Ney Matogrosso: ‘subo no palco com a liberdade de sempre'
Cantor vem ao Recife, sábado (31), e conversou com o LeiaJá sobre o novo show
Quando estreou com o grupo Secos e Molhados em 1973, Ney Matogrosso surpreendeu o país inteiro. Com o rosto maquiado, dançando e mostrando o corpo como nenhum homem havia feito antes, em pleno regime militar, o artista levava aos palcos toda a liberdade possível, provando sua força enquanto artista e ser-humano. Quatro décadas depois, essa mesma liberdade continua 'solta por aí' e o público recifense poderá conferi-la de perto no próximo sábado (31), quando Ney apresenta, no Teatro Guararapes, seu novo show: Bloco na Rua.
Lançado em janeiro de 2019, o novo espetáculo de Ney começou a ser idealizado com bastante antecedência. O cantor passou cinco anos excursionando com o show Atento aos Sinais e mesmo antes de encerrar essa turnê já trabalhava na nova. "Nos dois últimos anos do Atento aos Sinais eu fui fazendo roteiros, esse (que será apresentado) deve ser o décimo que eu fiz. Algumas músicas que estão no show estavam desde o primeiro roteiro, mas tinha muita coisa. Eu estava procurando uma coisa coerente, uma linha de pensamento coerente", disse, em entrevista exclusiva ao LeiaJá.
Após 24 meses de planejamento, Ney chegou ao resultado final. "Quando eu junto uma com a outra e vejo que tem leitura, aí eu entendo que tá certo", explica. O processo envolve todas as etapas do espetáculo e ele garante estar em "tudo" que se assiste no palco, desde o figurino até a iluminação. Para o repertório, ele escolheu músicas já gravadas por ele e por outras pessoas, como A Maçã, de Raul Seixas; Álcool, de DJ Dolores; e a canção que dá nome ao show, Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio.
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Passar tanto tempo 'gestando' o novo projeto encontrou respaldo na resposta do público. Na estrada desde janeiro de 2019, Ney constata o sucesso pela reação das plateias que já encontrou. "(a resposta é) maravilhosa. Eu ousaria dizer que em alguns lugares está sendo melhor do que o anterior. Porque esse tá acontecendo uma coisa muito interessante já na primeira música. No Atento aos Sinais tinha a abertura e ia mais lento, esse já na primeira música o público já está participando".
O cantor garante que a sensação de estar no palco é a mesma desde que iniciou sua carreira e que segue guiado por seu senso de liberdade para criar, se apresentar e, sobretudo, existir: "Eu continuo exercitando a minha e espero que as pessoas exerçam as suas. A gente não pode ceder. As liberdades foram adquiridas, ninguém ofereceu, então, eu subo no palco com a mesma liberdade que eu sempre tive".
E é de maneira livre e bastante consciente que o artista se abstém de misturar sua arte com política. A despeito do momento crítico que o país atravessa - que na plenitude de sua experiência não o assusta - o cantor se mantém firme em não misturar as coisas. "Eu acho horrível discurso político. Política é feita em outro lugar, não é pra ser feita em cima do palco. Eu jamais ficaria falando contra um ou contra outro, 'fora um, fora outro', se o público faz eu espero eles pararem de fazer, isso tem sido desde o Temer que foi quando começou essa coisa, então eu parava, deixava eles falarem, depois recomeçava a cantar. Eu não sou obrigado".
Acompanhando essa desobrigação aparece uma lucidez de quem já passou por "coisas piores" e, sendo assim, Ney Matogrosso garante que não será "âncora de medo" por causa de ninguém. Com um otimismo sereno, tal qual sua maneira de falar, ele espera a maré virar, mas não sem se manter ativo e como ele gosta, em cima do palco. "Pra mim não tem nada difícil, está tudo como sempre foi. Estou trabalhando como sempre trabalhei, não tem nada errado. Minha vida continua fluindo muito bem".