A fraternidade dos artistas 'cover' que mantém Elvis vivo
Muitos dos melhores artistas 'cover' ficaram famosos no mundo dos fãs de Presley, e alguns até realizam casamentos
Matthew Boyce se sente como um super-herói quando coloca seu macacão de Elvis Presley e corre para o palco para explodir em movimentos de quadril em homenagem ao rei.
"Eu penso que se você vai interpretar um personagem, ele também pode ser sua inspiração", diz, ajeitando o cabelo, a maquiagem e as costeletas em uma transformação de mais de uma hora que faz do adolescente do século XXI prestes a ir para a faculdade reviver o superastro de 35 anos no auge da carreira, na década de 1960.
Matthew é um dos milhares de Elvis Tribute Artists, ou ETAs (artistas em tributo a Elvis) que trazem o ícone à vida no palco, seja como profissionais em tempo integral ou amadores entusiastas.
Mattew, 18 anos, é mais novo do que a lenda do Rock 'n' Roll quando ele gravou seu primeiro disco, e diz que desenvolveu seu interesse musical cedo em parte devido à influência de sua avó e tia, que eram grandes fãs de Elvis.
Ele começou a se apresentar aos sete anos, fez sua primeira performance remunerada aos oito e canta com uma banda desde os 13 ou 14 anos.
Agora, por ocasião do 40º aniversário da morte de Presley, ele participa de um concurso de ETAs em Memphis, onde os prêmios variam de US$ 50 a US$ 5.000, em três categorias: jovens, não profissionais e profissionais.
No palco do New Daisy Theatre, no centro de Memphis, ele encanta uma multidão entusiasmada de mulheres mais velhas com suas contorções pélvicas e performance elegante em seu macacão com estampa de tigre.
Mas sua obsessão por Elvis nem sempre o atraiu para seus colegas. Embora seja próximo do seu irmão mais novo Spencer, de 12 anos, que performa no palco com ele, Matthew diz que foi vítima de "bullying grave" da sexta à nona série.
- Super-herói -
"Esse foi um ponto baixo", diz. "Eu voltava para casa e os discos de Elvis sempre estavam lá para me ajudar a me sentir melhor".
O mundo dos ETA é um grupo de apoio unido, ou uma "família", como Matthew gosta de chamá-lo. Sua admiração por Presley é tão grande que eles nunca usam a palavra "imitador", porque acreditam que ninguém nunca poderá recriar completamente a magia única da aparência, voz e presença do artista falecido.
Muitos dos melhores artistas 'cover' ficaram famosos no mundo dos fãs de Presley, e alguns até realizam casamentos. Os melhores shows de homenagem são assuntos sérios, realizados com reverência.
Mas este também é um negócio caro. Matthew voou para Memphis de sua casa, no estado de Nova York, com seus pais e irmão. Nas turnês ele pode ganhar entre US$ 300 e US$ 5.000, mas só os macacões podem custar até US$ 5.000.
"Você se sente como um super-herói vestido com eles", entusiasma-se Matthew.
Muitos de seus concorrentes são consideravelmente mais velhos - homens em seus 50 anos, ou até 70 -, que prestam homenagem a uma lenda que morreu aos 42, em agosto de 1977.
Matthew pode se mover com energia pelo palco de uma maneira que alguns artistas de meia idade não conseguem mais. Ele irá para a faculdade no outono para estudar a indústria da música e educação, e sonha com uma carreira em tempo integral.
"Ainda tenho uns bons 15 anos pela frente", afirma.
- Abraços e beijos -
"Quero dizer, você não pode fazer o Elvis para sempre. Há um momento em que você tem que parar, e que os movimentos vão machucar demais e não vou mais me parecer com o personagem".
Ao contrário de Matthew, Ron Tutor, um ETA que possui um salão de cabeleireiro na área de Chicago, começou tarde. Ele tem 52 anos e vem fazendo Presley em tempo parcial há quatro anos, pela diversão e para conhecer os fãs.
"Eles sabem que não somos Elvis, mas nos tratam assim. É simplesmente incrível quando nos abraçam, beijam e pedem autógrafos", diz Tutor com um sorriso enquanto se prepara para entrar no palco.
Ele faz dois shows por ano e participa do circuito de competição não profissional, o que lhe rende algum "dinheiro para a gasolina", mas não muito mais do que isso.
Para a competição, ele desafia o calor de Tennessee em uma roupa justa de couro, e admite que seu rosto ainda precisa de "um pouco de maquiagem".
"É uma ilusão no palco, e eu sempre brinco com a minha esposa: 'eu fico melhor a seis metros de distância, então não dê zoom em mim'".
Mas os fãs adoram.
"Eles estão se certificando de que o legado continua", diz a admiradora de Elvis Angela Todd, de Michigan, em Memphis para o aniversário da morte do cantor. "Eles estão honrando o seu legado".