Autores paraenses de ficção falam sobre processo criativo
Textos que narram experiências de vida em mundos distópicos e mostram dispositivos tecnológicos futuristas conquistam o público leitor mais jovem
Mundos distópicos, tecnologias ainda inimagináveis, futurismo e muita criatividade fazem parte da rotina de jovens escritores paraenses de ficção científica. A partir da paixão pela leitura ficcional, eles começaram a escrever suas próprias histórias e atualmente já conquistam públicos pela cidade.
O estudante de engenharia elétrica Fábio “Darren” Andrade escreve há quatro anos e atualmente finaliza a nova versão do seu segundo livro, chamado “Alch’Antra - A cidade assombrada pela luz”, uma distopia que aborda o ínicio de uma resistência. “Essa nova versão já está com uma pegada muito mais profissional, já passei por um momento de estudo em relação à escrita, e ele tá envolvendo uma trama que eu dificilmente vejo por aí em outros livros ou filmes, que é o início de uma resistência”, explica o escritor.
A publicitária e escritora Roberta Spindler, apaixonada por literatura fantástica, escreve desde da adolescência e atualmente já possui livros e contos publicados. Seu segundo romance, “A torre acima do véu”, publicado pela editora Giz Editorial, esgotou em sua primeira tiragem, e agora já se encontra em sua segunda edição. O livro acompanha a jornada de Beca, em um mundo pós-apocalíptico e futurista. “'A torre acima do véu' é uma distopia, e a história começa quando uma névoa misteriosa cobre todo o planeta. As pessoas começam a sufocar, e os últimos sobreviventes vão se abrigar em topos de megaedifícios”, explica Roberta. “A gente aborda uma sociedade que está no futuro, e esses edifícios têm cerca de 300 andares que ocupam quarteirões, e lá em cima eles criam uma nova sociedade”, completa.
Os escritores explicam que para escrever ficção científica, e para que a história se torne crível, são necessárias muita pesquisa e leitura de boas referências. Em “Alch’Antra”, Fábio conta que usou duas principais referências durante a escrita do livro. “Pra esse livro eu usei de referências o 'Admirável Mundo Novo' (Aldous Huxley) e '1984' (George Orwell). É um pouco difícil escrever distopia e sair desses dois, eles são a bíblia da distopia”, conta.
Como estudante de engenharia elétrica, o escritor revela que a aproximação com a pesquisa durante o curso ajudou durante o processo de pesquisa para o livro. “Quando a gente vai fazer alguma pesquisa, a maioria dos artigos são embasados em algo. Isso me ajudou a fazer pesquisa para o livro, eu fico de olho em grandes sites que apontam essas novas tecnologias, e acompanho séries que podem me dar um estalos de como criar”, revela.
Para Roberta, em a “A torre acima do véu”, a pesquisa focou em adaptar conceitos de tecnologia já existentes, porém que ainda não fossem usados, como tablets maleáveis, rede de computadores através de balões e gelatinas que substituem a energia e conseguem conservar alimentos. “Durante a pesquisa eu descobri um projeto da Google chamado 'Project Loon', que visa levar a internet para ambiente inóspitos tipo o deserto, sem antenas e cabos, somente através de balões com transmissores. Esse foi o conceito que eu usei pra criar a minha rede de computadores no livro”, conta Roberta.
A literatura ficcional paraense vem crescendo também por causa da interação de escritores e espaços de resenhas, onde amantes da leituras produzem conteúdo sobre os autores e livros, indicando para o público livros e autores. Esse é o caso da estudante de Medicina Marina Nascimento, que criou o blog “blogcomv.org”, espaço em que entrevista autores, produz resenhas e eventos. “Tudo começou com a necessidade de um lugar para os nossos textos, e posteriormente criar um mercado para o qual poderíamos vender nossos livros, mas acabou se tornando um meio de divulgação da literatura nacional em si”, conta Marina.
Marina revela que depois de procurar durante anos seu livro favorito em literaturas estrangeiras, ela o achou bem mais perto do que esperava: “Zon, o rei do nada”, do escritor paraense Andrei Simões. ”O livro que viria a ser meu livro preferido estava o tempo todo, literalmente, debaixo do meu nariz. Ao pesquisar por meio do Blog, conheci o escritor Andrei Simões, e descobrir que ele era paraense foi fantástico”, revela a blogueira.
Sobre a possibilidade de adaptação de uma das suas histórias para as telas da TV ou cinema, os escritores enfatizam a qualidade da escrita paraense para essa possibilidade. “Eu acho que todo o escritor já pensou em como seria a sua história na tela do cinema. Eu trabalhei com edição de vídeos e tenho uma ligação muito forte com o audiovisual. Já imaginei bastante essa possibilidade porque o livro é muito visual e tem bastantes cenas de ação”, enfatiza Roberta.
A escritora e blogueira, após ler tantas histórias da nova literatura paraense, enfatiza que a cultura regional proporciona conteúdos para possíveis adaptações audiovisuais. “Tem muitas histórias que poderiam virar filmes, curta-metragens e séries. As opções são infinitas e a cultura é muita propícia a isso. Creio que na parte de terror e literatura fantástica, esses são gêneros ainda muito pouco explorados no Brasil”, conclui Marina. Veja vídeo com entrevistas dos autores.
Por Ariela Motizuki.