Arnaldo e Torcida Jovem participam de evento na Alepe
Mesmo com os vínculos rompidos com a atual diretoria do Sport, organizada foi convidada para uma homenagem ao título de campeão brasileiro de 1987
A cena é atípica. Mas se no futebol, dentro de campo tudo pode acontecer, fora dos gramados a regra é a mesma. Nesta terça-feira (13), parte da Torcida Jovem do Sport esteve lado a lado no mesmo evento que Arnaldo Barros, atual presidente do clube pernambucano. Convidados pelo deputado estadual Isaltino Nascimento para prestar uma homenagem a passagem dos 30 anos da conquista do título de campeão brasileiro de 1987. A solenidade foi realizada na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no auditório Sérgio Guerra, área central do Recife.
A diretoria do Sport rompeu relações oficiais com a Torcida Jovem desde abril de 2016, quando a 5ª Vara da Fazenda Pública de Pernambuco determinou que a torcida organizada estava banida de todos os eventos esportivos que têm participação do clube rubro-negro. Nesta terça-feira, durante o evento na Alepe, um grupo de quarenta integrantes da “Jovem” evitou aplausos a Arnaldo Barros, quando o presidente foi anunciado para proferir seu discurso na solenidade. Por sua vez, o dirigente também não cumprimentou a torcida organizada.
Em sua fala, Arnaldo falou da importância do evento realizado na Alepe, que contou a participação ilustre de Rogério de Oliveira, um dos jogadores da equipe campeã de 1987. “Falar em uma oportunidade dessa movido pela emoção não é fácil. Essa conquista obtida em campo e sempre ratificada nos tribunais é um orgulho para nós pernambucanos e nordestinos. O sport mostrou ao Brasil que não foge a luta jamais”, ressaltou Barros.
Rogério de Oliveira disse estar emocionado. Ele sabia da importância de estar presente naquele evento representando toda uma equipe vitoriosa. Dono de uma fala menos rebuscada e com uma simplicidade que arrancou boas risadas dos presentes na solenidade, o ex-jogador nunca imaginou celebrar esse título por tanto tempo. “Um maloqueiro sentado ali no meio desses deputados e pessoas importantes. Hoje, campeão brasileiro. Vocês não sabem a importância que tem jogar pelo Sport. Emociona mesmo. Estou do lado de Homero, esse rapaz chegou para gente com um litro de whisky e disse: vocês querem entrar pra história do clube? Então deixe o resto comigo e ganhem dentro de campo. Todo mundo se emocionou. Um maloqueiro de pés descalços é campeão brasileiro”, disse.
Um dos convidados da noite foi o ex-presidente do Leão e atual presidente do Conselho Deliberativo rubro-negro, Homero Lacerda. Antes do discurso, fez questão de cumprimentar todos presentes na mesa e também a Torcida Jovem, que o aplaudiu aos gritos. “Não foi só um título que conquistamos, vencemos um dos campeonatos mais disputados do planeta. Nordeste para os clubes grandes não existia. Eles faziam o que queriam. Fomos à luta nos tribunais e conseguimos o que era nosso por direito. A gente tem orgulho disso. Nos unimos e brigamos contra a Rede Globo, o Clube dos 13 e a Federação de Futebol. Moralizamos o futebol brasileiro”, pontuou o ex-presidente.
Em entrevista exclusiva ao LeiaJá, Homero comentou a atual relação da Jovem com o clube rubro-negro e não escondeu seu descontentamento com a organizada banida do campo. “A alegria dos estádios se perdeu. A Torcida Jovem dentro do clube era uma das coisas mais bonitas que eu já ví na minha vida, era uma energia que contaminava. Eu sei que se infiltraram muitos assaltantes e desordeiros no meio da torcida organizada e fizeram coisas que a sociedade repudia. Mas, será que é justo? Qualquer instituição que tiver pessoas com uma postura errada terá de fechar? Então o congresso vai ter que acabar? A sociedade precisa fazer essa reflexão, também. Porque assim não vai sobrar nada no Brasil. Eu não acho que é justo punir todos por uma parte da torcida, mesmo que seja expressiva. É muito simples acabar com a torcida e ninguém usar mais a camisa. É um desrespeito às minorias, que é a base de uma sociedade democrática”, criticou.
Apesar da organizada não ter voz no microfone durante a solenidade na Alepe, o presidente conversou com a reportagem do LeiaJá após o fim do evento. Para Henrique Marques, presidente da Torcida Jovem do Sport, o convite foi uma surpresa boa e o grupo se fez presente. “É bom sempre relembrar os títulos históricos do clube porque estamos além do estádio. Não temos uma richa com Arnaldo. Ele tem a maneira dele de presidir e a gente tem as nossas discordâncias de acordo com os últimos acontecimentos nos últimos anos. O clube não merece estar passando por essa situação. Então, como torcedores e associados, queremos melhorias e vamos continuar brigando em prol do Sport. O clube não é a favor da torcida organizada, mas mesmo sem a camisa, estamos lá. Não há danos dentro do estádio, mas infelizmente na rua quem cuida é a polícia e por mais que a gente diga para os torcedores irem em paz, foge do controle”, enfatizou.
Às vésperas do clássico contra o Santa Cruz, na quarta-feira (14), Henrique relembro o trágico acontecimento do último jogo, em que a torcida do rival passou por momentos caóticos dentro da Ilha do Retiro. “Eu acho que falta a Polícia Miliar saber trabalhar. Não tinha necessidade do que fizeram com a torcida do Santa Cruz. Aquilo também acontece com a gente, praticamente em todos os jogos. Eles causaram um avalanche. Infelizmente quando acontecem reuniões para falar sobre violência no futebol, a torcida não é chamada”, concluiu.
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