A Coragem da Renúncia

Gustavo Krause, | seg, 19/10/2015 - 16:49
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O governo Dilma respira por aparelhos. Paciente terminal, sofre de infecção generalizada causada pelas bactérias da ideologia que escraviza, do voluntarismo que isola e da corrupção que degenera o tecido social.

O que é mais grave: o paciente está nas mãos de uma charlatã que, a exemplo de Fausto (1480-1540), mago e alquimista, teria feito um pacto com o diabo, Mefistófeles, a encarnação espiritual do maligno, o arcanjo inimigo da luz, cuja lenda inspirou variadas obras de arte, culminando com o poema clássico e obra-prima do escritor e pensador alemão Johann Wolgang von Goethe (1749-1832).

No dia 04 de março de 2013, em João Pessoa, a presidente/candidata anunciou o pacto: “Nós podemos fazer o diabo quando é hora de eleição”. Na lenda, Fausto negociou poderes sobre-humanos por 24 anos e, esgotado o prazo, Mefistófeles, um dos sete príncipes do inferno, receberia a alma de Fausto (arrependido) para a condenação eterna.

Assim foi feito. A essência da antiga lenda é a perda da noção de limites. Na versão brasileira, a alma penada da Presidente arrasta com ela, milhões de brasileiros, entre os quais, aqueles que acreditaram na possibilidade de enganar o demônio.

Hoje, cada dia é um túnel sem candeeiro para alumiar a saída. E a escuridão não foi obra do acaso. Tem sido a execução de um projeto de poder erigido sobre sólidos alicerces: o carisma de um líder/chefe; a captura do estado brasileiro pelo estamento partidário; o aliciamento da consciência cidadã em troca do “bolsismo”, alívio passageiro para as privações dos mais pobres; a lógica perversa do “capitalismo de estado”, relação promíscua entre o público e o privado que enriquece os mais ricos, enche as burras da burocracia corrupta e mata de inanição a população carente de políticas públicas.

Paralelamente, o projeto de poder lulopetista despolitiza a política com a artilharia pesada do discurso enganador “a gente faz, mas quem não fez?”, versão atualizada do “rouba, mas faz”, só que desta vez “eles”, “a elite branca” se amplia em um “nós” que era barrado no baile. E nada mais eficiente para reinar do que dividir e dividir com o tempero do ódio separa o bem do mal.

Porém, a realidade se impõe. É patética a figura presidencial. Faltam-lhe, aliás sempre lhe faltaram, atributos para governar o país. Cada gesto, cada palavra e todas as suas iniciativas compõem uma peça tragicômica. Tudo indica que capítulo final se avizinha. Soma-se, agora, à impopularidade e à falta de apoio parlamentar, o fato juridicamente  imputável: a recomendação do TCU pela desaprovação das contas do governo por um placar estrepitoso 9x0. Impeachment à vista.

A propósito, as palavras do Procurador de Contas Júlio Marcelo de Oliveira,  insuspeitas e contundentes, ratificam o projeto de poder: “Percebe-se nitidamente a intenção de turbinar despesas em ano eleitoral. A dotação do Fies em 2013 foi de R$ 5 bilhões. Em 2014, pulou para R$ 12 bilhões. Em 2015, o Fies caiu para menos da metade. Quantos estudantes começaram a estudar e não conseguiram renovar? É cruel acenar com financiamento estudantil e no ano seguinte retirar”.

Até quando o brasileiro, ao acordar, vai tomar o café com o sabor amargo da angústia? Angústia, Presidente, é aquela sensação de desamparo da criança que nasce e se defronta com um mundo de adversidades e incertezas. O que lhe salva é o acolhimento materno.

Certa vez, Lula disse: "Dilma é a 'Mãe do PAC'”. Chegou a hora de estender a mão aos filhos do Brasil. Coragem! Como toda virtude, a coragem é está no meio de extremos, no caso, a covardia e a temeridade. Abrevie o sofrimento coletivo. A renúncia é um ato de coragem. A senhora não será o primeiro nem o último governante a fazê-lo em nome de valores mais altos. A rainha Cristina da Suécia (1629-1689), De Gaulle (1890-1970) e o Papa Bento XVI são notáveis exemplos de grandeza e do belo gesto  da renúncia ao poder.

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