Imprensa sul-africana destrói o mito Pistorius

sex, 15/02/2013 - 09:00
Peter Parks Oscar Pistorius no Campeonato mundial de atletismo em Daegu, Coreia do Sul, 28 de agosto, 2011 Peter Parks

A imprensa sul-africana dedicou grande espaço nesta sexta-feira ao assassinato da modelo Reeva Steenkamp, morta pelo namorado, o atleta medalhista paralímpico Oscar Pistorius.

Em artigos consagrados à personalidade do atleta, rebatizado de "Blade Gunner" - trocadilho com o nome do clássico filme Blade Runner e a palavra "gunner", atirador em inglês - ele é descrito como um homem "paranóico".

"Descobrir que Pistorius é acusado de assassinato é como ficar sabendo que o arcebispo Desmond Tutu foi pego roubando um caixa. Nós estamos estupefatos e não conseguimos acreditar", escreveu o jornal The Times.

"Os homens o admiravam, as mulheres o adoravam. As crianças com deficiência física se inspiravam nele. Pistorius era um brilhante exemplo de como dar o melhor de si e superar qualquer obstáculo", disse ainda.

Mas o jornal, assim como seus concorrentes, aponta que "Blade Gunner" - que colecionava namoradas (loiras) com quem ele tinha frequentes discussões - é dono de um temperamento infantil e paranóico, além de ser um amante de armas de fogo.

O corredor chegou a ensinar um jornalista do New York Times a atirar. Um repórter do jornal britânico Daily Mail ficou surpreso ao encontrar na casa de Pistorius "bastões de críquete e de beisebol atrás da porta, uma pistola perto da cama e um fuzil automático ao lado de uma janela". Na época ele vivia em um condomínio residencial fortificado, eleito em 2009 como o "bairro mais seguro da África do Sul", segundo o The Star.

O jornal The Citizen deu o nome de "Blade Gunner" (de gun, arma), em referência ao apelido de "Blade Runner" dado a Pistorius graças a suas duas lâminas de fibra de carbono em forma de patas de felino com as quais ele corria.

O Daily Sun ironizou o sangrento dia dos namorados - celebrado ontem no hemisfério norte - com a manchete "Bloody Valentine" (dia dos namorados sangrento).

O jornal africâner Beeld, primeiro a dar a notícia e influente no círculo africâner de Pretória, citou incidentes anteriores envolvendo o atleta: em 2009, quando estava acompanhado de um amigo que atropelou e matou um pedestre, o corredor tentou impedir que a imprensa fotografasse o acidente dizendo "por que eu sou Oscar Pistorius".

"Pistorius era uma fonte de boas notícias, o que explica porque os anunciantes o amam. E ele é muito bonito, o que deixa as coisas ainda mais fáceis", escreveu o site Daily Maverick.

"Ele deixou a África do Sul muito orgulhosa. Nos jogos Olímpicos, ele nos colocou na cena internacional: um dos nossos chegou lá. Ter que abandonar esta imagem para substituí-la por uma história profundamente feia, de violência e de morte, é traumatizante", acrescentou.

O Mail e o Guardian contam como a vítima, Reeva Steenkamp, foi comprar papel na quarta-feira para embrulhar o presente que daria ao amado.

"Meu namorado gosta muito do dia dos namorados", teria dito à vendedora.

Estrela em seu país, lenda do atletismo mundial e exemplo para milhões de jovens atletas, Oscar Pistorius, 26 anos, é acusado pelo assassinato de Reeva Steenkamp, 30 anos, modelo com quem namorava desde novembro. Ele teria matado a mulher com quatro tiros na manhã de quinta-feira.

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