Notas XII: Benjamin e a arte de escrever bem

Cristiano Ramos, | qui, 01/12/2011 - 15:29 | Atualizada em: qui, 01/12/2011 - 17:41
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Nas terças e quintas-feiras, Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos: textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Hoje, Walter Benjamin, sobre a arte de escrever:

 “Escrever bem

O bom escritor não diz mais do que pensa. E isso é muito importante. É sabido que o dizer não é apenas expressão do pensamento, mas também a sua realização. Do mesmo modo, o caminhar não é apenas a expressão do desejo de alcançar uma meta, mas também sua realização. Mas a natureza da realização – faça justiça à meta ou se perca, luxuriante e imprecisa, no desejo – depende do treinamento de quem está a caminho. Quanto mais mantiver a disciplina e evitar os movimentos supérfluos, desgastantes e oscilantes, tanto mais cada postura do corpo satisfará a si própria e tanto mais apropriada será sua atuação. Ao mau escritor ocorrem muitas coisas, e nisso se gasta tanto quanto o mau corredor não treinado nos movimentos indolentes e gesticulados dos músculos. Mas exatamente por isso nunca pode se dizer sobriamente o que pensa. É dom do bom escritor, com seu estilo, conceder ao pensamento o espetáculo oferecido por um corpo gracioso e bem treinado. Nunca diz mais do que pensou. Por isso, o seu escrito não reverte em favor dele mesmo, mas daquilo que quer dizer”.

A citação está presente no ensaio Pequenos trechos sobre arte, publicado no livro Obras escolhidas II: rua de mão única (Brasiliense, 2004), nas páginas 274 e 275.

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