'Escalada' de protecionismo é maior risco
Na avaliação de especialistas em comércio exterior ouvidos pelo Estado, o principal temor é que a iniciativa tomada nessa quinta-feira, 22, pelo presidente Donald Trump contra os chineses provoque uma "escalada" de protecionismo ao redor do mundo.
Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores Associados, pode haver uma piora no comércio global como um todo, pois não se sabe que outras medidas o governo americano vai tomar após o anúncio dessa quinta-feira.
Ele também avalia que a sensação de que o discurso protecionista está ganhando força na maior economia do mundo pode fazer com que os demais governos também se sintam obrigados a aumentar barreiras, dificultando que os produtos brasileiros conquistem mercados.
"Um ponto positivo dessa maneira Trump de fazer comércio exterior é que países, como Canadá e México, acabam se sentindo forçados a fazer um descolamento da política comercial americana e podem avançar na negociação de acordos com os países do Mercosul, o que também beneficiaria o exportador brasileiro."
Ele lembra que há muita resistência no Congresso americano e todos os governantes, exceto Trump, sabem o dano que uma guerra comercial causaria. "O mundo, de forma geral, está se mantendo cauteloso."
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a posição agressiva de Trump tem um componente de "pirotecnia", mas pode trazer um impacto negativo no comércio global. "O objetivo é minar a indústria chinesa, barrar o celular que hoje é pensado no Vale do Silício e montado na China."
De acordo com Castro, mesmo que as medidas de Trump sejam significativas, ainda é cedo para avaliar a dimensão do que ocorreu nessa quinta-feira.
"O impacto vai depender dos detalhes que o governo americano ainda não divulgou. Não se sabe quais produtos serão afetados. Na teoria, a China vai ficar com um excedente de produção e poderá precisar buscar novos mercados para escoar seus produtos."
Ele avalia que o resto do mundo vai tentar observar agora se as medidas tomadas por Trump têm potencial de evoluir para uma guerra comercial. "Se isso ocorrer, a China pode retaliar os Estados Unidos deixando de comprar produtos, como soja e carne, e buscando uma alternativa, que seria o Brasil." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.