Italianos cruzam oceano em bote inflável
A dupla, formada por Sergio Davì e Alessio Bellavista, começou sua viagem no dia 29 de abril da Marina Arenella, na cidade siciliana, e atracou no Cabanga Iate Clube de Pernambuco no último dia 17
Um marinheiro experiente e seu copiloto aventureiro, 25 dias de navegação, 4.400 milhas náuticas, um barco inflável de borracha e muito entusiasmo e dedicação. Esses são alguns dos ingredientes da inédita travessia de dois italianos que partiram de Palermo e chegaram ao Recife quase dois meses depois.
A dupla, formada por Sergio Davì e Alessio Bellavista, começou sua viagem no dia 29 de abril da Marina Arenella, na cidade siciliana, e atracou no Cabanga Iate Clube de Pernambuco no último dia 17. Com alguns dias de pausa durante o caminho, os italianos passaram por Sardenha, Mallorca, Cartagena, Gibraltar (Espanha), Casablanca, Agadir (Marrocos), Lanzerote, Gran Canária (Ilhas Canárias), Cabo Verde, Fernando de Noronha e Natal antes de chegarem à sua destinação final.
Chamada de "o sonho atlântico de Sergio Davi" pelo próprio capitão, a viagem acabou atraindo a atenção dos brasileiros e de pessoas de todas as nacionalidades por ter sido realizada em um tipo de embarcação incomum para travessias tão longas como essa: um barco inflável modelo Master 966 de 10 metros de comprimento e dois motores de popa de quatro cilindros.
Segundo Davì, a travessia do Oceano Atlântico foi organizada por ele com o objetivo de promover o "turismo ecossustentável" e a "preservação ambiental" e repetindo parte do itinerário do navegador florentino Americo Vespúcio, que deu nome ao continente americano.
Além disso, a ideia da aventura surgiu depois do italiano ter realizado outras viagens menores com barcos parecidos, como a de 2010 de Palermo a Amsterdã, na Holanda, e a de 2012 da capital siciliana a Cabo Verde. Assim, com um pouco mais de preparo e experiência, o italiano decidiu em 2015 desafiar as águas agitadas que separam a Europa das Américas.
No entanto, a primeira tentativa acabou não dando certo devido a um pequeno incêndio sofrido no "gommone" (tipo de barco inflável) na ilha de Lanzerote, o que fez com que a viagem tivesse que ser adiada e remanejada do princípio. Mesmo usando outra embarcação e mudando parte da rota, a travessia continuou tendo como última etapa o Brasil.
"Inicialmente, [o Brasil foi escolhido] porque a distância oceânica é a menor. Entre Cabo Verde e Fernando de Noronha o caminho é o mais rápido. Mais rápido é um modo de dizer, porque ele pede vários quilômetros [de viagem], muitas milhas", explicou Davì. O piloto disse, no entanto, que depois de chegar na nação, que havia sido escolhida "por acaso", acabou se tornando "uma escolha por amor".
Para o italiano, que disse ter amado sua estadia em território brasileiro, o que mais lhe chamou a atenção no país foram as pessoas e as belas vistas. "As pessoas são muito carinhosas [no Brasil]. E quando chegamos a Fernando de Noronha [vimos] que a ilha é um paraíso, muito bonita. O país é repleto de contradições, mas apenas elas fazem a nação ser tão impressionante", comentou Davi.
O marinheiro também afirmou que apreciou a gastronomia nacional e que achou o açaí "muito bom". "Na realidade, eu comia dois ou três por dia, de manhã, de tarde e depois da janta", contou.
Ainda sobre hábitos culinários, Davi disse quando estavam navegando ele e Bellavista, que foi fundamental durante todo o trajeto, geralmente tinham uma alimentação bem distinta, composta principalmente por alimentos perecíveis e "comidas prontas e embaladas, como feijão em caixa, pães como os de forma, muita fruta seca e também alguns biscoitos".
Já para dormir na embarcação, o piloto comentou que "não era muito fácil". "Tínhamos uma pequena cabine, mas na realidade dormíamos com um travesseiro que tínhamos na parte de fora, porque durante a navegação noturna não era possível dormir na cabine", explicou o italiano.
Davi também falou sobre as emoções e perigos da viagem. Para ele, o momento mais emocionante de toda travessia foi "ver de longe a ilha de Fernando de Noronha porque já era território brasileiro". E as etapas mais perigosas foram, segundo ele, "aquelas oceânicas - ou seja, da Gran Canária a Cabo Verde e de Cabo Verde a Fernando de Noronha - e as duas etapas até Recife - de Fernando de Noronha a Natal e depois de Natal a Recife - por causa do mar agitado".
Agora, já de volta à Itália, Davi também comentou que, para a organização de todo o projeto foi "necessário um mínimo de 50 ou 60 milhões de euros, sem contar o barco" e que o "gommone" usado dele já tem um destino certo. "O barco será exposto em vários salões náuticos, como o Salão Náutico de Gênova [na Itália], e depois muito provavelmente será vendido", concluiu o italiano.