Pelo 'Axé': grupo de teatro encena dentro de terreiros
Com o espetáculo ‘Ganga meu ganga, o rei’, artistas levam o público para os espaços sagrados das religiões de matriz africana
“Teatro num terreiro de ‘macumba’”? A estranheza, geralmente, é a reação inicial do público ao convite para assistir a peça Ganga meu ganga, o rei, do Grupo Teatral Ariano Suassuna. A iniciativa de levar a montagem aos terreiros de umbanda e candomblé da Região Metropolitana do Recife (RMR) nasceu exatamente da vontade de desmistificar tais espaços e quebrar esse preconceito naqueles que desconhecem as religiões de matriz africana e seus templos. O grupo está em circulação com com o espetáculo até o mês de novembro e deve percorrer oito cidades da RMR levando sua arte e as mensagens de respeito e tolerância.
Ganga meu ganga, o rei é uma adaptação do livro homônimo de Albemar Araújo, autor pernambucano e integrante do Grupo Ariano Suassuna, que narra a história da disputa da coroa do maracatu herdada por uma filha do orixá Iansã. A primeira montagem do espetáculo ocorreu em 2010 e, agora, ele vai até os espaços sagrados da religião de matriz africana como uma forma de oportunizar aos seus frequentadores, e demais pessoas das comunidades ao entorno, um momento de arte e reflexão. “Inicialmente, as pessoas são movidas pela curiosidade. Quem não conhece costuma achar que ali é um lugar de negatividade. Mas, na verdade, é um lugar tão sagrado quanto qualquer outro templo religioso. A falta de sensibilidade, por não conhecer, não deixa elas verem isso”, diz Albanita Almeida, diretora do espetáculo e atriz.
Além do uso do chão dos terreiros como palco, para que aconteça uma desmistificação em relação às religiões de matriz africana, toda peça gira em torno desse universo. O cenário, o texto e a música, executada ao vivo, remetem a elementos presentes no candomblé, como detalhes sobre cada orixá, seus cânticos e gastronomia, entre outros. O objetivo é estimular o respeito às diferentes crenças através do conhecimento. “A gente quis despertar isso nas pessoas. Essa é a maneira para entender a diversidade religiosa que existe no nosso país.”, afirma Albanita.
Arte como ferramenta
Sagrado
Dentro do grupo, apenas os atores Manoel Teixeira e Alisson Arruda, que também é sonoplasta, fazem parte da religião de matriz africana mas, apesar de professarem diferentes fés, todos acabam impactados pela energia dos locais por onde passam. “No teatro, o palco é um espaço sagrado. Quando estou num terreiro, estou exatamente neste palco sagrado“, diz Albanita, que é católica. Ela representa uma mãe de santo na trama e confessa que os espaços são primordiais para a composição de sua personagem.
Sobre a resposta do público, e dos frequentadores das casas onde o espetáculo é encenado, a diretora garante ser sempre positiva. Após cada apresentação é realizado um debate no qual a plateia pode fazer questionamentos e colocar suas percepções. O resultado tem, sido bastante satisfatório: “Onde chegamos somos abraçados”.
Próximas apresentações
Sábado (22) | 19h
ILÊ AXÉ OMÔ OGUNDÊ
Travessa Joaquim Távora, 794
PAULISTA/PE
Gratuito
29 DE OUTUBRO | 19h
EREM PROFESSORA EURIDICE CADAVAL
Avenida Frei Serafim,262, Centro- Itapissuma/PE
05 de Novembro | 19h
CENTRO ESPÍRITA SÃO JERÔNIMO ILÊ AXÉ DE XANGÔ
Rua Granito, 761,Cajueiro Seco, Jaboatão dos Guararapes/PE
12 de Novembro | 19h
ILÊ OGUIAN OLABOMAXÓ
Rua Malaquias Felipe da Costa, 11, Fragoso, Olinda/PE
Gratuito
26 de novembro | 19h
CENTRO CULTURAL ESTRELA DE LIA
Avenida Benigno Cordeiro Galvão, s/n, Praia de Jaguaribe, Ilha de Itamaracá/PE
Gratuito