Hermanos, pero no mucho: brasileiros unidos pela Argentina

Que hexa que nada, tem compatriota nosso na torcida por Messi, Agüero e cia

por Geraldo de Fraga sab, 16/06/2018 - 09:00
JUAN MABROMATA / AFP Neymar? Messi é o cara JUAN MABROMATA / AFP

Enquanto a maioria da população está na torcida pelo hexa, alguns brasileiros estão em busca do tricampeonato na Copa da Rússia. Isso porque vários deles não estão nem aí para a campanha da seleção canarinha. Para essa galera, a estreia na Copa será neste sábado (16), quando a Argentina entrará em campo para encarar a Islândia.

Fenômeno recente, mas já bem difundido nas redes sociais, brasileiros que torcem para o maior rival não são mais novidade. Mas, sim, eles ainda são vistos como 'traidores' pelos seus compatriotas e familiares. "Tem amigo meu revoltado com essa entrevista. Minha mulher não gosta. Ela proibiu o nosso filho de torcer para a Argentina", revela Gregório Freire.

O fotógrafo de 32 anos relembra os dramas com a Albiceleste: 98 (perdendo para a Holanda nas quartas de final) e em 2002 (eliminado na primeira fase). "Em 2002, a turma do colégio me esperou na frente da sala para me provocar", recorda o bullying.

O curioso é que ele virou casaca justamente por conta de um dos maiores difusores dessa rivalidades entre os dois países. "Na Copa América de 1995, eu lembro de Galvão Bueno narrando e exaltando a malandragem argentina e comecei a gostar. Também curto a unidade das torcidas", revela.

Identificação e bomba

A cantoria incessante nas arquibancadas, tão característica dos times de lá, além da disposição em campo, são apontadas como as maiores motivações para a admiração pelos hermanos. "Eu tenho o ideal de não torcer só por ser brasileiro. Gosto da raça, da catimba, do time brigador", diz o estudante Thales Vinícius, de 24 anos, outro que enfrenta a ira dos compatriotas. "Ficam zuando, não entendem essa paixão, sou único louco da família", afirma.

"O grande lance é se identificar. Eu me identifiquei com o estilo aguerrido, com a raça e a torcida apoiando do início ao fim", garante o crítico de cinema Wilker Medeiros. "Desde que eu me entendo por gente, no quesito futebol, que torço para a Argentina. Minha primeira memória é das Olimpíadas de 1996, aquele time com Ortega, López", recorda.

Mas no caso dele essa 'paixão proibida' também cobrou seu preço. "Antes era um inferno. A galera ia na frente da minha casa, já jogaram bomba de São João no quintal. Em 2002, eliminado na primeira fase foi foda também", ri. Apesar do fanatismo, o pessimismo reina em 2018. "Do meio pra frente, o time é bom. Não acredito muito, mas sempre pode surpreender", opina.

Rede de amigos

Tulio Santos, servidor público de 27 anos, tem mais sorte quando se trata de enfrentar a solidão. "Tenho amigos que torcem para a Argentina também. Em 2014 vimos vários jogos e temos planos de ver juntos de novo esse ano", comemora.

Para ele, o futebol raiz veste azul e branco. "Vejo ali uma essência do futebol que ainda permanece. Comecei a gostar pela forma como os jogadores levavam a seleção, fui pegando gosto e curtia ver a paixão da torcida. Minha primeira Copa como torcedor foi em 2006. Em 2018 está uma incógnita, vai depender muito do Messi", alerta.

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