Protecionismo deve crescer na UE, diz Serra
"A estratégia é continuar negociando com a União Europeia e abrir negociação com Reino Unido, de livre-comércio, de investimento, tudo o que for possível", explicou
O Brasil vai procurar negociar acordos com o Reino Unido, uma vez que ele deixará a União Europeia. Foi o que afirmou ao Estado o ministro das Relações Exteriores, José Serra. "Teria sido melhor não ter acontecido", disse. Mas, já que o resultado foi esse, restou ao Brasil ajustar seus planos à nova realidade. "A estratégia é continuar negociando com a União Europeia e abrir negociação com Reino Unido, de livre-comércio, de investimento, tudo o que for possível", explicou. "Eles têm um peso grande no comércio internacional."
Segundo avaliou o ministro, os britânicos, são liberais no comércio, inclusive nos produtos agrícolas. Alemanha e França, que agora tiveram seu peso relativo aumentado dentro do bloco europeu, são "mais complicados" nesse campo. "Então, na União Europeia, aumenta o peso relativo do protecionismo", comentou.
Por outro lado, lembrou o ministro, o fato de o Brasil abrir negociação com o Reino Unido, separadamente, pode ser um elemento de pressão para os europeus negociarem com o Mercosul. "Quando se tem opções de negociação, o parceiro fica mais interessado", explicou. É esse o efeito que o Brasil busca, também, ao aprofundar seu diálogo com os Estados Unidos.
Ontem, o Itamaraty divulgou uma nota oficial na qual afirma respeitar o resultado do referendo. "O Brasil confia que essa decisão não vai deter o processo de integração europeia, nem o espírito de abertura ao mundo que caracterizam, e devem continuar a caracterizar, tanto o Reino Unido como a União Europeia. Confia, igualmente, que todos os esforços serão feitos para assegurar uma transição suave e estável." Na nota, o governo brasileiro informa que manterá suas parcerias estratégicas com ambos os lados.
'Discreta torcida'
Mas, nos bastidores, havia de fato uma "discreta torcida" para que o Reino Unido permanecesse na União Europeia. Justamente porque os britânicos eram aliados importantes do Brasil nas negociações do acordo comercial, quando se tratava do mercado de produtos agrícolas.
Há, também, entre os técnicos, uma preocupação sobre o efeito da separação no processo de retomada econômica do bloco europeu. O temor é que a instabilidade retarde a recuperação de parceiros comerciais importantes do Brasil na região, como Espanha e Portugal. Serra acha, porém, que as exportações brasileiras não sofrerão grandes alterações.
(Colaboraram Célia Froufe, Bernardo caram, Eduardo Rodrigues, Idiana Tomazelli)