Quero ser Jogador: quem tem o perfil?
Primeiro passo: conhecer os atributos que os clubes buscam para investir em um jovem atleta
Fica fácil entender que se tornar um jogador profissional de futebol é muito difícil na hora em que se tenta entrar em um clube. O caminho mais fácil costuma ser pelo futsal. E, mesmo assim, não existem garantias de que praticar a modalidade dos primeiros anos de vida até a hora em que se tenta uma vaga culminará em um espaço no time profissional. A série 'Quero ser jogador' mostra como as pessoas que selecionam talentos para os clubes pensam e o que esperam de cada jovem promessa.
Everton Felipe precisou abandonar a família e a cidade natal para chegar ao time titular do Sport (Chico Peixoto/LeiaJáImagens)
Não é para qualquer um
O futebol não pode ser ensinado, é algo que se aprimora. É assim que pensam os profissionais da área. Antes mesmo de avaliar critérios técnicos, os olheiros e treinadores observam detalhes inerentes ao jovem atleta. A estrutura física, a coordenação motora, as reações rápidas e até o sangue são indicadores de que a criança tem potencial. É o que conta o Coordenador Técnico da base do Sport Club do Recife, Rodrigo Dias.
"São quatro pontos básicos: físico, técnico, entendimento de jogo e o psicológico-emocional. Existem atletas que nascem fisicamente privilegiados. São pessoas que têm as chamadas fibras rápidas. Com treinamento você melhora até certo ponto, mas quem tem essa predominância leva vantagem sobre os demais. Além de tudo isso, o atleta precisa ser corajoso, emocionalmente forte, ou de nada adianta. É preciso um jovem extremamente competitivo, já que só os que perseveram conseguem. Se tornar profissional é uma maratona. Às vezes o atleta precisa passar dez anos no clube, longe da família, até chegar no profissional", afirma.
O auxiliar técnico do Náutico, Levi Gomes, concorda com a opinião de Rodrigo. De acordo com Levi, que já foi treinador das categorias de base do Timbu, o clube só investe e desenvolve o atleta que já tem algum potencial e características que favorecem o desenvolvimento: "Trabalhamos com pessoas de várias características, algumas que buscamos mais que outras. Muitos chegam aqui com bom passe e chutes, precisamos de outros fundamentos também".
O futsal é a porta
É assim nos grandes clubes do Recife. O futsal costuma ser um grande celeiro de atletas para o futebol de campo. No Sport, por exemplo, a criança começa aos 7 anos de idade e aos 13 passa por um período de transição aos gramados para integrar o sub-13, primeira categoria do futebol profissional. Isso, claro, se o atleta não optar por permanecer nas quadras.
"A base funciona com sub-13, sub-15, sub-17 e sub-20. A gente faz uma integração com o futsal, crianças que vêm de escolinhas do Recife e campos de várzea. É um trabalho que o próprio treinador faz. Ele encontra valores e faz um mapeamento. Acredito que a porta de entrada do futsal é a escolinha do clube. Claro que recebemos em captação, peneiras e observações em competições, mas a maioria sai das quadras para o sub-13", conta Rodrigo.
No Santa Cruz, o funcionamento é bem semelhante. Segundo o diretor do departamento de base/Futsal, Bleno Porfírio da Cruz Júnior, a seleção é feita já nos primeiros níveis de quadra e o aproveitamento para a base do futebol de campo é alta. "Cerca de 90% das nossas equipes de juniores são compostas por atletas que começaram no futsal. Nosso treinador faz esse trabalho de avaliar quem tem potencial para sair. Além do trabalho que nossos olheiros fazem. A criança começa bem cedo e pode fazer o caminho completo, como foram alguns casos recentes no Santa, o Nininho, por exemplo, começou ainda criança", explica.
Levi Gomes conta que o Náutico não faz peneiras, mas avalia jogadores que se apresentam no CT do Náutico (Léo Lemos/Náutico)
Outros caminhos
Nem todo mundo começa nas quadras. Existem aqueles jogadores que já entram nos clubes pelo futebol de campo. Às vezes, até direto para o sub-20, que é o último passo antes de subir ao profissional. As rotas alternativas estão nas peneiras realizadas pelos times e ainda o testes, que normalmente são resultado de indicações de ex-jogadores, parceiros dos clubes e olheiros. O Santa Cruz, por exemplo, realiza peneiras duas vezes por semana, além de receber jovens para testes que a comissão técnica avalia em treinos. Isso sem falar dos olheiros espalhados pela Região Metropolitana do Recife e outros espalhados pelo Nordeste.
O Náutico não utiliza esse caminho, mas deveria, já que o fluxo de candidatos é grande e constante. "Recebemos muita gente. Às vezes você tem dez jogadores para avaliar em uma semana apenas", diz Levi.
No Sport, fora as peneiras e avaliações, existe o esquema de captação de atletas. nele, o clube, ao disputar torneios, avalia jogadores que se destacam. A ideia é pegar jovens com potencial já em desenvolvimento e formá-los no clube. "É uma porta de entrada, a comissão técnica viaja para peneiras fora do Estado. Além disso, os torneios nos quais a gente compete. O Coronel (Genivaldo Cerqueira, coordenador da base do Sport) vai junto e observa. Caso o clube se interesse, traz. Foi assim com o Renê, Neto Moura e Joelinton", ressaltou Rodrigo Dias.
Tudo isso é apenas para que o jovem saia do status de 'peladeiro' de plantão, para jogador das divisões de base de um grande clube. O que fazer, e principalmente, o que não fazer para a carreira seguir rumo ao profissional, você pode ler na próxima matéria do especial: 'Quero ser jogador: tô na base, e agora?'
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