, estudantes invadem a embaixada dos Estados Unidos em Teerã, exigindo a extradição de Reza Pahlavi, que passava por tratamento médico nos Estados Unidos. Cinquenta e duas pessoas foram tomadas como reféns durante 444 dias.

Em abril de 1980 o governo dos Estados Unidos rompeu as relações diplomáticas entre os dois países e adotou um embargo comercial. Em novembro de 1986, as revelações sobre a visita secreta à capital iraniana de um emissário do presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, provocou a explosão do caso de venda de armas de Washington a Teerã (conhecido como Irã-Contras), com o objetivo de assegurar a libertação de reféns americanos no Líbano.

Em 3 de julho de 1988, um Airbus da Iranair foi derrubado "por engano" por um navio de guerra americano sobre o Golfo: 290 pessoas morreram.

- "Eixo do mal" -

Em 30 de abril de 1995 o governo dos Estados Unidos anunciou um embargo econômico total contra o Irã por sua "busca por armas nucleares", segundo o presidente Bill Clinton. A decisão foi acompanhada por sanções contra empresas que investem nos setores de petróleo e gás do Irã.

Em 29 de janeiro de 2002 o sucessor de Clinton, George W. Bush, incluiu o Irã na lista de países que integravam o "eixo do mal" de apoio ao terrorismo.

Em 2005, o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad reinicia o enriquecimento de urânio no país.

- Acordo histórico -

Em março de 2009, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se oferece para "falar diretamente com o povo e os líderes da República Islâmica do Irã", mas em junho do mesmo ano condenou a pressão dos protestos e expressou a convicção de que a legitimidade da reeleição de Ahmadinejad apresentava "sérios questionamentos".

Em junho de 2013, Washington se declarou "preparado para colaborar diretamente" com o novo presidente, Hassan Rohani, e em setembro Obama e Rohani conversaram por telefone, o primeiro diálogo direto entre os dois países desde 1979.

Em 14 de julho de 2015, o Irã e as principais potências do planeta alcançam um acordo que acaba com 12 anos de tensão a respeito do problema nuclear iraniano.

Com vigência a partir de 2016, o acordo assinado em Viena determinava a suspensão gradual e condicional das sanções em troca de garantias de que Teerã não produziria armas nucleares.

- Distensão pulverizada -

Em 8 de maio de 2018, no entanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a retirada unilateral de seu país do acordo nuclear e posteriormente restabeleceu as severas sanções, particularmente contra os setores petroleiro e financeiro do Irã.

Em maio de 2019, Teerã começa a abandonar algumas de suas obrigações determinadas pelo acordo de 2015, em represália às draconianas sanções americanas que sufocam sua economia.

A tensão atinge o ponto máximo em junho, quando a Guarda Revolucionário, o exército ideológico de Teerã, anuncia que derrubou um drone americano que teria "violado" o espaço aéreo do Irã. O Pentágono negou a acusação.

Trump afirmou que cancelou no último momento ataques de represália, para evitar um grande número de vítimas humanas.

Em julho, o Irã anunciou a produção de urânio enriquecido a pelo menos 4,5%, um nível proibido pelo acordo de 2015.

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