A copa do mundo no Brasil

Janguiê Diniz, | qui, 22/03/2012 - 08:30
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Após 64 anos, em 2014 o Brasil irá sediar novamente uma Copa do Mundo de Futebol. Faltando pouco mais de dois anos para o início do evento, o que vemos é um país em obras, correndo contra o tempo para cumprir prazos e qualidade estipulados pela Federação Internacional de Futebol, FIFA.

Para sediar um evento desse porte, estima-se que o Brasil irá investir cerca de R$ 36,4 bilhões, sendo R$ 12,7 bilhões em transportes e mobilidade, R$ 7,2 bi em reformas e construção de novos estádios e R$5,3 bi em modernização dos aeroportos. Do mesmo modo, acredita-se que a Copa do Mundo de 2014 trará ao país um lucro de R$183 bilhões para a economia entre 2010 e 2019. Aliado a esses números, está a expectativa de geração de 700 mil empregos, permanentes e temporários, para os mais diversos setores - obras, turismo, hotelaria e comércio.

Observando apenas os valores de investimento e retorno, a realização de um evento como este só nos traz benefícios. Mas, o fato é que existem, no Brasil, inúmeros problemas de desenvolvimento em infraestrutura, educação, cultura, saúde, meio ambiente, entre outros, que ultrapassam a visão dos benefícios econômicos e que devem ser avaliados. Receber uma Copa do Mundo, ou os Jogos Olímpicos, é colocar os holofotes do planeta em nossa direção, mostrando nossa cultura e nosso desenvolvimento, mas também nos tornando vulneráveis as exibições dos nossos problemas, como a falta de segurança pública.

Uma parte da população diz ser contra a realização da Copa do Mundo no Brasil por acreditarem que o dinheiro gasto para a realização do evento poderia ser investido em vários setores do nosso país, já que muitos possuem um alto nível de precariedade. Além disso, o excesso dos gastos públicos pode repetir o episódio dos Jogos Pan-americanos de 2007, inicialmente orçados em 500 milhões de reais e estima-se que tenham consumido quatro bilhões de reais.

Poucos países são capazes de organizar uma Copa do Mundo sem ajuda dos cofres públicos. Os Estados Unidos conseguiram o feito porque toda a infraestrutura já estava pronta. No caso do Brasil, parte da verba virá dos cofres da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas os gastos com infraestrutura das cidades onde acontecerão os jogos serão por conta do estado, ou seja, serão bancados com dinheiro público que vem dos nossos impostos.

Ocupando a 84ª posição entre os 187 países avaliados no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e com quase 10% da população analfabeta, o Brasil poderia usar os 36 bilhões de reais a ser investidos na Copa para solucionar demandas mais urgentes, como as áreas de educação e saúde pública. Para ilustrar, com esse valor, seria possível construir mais de 400 hospitais-escolas.

Copa é muito mais do que construir novos estádios. São essenciais melhorias urbanas como expansão de linhas de metrô, novos aeroportos e estradas, aumento e qualidade da rede hoteleira e das comunicações. Mas agora, exceto por algum fato excepcional, sediaremos a Copa do Mundo em 2014 e precisamos continuar correndo contra o tempo e torcer para que toda a estrutura criada para o evento se torne herança para o nosso país.

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