Golfe de volta à olimpíada, mas sem estrelas do esporte

A maioria deu como justificativa o surto do vírus zika, o que motivou duras críticas de golfistas brasileiros

sab, 30/07/2016 - 10:29
WikimediaCommons O australiano Jason Day, melhor do mundo na atualidade, não estará no Rio WikimediaCommons

Zika que nada! A decisão de praticamente todos os melhores golfistas da atualidade de não viajar ao Rio para disputar os Jogos Olímpicos, alegando o temor do vírus zika, é motivado apenas por razões financeiras, criticam representantes do esporte no Brasil consultados pela AFP.

Em seu retorno ao programa olímpico depois de 112 anos, o golfe não terá os quatro primeiros colocados do ranking: o australiano Jason Day, os americanos Dustin Johnson e Jordan Spieth, e o norte-irlandês Rory McIlroy, respectivamente.

Outros astros da modalidade pularam fora, como o australiano Adam Scott, o sul-africano Louis Oosthuizen, o fijiano Vijay Singh ou o japonês Hideki Matsuyama.

A maioria deu como justificativa o surto do vírus zika, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, que causa febre, dores nas articulações e pode ser responsável por casos de microcefalia, malformação que atinge recém-nascidos.

Em meio às preocupações, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as autoridades brasileiras argumentaram que o risco de infecção é praticamente nulo durante o período olímpico (5 a 21 de agosto), por conta da queda das temperaturas.

Christophe Dubi, diretor executivo do Comitê Olímpico Internacional (COI), já jogou golfe várias vezes nos últimos meses no projeto social de Japeri, campo público localizado na zona norte do Rio.

Único brasileiro classificado para o torneio masculino dos Jogos, Adilson da Silva diz "entender as preocupações" dos colegas que alegam "querer começar uma família", mas considera que "representar seu país é algo muito especial, é uma pena que algumas pessoas não pensem assim".

"Não posso mentir e dizer que não me preocupo, mas não estou com medo. Tenho que tomar precauções, mas vou manter a atenção no jogo, não no mosquito", completa.

'Medo dos exames antidoping'

Bem menos diplomático, Hélcio Figueiredo, golfista amador no clube da Gávea, na zona sul do Rio, dispara: "sinceramente, acho isso uma bobagem!"

"Nos temos crianças aqui, as autoridades tomaram providências. Eu diria até que o Zika é coisa do passado", argumenta.

"O medo do vírus é um percentual pequeno que formou a decisão deles e acho que serviu um pouquinho como desculpa. Os fatores financeiros, a agenda, os benefícios em caso de vitória: isso tudo pesou na balança", critica o diretor técnico do clube, Abílio Junior.

"Eles ganham prêmios astronômicos, enquanto, nas Olimpíadas, a premiação é zero. A disputa é pela medalha", concorda Eudes de Orléans e Bragança, ex-presidente da Confederação Brasileira de Golfe (CBG) de 1995 à 1998 e descendente do Dom Pedro II.

Para o ex-dirigente, o dinheiro não é o único motivo. Outra razão seria a presença na lista de substâncias proibidas do Comitê Olímpico Internacional (COI) de vários medicamentos usados por golfistas.

Sua filha, Maria Francisca, que é capitã da equipe feminina da Gávea, é ainda mais explícita: "Acho que, na realidade, o medo de ser pego nos exames antidoping é bem pior".

O próprio Rory McIlroy, um dos astros mais conhecidos do esporte, confessou que o torneio olímpico não faz parte das prioridades da temporada dos golfistas de elite.

"A maioria do outros atletas sonham a vida inteira em conquistar uma medalha olímpicos, mas nós sonhamos com o 'Claret Jug' ou o casaco verde", explicou o número 4 do mundo, referindo-se ao troféu do British Open ou à jaqueta que recompensa o vencedor do Masters de Augusta.

'Torneio truncado'

Para Eudes de Orléans, a ausência das estrelas do golfe é um grande golpe para o torneio olímpico, mas não chega a ser letal.

"É óbvio que vai ser um torneio truncado, mas para o Rio e o futuro do golfe no Brasil, vai ser um evento fantástico", analisa.

"Vai ser um grande torneio", concorda Abílio Junior. "Seria um torneio muito melhor, é claro, se todos estivessem, mas acho que não perde tanto. Vamos ver novos jogadores, novos talentos, de países que muitas vezes não são reconhecidos como tradicionais no golfe, então vai ser sem dúvida um momento muito especial pro golfe mundial, para o Brasil, nem se fala", ressalta.

Já Adilson da Silva, que ocupa a 278ª colocação no ranking, acredita "definitivamente" em suas chances de subir ao pódio, em uma competição que espera que seja "um pouco menos intensa", mas ainda "com nível altíssimo".

Na verdade, o mosquito pode até perder protagonismo para outro animal, muito maior, o jacaré, visto com frequência na região do golfe olímpico, construído no meio de uma reserva ecológica perto da praia do Recreio dos Bandeirantes, uma localização que gerou muita polêmica. "Já joguei muitas vezes na África e vi leões, onças e hipopótamos. Imagino que cruzar com um jacaré não deve fazer muita diferença", brinca o golfista.

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