Grafiteiros denunciam insegurança em ações da PCR

Artistas reclamam a falta de equipamentos de segurança individual e até alimentação durante atividades do ‘Colorindo o Recife’, promovido pela Prefeitura do Recife

por Paula Brasileiro ter, 16/02/2021 - 14:48

Com o objetivo de deixar a cidade mais bonita e ainda ajudar artistas do grafite, a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) mantém o projeto Colorindo o Recife, por meio da Secretaria de Turismo, Esportes e Lazer. A proposta é credenciar grafiteiros da cena local dando-lhes suporte e ‘telas’ para trabalhar. Em contrapartida, eles desenvolvem sua arte usando o grafite como instrumento de apropriação dos espaços públicos e, ainda, criando novos pontos turísticos na capital pernambucana.

Atualmente, mais de 60 artistas fazem parte do projeto, selecionados através de editais. O projeto tem pouco mais de três anos de lançado e já ganhou, inclusive, repercussão nacional. Alguns dos artistas envolvidos acabam sendo ‘emprestados’ para outra ação da PCR, como o Mais Vida nos Morros, que atua na revitalização de comunidades recifenses. No último domingo (14), uma intervenção artística realizada na comunidade Rosa Selvagem, na UR-7/Várzea, Zona Oeste do Recife, acabou gerando muito barulho na internet com denúncias de grafiteiros em relação aos projetos, como falta de segurança e assistência da gestão 

A intervenção realizada em Rosa Selvagem foi o assunto das redes sociais tanto da PCR quanto do próprio prefeito João Campos (PSB) que, inclusive, fez uma visita à comunidade. Ele cumprimentou grafiteiros e apareceu em algumas fotos ao lado deles, no entanto, as imagens acabaram mostrando alguns problemas na ação. O Coletivo Pão e Tinta, grupo de artistas e articuladores sociais do Recife, identificou as irregularidades e fez uma denúncia em seu perfil no Instagram.

De acordo com a postagem do Pão e Tinta, os profissionais trabalhavam pintando em altura sem os devidos equipamentos de segurança individual (EPI). Eles também apontaram outros problemas como falta de alimentação e até água “Como vc pode ver mas fotos SEGURANÇA E EPI nenhum para executar as obras”.

Os comentários corroboravam com a denúncia. “Cadê a responsabilidade e o respeito que se espera pra com os cidadãos da cidade. Artistas explorados, e outros esquecidos”; “Fui o Cobaia disso aí, se for botar na conta do lápis devo ter recebido R$0,50 m² , foram 2 barreiras no Alto Sta. Isabel que estavam em péssimas condições, não recebi ajuda pra alimentação/transporte, segurança zero, EPI zero , o colete do talabarte era no menor tamanho, não fui atendido quando pedi material “;” Isso eh pq n viram o perigo que colocaram artistas do coletivo pra pintar o compaz do coque, segurança, instrução, apoio zero e risco de vida eminente pois não tinha nenhum EPI pros artistas”.

Em entrevista ao LeiaJá, o grafiteiro, alpinista industrial e um dos diretores do Pão e Tinta, Shell Osmo, afirmou que os problemas vistos na ação do último domingo (14) acontecem desde o início do 'Colorindo o Recife'. Ele disse, inclusive, que já houveram acidentes entre os artistas. “Teve acidente, tem fotos, tem relatos, e não teve nenhum tipo de assistência à pessoa que sofreu o acidente. Foi um absurdo a falta de segurança, a falta de cuidado, de atenção pra o pessoal que tá pintando as barreiras”.

Segundo Shell, a prefeitura não oferece o devido suporte para que os artistas desempenhem o seu trabalho, o que acaba refletindo no próprio pagamento do serviço. “A galera só dá o dinheiro e diz qual a área pra pintar. Eles prometem cinco mil e só chega R$ 3.800, porque é R$ 1.200 de desconto. O problema maior é que esse dinheiro demora pra chegar, tem gente que terminou em junho e não recebeu. Eu pintei a ponte do Pina, foram 45 dias, eu tive que apagar barqueiro, equipe, alimentação. No final de tudo R$ 3.800 não deu pra quase nada”. 

Osmo reclama ainda da falta de diálogo com a gestão. Ele diz ter tido muita dificuldade em ser atendido pelos responsáveis pelo projeto e que só depois das denúncias feitas no Instagram foi procurado pelo Secretario de Inovação Urbana, Tulio Ponzzi, a assessoria da Secretária de Turismo e Lazer, Cacau de Paula e alguns gerentes de turismo.

Segundo o grafiteiro, uma reunião entre os artistas e a gestão deverá ser marcada ainda esta semana para que os problemas apontados por eles possam ser discutidos e os editais do Colorindo o Recife revistos. “Nos últimos três anos teve muitas irregularidades em relação a acidente, falta de pagamento, e alta de assistência. A gente quer reler o edital e fazer uma carta com as reivindicações, pontuar o que a gente acredita que seja melhor”. 

O que diz a gestão

Procurada pelo LeiaJá, a Prefeitura do Recife se pronunciou através de nota enviada por sua assessoria de imprensa. Segundo o texto, o Colorindo o Recife é uma ratificação do “compromisso” da gestão com "a consolidação de uma política pública voltada para a valorização da arte urbana” e que o projeto beneficia 70 artistas e coletivos cadastrados mediante o edital público de chamamento. 

Em relação à ação realizada na comunidade de Rosa Selvagem, no último domingo (14), a nota afirma que “assim que foi identificada uma falha pontual pelo não-uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), o serviço foi imediatamente suspenso e será retomado após a adoção de todos os protocolos de segurança”. 

Confira na íntegra.

A Prefeitura do Recife ratifica o seu compromisso com a consolidação de uma política pública voltada para a valorização da arte urbana, através de iniciativas como o Colorindo o Recife que, mesmo em um ano atípico como 2020, ampliou o acervo de murais e painéis em espaços abertos da capital pernambucana, com benefício direto a 70 artistas e coletivos cadastrados mediante o edital público de chamamento 002/2017. A Secretaria de Turismo e Lazer reforça que mantém diálogo aberto com todos os artistas e reafirma o seu compromisso em valorizar a arte urbana na cidade. Com relação aos pagamentos, todos são efetuados em até 30 dias após a emissão da nota fiscal do projeto executado, conforme previsto em edital, instrumento jurídico que também prevê que cabe aos artistas providenciar locomoção e alimentação enquanto executam os serviços.

Em relação à intervenção feita na Encosta de Rosa Selvagem, operacionalizada pela Secretaria Executiva de Inovação Urbana através do Programa Mais Vida nos Morros, assim que foi identificada uma falha pontual pelo não-uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), o serviço foi imediatamente suspenso e será retomado após a adoção de todos os protocolos de segurança.

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