As partidas de Platônicca e a arrancada do pop em PE
Representando uma cena musical cada vez mais forte no Estado, a artista garante seu espaço no meio com série de singles, álbum, clipes bem produzidos e show no célebre Teatro do Parque
Ela pode até parecer nova aqui mas, a real é que essa artista já vem de longe. Presente no meio musical pernambucano desde 2008, quando integrou a banda de reggae Bantus, Carol Ribeiro vem trilhando um caminho de partidas e chegadas que a transformaram na Platônicca. O alter ego da cantora e compositora eclodiu quando ela percebeu que havia chegado ao limite e precisava mudar o olhar, sair daquele chão e encontrar novas formas de sorrir - e de fazer música.
Então, ela tirou o coração da bagagem e, percebendo que queria e podia tudo, soltou o corpo, a voz, e entendeu que não podia mais parar. Foi assim que a Platônicca tornou-se uma das representantes da expressiva cena de pop que vem florescendo em Pernambuco. No próximo domingo (10), a artista celebra essa trajetória com o show de lançamento do single do seu álbum de estreia, 'Quero Love', em um dos mais célebres palcos recifenses, o Teatro do Parque.
A primeira partida para essa jornada aconteceu no início dos anos 2000 e de forma um tanto inesperada. Ao assistir a um show, Carol sentiu um incômodo que a fez mergulhar em uma área até então inexplorada por ela. "Eu era de um outro mundo, não conhecia ninguém na música, aí fui pra um show de reggae e me deu um 'start', não sei o que aconteceu. Eu pensei: 'Quem é esse povo? Eu preciso conhecer esse povo'", relembra em entrevista ao LeiaJá.
Aqueles dados ao misticismo dirão que foi obra do destino, porque depois do 'estalo', Carol matriculou-se em um curso de extensão na Universidade Federal de Pernambuco e começou a estudar música. Lá, ela começou a conhecer "o povo" e através da amizade com os integrantes da Bantus Reggae - e de sua constante presença nos ensaios da banda - acabou tornando-se parte dela. "Quatro meses depois (de entrar no grupo), eu tava no Pátio de São Pedro, dia de homenagem a Bob Marley, minhas mãos tremendo, eu aprendendo ainda a botar as notas no teclado, foi uma loucura".
O empurrão dos amigos deu certo. Após sua estreia como backing vocal e tecladista da Bantus Reggae - grupo que integrou durante seis anos -, Carol começou a compor as próprias canções. Com seu trabalho autoral, passou por importantes eventos como os Festivais de Jazz de Gravatá e Garanhuns, o Som na Arena, competição na qual foi finalista e, claro, fez presença em inúmeros bares da noite recifense. A fase durou quatro anos e foi concretizada com um EP, mas aí, um novo 'estalo' incomodou a artista e ela percebeu que "queria experimentar algo novo".
Uma nova partida então se fez necessária mas, antes, Carol parou. Durante um ano inteiro, assessorada pelo DJ e diretor artístico Patrick Torquato, a cantora estudou, meditou e pesquisou em busca desse 'algo novo': a Platônicca. O encontro com o alter ego, no entanto, se deu bem no início da pandemia do coronavírus e os primeiros passos da artista precisaram ser lentos, além de virtuais. "Lancei (Rio em Chama, o primeiro single) online e não tinha como rodar. Mas, foi bom porque eu fui amadurecendo isso, fui entrando nesse meu lado Platônicca, apaixonado, que é o que me inspira a compor e muitas vezes eu tinha vergonha de mostrar, e daí que veio tudo".
A nova fase da artista foi sendo alimentada e nutrida enquanto o mundo lutava para sobreviver à crise sanitária. Ela própria precisou de algumas estratégias para vencer a tristeza e o "desespero" causados pelo momento. Vendo tantas vidas sendo perdidas e os amigos artistas desistindo de seus sonhos, ela buscou cada vez mais força e resiliência para (r)existir. "É aquela coisa da crise trazer inspiração. Eu não quero fazer uma música 'down', eu quero que as pessoas escutem minha música e que isso leve elas pra cima porque o mundo já tá muito difícil".
A paixão da Platônicca tem surtido efeitos mostrando que o platonismo lhe serve mesmo apenas como conceito. Nos últimos dois anos, a artista já lançou singles, clipes, participou dos festivais Sonora Olinda, Música em Domicílio e Mostra Amp - esse como apresentadora -, e levou seu show presencial para a Bahia Ela também foi indicada ao Prêmio Destaques 2020, do Rock na Calçada; e ganhou o troféu de segundo melhor videoclipe do ano de 2021, com 'Não Pode Parar', pela Starfleet Music.
Agora, a Platônica se prepara para lançar seu primeiro álbum: 'Quero Love'. O lançamento será aos poucos, com a chegada de novos singles a cada 45 dias nas plataformas digitais. O primeiro, não por acaso chamado 'Partida', já está disponível para o público e será celebrado com um show no icônico palco do Teatro do Parque, neste domingo (10) - com abertura da DJ Boneka e participação do cantor Barro. O acesso é gratuito, com incentivo da Prefeitura do Recife, do Governo Federal e da Secretaria de Cultura do Recife, através da Lei Aldir Blanc – Joel Datz, e os ingressos podem ser solicitados pelo Sympla.
Também não por acaso, o primeiro single do disco representa um momento que impulsionou a artista a chegar até aqui - um rompimento que a motivou a compor cada vez mais e entregar-se ao seu chamado. Porque não dizer, representa ainda a coragem de apropriar-se do que se tem de mais íntimo e verdadeiro para ser e fazer a diferença no (próprio) mundo. "Doeu deixar isso pra trás e começar algo novo, mas é algo que tem tudo a ver com meu trabalho porque eu consegui respirar, compor e ser a Platônicca que eu queria ser”.
Pop pernambucano
A Platônicca chega como uma das representantes de uma cena cada vez mais forte em solo pernambucano: a da música pop. Com nomes de peso como Barro, Romero Ferro,Uana e Duda Beat, o gênero ganha cada vez mais espaço, público e fôlego para apresentar uma produção musical local bastante valiosa e muito instigada para acontecer. Um movimento que se vale tanto das influências externas e já consolidadas no mercado quanto das referências já conhecidas e amadas pelo público de Pernambuco, como o brega e o bregafunk.
Para a Platônicca, o mercado se mostra cada vez mais receptivo a essa produção, assim como o próprio público, e assim o movimento vai encontrando respaldo nas necessidades e linguagens desses tempos para se fortalecer. "As pessoas estão vendo que o pop é um estilo de música tão importante quanto outros e isso tá reaquecendo a cena. Romero Ferro vem aquecendo essa cena mais aqui, o Barro também, além da cena nacional com Marina Sena, Pabllo Vittar e até a própria Anitta. Acho que a gente que tinha um certo medo de se assumir pop agora tá tendo coragem porque o mercado tá se abrindo mais e a gente tá se fortalecendo também no que a gente é. Hoje em dia, a gente tá nesse momento de se fortalecer e não se moldar a caixinhas. Eu trago essa questão do pop comigo desde o começo e agora muito mais claro".
Fotos: Júlio Gomes/LeiaJáImagens
*Os dois primeiros parágrafos contém citações à composições de Platônicca.