Quando se perde a liberdade de torcer

Torcedores envolvidos em confusões são obrigados a comparecerem ao Juizado do Torcedor e não podem assistir aos jogos

por Alexandre Cunha qui, 24/04/2014 - 08:00

Enquanto alvirrubros e rubro-negros chegavam à Arena Pernambuco, eles já estavam sentados, à espera de mais um dia de jogo sem a possibilidade de torcer. Reunidos no Juizado do Torcedor de Pernambuco, no bairro das Graças, no Recife, eles contavam os minutos para poder colocar os fones de ouvido e, através do rádio, saber o resultado da final entre Náutico e Sport. Esta é a realidade, em cada dia de partida dos times na capital, para torcedores que cometeram algum tipo de delito.

A medida faz parte do programa socioeducativo do Juizado. Jovens envolvidos em brigas, tumultos nos estádios, depredações em transporte público e até outras ocorrências mais leves são obrigados a comparecer na sede do órgão todas as vezes em que seu time do coração for jogar no Recife. Como punição, são proibidos de acompanhar os jogos e participam de atividades como: palestras, excursões e outras açõs de integração.



Nesta quarta-feira (23), 12 torcedores estiveram no local. Entre estes, três amigos rubro-negros aceitaram conversar com a reportagem do Portal LeiaJá e explicaram como é difícil não poder acompanhar os atuações do Leão. “Muito chato, a gente fica aqui doido pra saber como está o jogo. Quando saímos daqui, já escutamos direto no rádio ou vamos para algum bar. Quando é uma final, como hoje, pior ainda”, explicou Luiz Nazário (foto à dir.), 20 anos.



Os outros amigos, Leandro Machado, 19, e Melquesedeque Pedrosa, 18, também estavam no dia do incidente que resultou na impossibilidade de ir ao estádio ou simplesmente assistis aos jogos. Os jovens garantem ser inocentes e terem sido prejudicados por conta da ação de uma única pessoa.

“A gente no ônibus, um pirraia inventa de quebrar o teto solar para subir no ônibus. Tinha uma viatura do lado e os policiais mandaram todos os torcedores descerem. Nos jogaram no camburão, começaram a bater na gente, nem querem saber se temos pai e mãe. Depois, todo mundo na delegacia e aí começamos a precisa a vir ao Juizado”, afirma Leandro. Além da obrigação de comparecimento ao Juizado, os torcedores também pagaram uma multa de R$ 300 e prestam serviços sociais em hospitais e ONGs.



Mesmo com as privações, alguns extrair o lado positivo das atividades. “Tenho tirado várias lições daqui para a minha vida. Como dizem, têm males que vem para o bem e a gente chega até a ter saudade quando não têm os encontros. Com os passeios, conheci coisas muito legais”, observou Melquedeseque Pedrosa, ao rememorar excursões ao Instituto Ricardo Brennand e à central do Corpo de Bombeiros.



Perfil – Em parceria com a Secretaria de Esportes, o programa socioeducativo do Juizado do Torcedor tem por objetivo evitar a reincidência dos jovens envolvidos em casos de Polícia. De acordo com a responsável pelo programa, a assistente social Deolinda Brandão, a maioria dos torcedores tem de 18 a 24 anos e é quase que exclusivamente do sexo masculino. 

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