'Lucy' não sabe que tipo de filme quer ser

Jean Grey - O filme

por Guilherme Jacobs ter, 26/08/2014 - 17:43
Divulgação/Universal Pictures Scarlett Johansson estrela 'Lucy' Divulgação/Universal Pictures

A primeira coisa que deve-se ter em mente ao assistir Lucy, novo filme do diretor francês Luc Besson, é que ele é baseado num mito. Humanos não usam apenas 10% dos seus cérebros, e boa parte das formas com a qual o usamos ainda é um mistério para a ciência. Deixando isso de lado, é possível aproveitar melhor a premissa do filme, que não é lá uma novidade. No longa, Lucy (Scarlett Johansson) é raptada e acidentalmente injetada com uma droga que pouco a pouco vai abrindo seu cérebro, até que ela chegue a 100% de controle. 

Lucy cai numa armadilha que já pegou vários filmes de ficção científica, mais recentemente Transcendence e o RoboCop de José Padilha. Todos apresentam conceitos muito interessantes e que, se bem explorados, dariam fantásticas histórias. Mas ao invés de se aprofundar, o roteiro, também de Luc Besson, se mantém pequeno, recheado de cenas de ação e com um enredo extremamente simples. As coisas que acontecem com a personagem principal conforme ela vai avançando são fascinantes. Perda de humanidade, omnipresença, ecolocalização, etc.

Qualquer uma destas habilidades sozinhas dariam um ótimo filme, mas elas são rapidamente descartadas enquanto assistimos a polícia em um tiroteio com traficantes. O que deixa a situação ainda mais estranha é que Besson nunca abraça a natureza de ação que está presente ao longo da trama. No fim, Lucy não sabe que tipo de filme quer ser, um ficção científica cheio de conceitos maiores do que a vida, ou um filme de ação com uma história mais presa na realidade. Isso não quer dizer que Lucy não diverte, ver a Scarlett Johansson virar a Jean Grey dos X-Men é legal, mas há muito mais potencial no roteiro. 

A situação é bem melhor quando o assunto são os atores. Johansson continua apresentando uma atuação boa atrás da outra. Seu trabalho aqui pode não ser tão memorável quanto sua críptica atuação em Sob a Pele ou tão cheio de emoção quanto em Ela, mas ela mostra um ótimo leque de habilidades. Antes de ser injetada com a droga, Lucy é uma pessoa, depois, ela é outra completamente diferente. Johansson cria e traz à vida duas personagens completamente diferentes, uma amedrontada e sem confiança, a outra fria e quase robótica. Há um momento pouco depois de ela obter mais controle sobre o cérebro que em que é possível perceber que Lucy está perdendo seus sentimentos, e Johansson interpreta essa terrível transição de forma impecável. 

Já Morgan Freeman interpreta o professor Norman, e é exatamente o papel que os trailers indicam que seria. O personagem de Freeman é mais dos famosos cientistas do cinema que só estão no filme para explicar o que está acontecendo na história. O que aconteceria se nós controlássemos 20% do cérebro? Ou 40%? Quais os perigos disto? Não se preocupe, que em sua primeira cena em Lucy, Freeman vai explicar tudo. Ele é um excelente ator, mas seu papel aqui tem pouquíssima variedade, então a culpa por trás de sua entediante atuação é basicamente toda do roteiro. Não é a primeira vez que Freeman escolhe um papel assim, mas com sorte será a última. 

Lucy não é um filme sutil, há metáforas visuais que chegam a ser bobas de tão óbvias, e é possível que Besson saiba disso. A verdade é que Lucy é exatamente isso, um filme bobo. Os visuais são legais, mas o conteúdo não é muito. Ele não é ruim, mas não tem tempero. Se você está procurando um filme só para passar o tempo, este longa é uma boa escolha, do contrário, vá ver Guardiões da Galáxia pela segunda (ou terceira) vez.

 

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