Palavras são vida em ‘A menina que roubava livros’
Adaptação do livro de Markus Zusak estreia nos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (31)
Um velho ditado afirma que, para viajar, basta ler um livro. Essa frase ganha sentido na história de Liesel Meminger, a menina que roubava livros. A trama se passa na Alemanha nazista durante Segunda Guerra Mundial, período de repressão e censura por parte do Governo. Aprisionada nesse mundo, Liesel busca sua liberdade através do poder dos livros.
A menina que roubava livros é uma adaptação do best-seller de mesmo nome lançado em 2005 e escrito por Markus Zusak. Ao transformar a obra literária para o cinema, o roteirista Michael Petroni acerta, sem deixar de lado algumas passagens importantes da obra. Aliás, assim como o livro, o filme também é narrado pela Morte, representada por uma voz forte e ao mesmo tempo aconchegante.
Liesel Meminger é uma menina abandonada pela mãe e entregue a uma nova família, composta por Rosa Hubermann (Emily Watson), uma mulher com o coração de pedra, e Hanz Hubermann (Geoffrey Rush), um homem tão doce quanto o som do seu acordeão. A peculiar narradora (a Morte), em meio a toda tragédia, fica encantada com a pequena Liesel no momento em que uma pessoa próxima à garota perde a vida.
Em quase todo filme, é notável a técnica de close-ups utilizada pelo diretor Brian Percival, que mostra seu bom trabalho na harmonia entre as cenas, principalmente quando faz um paralelo entre o coral da escola de Liesel e um ataque do exército nazista na chamada Noite dos Metais. De forma inteligente, o diretor não utiliza o close à toa. Ele situa o espectador e amplia a cena em uma sequência aberta.
A atriz Sophie Nélisse (Liesel) não parece ter ficado intimidada pelo close up e mostra todo seu talento nas cenas. Percival também brinca com o foco, que termina sendo uma boa maneira mostrar qual personagem é importante naquele plano. Mesmo vigiada pela morte, Liesel se mostra uma menina corajosa e inteligente.
A garota encontra nos livros a liberdade que faltava na Alemanha Nazista. Nesse período, muitos livros foram queimados, pois a única coisa que um governo ditatorial pode temer é o conhecimento. Em busca de sua liberdade, a menina às vezes rouba uns livros. “Nem sempre foi meu”, essa é o eufemismo que Liesel usa, com muita perspicácia, para explicar os furtos.
Outra marca inteligente do filme é o uso da trilha sonora feita por John Williams ao piano. Outro destaque é o acordeão do senhor Hanz Hubarmann, que toca de forma delicada músicas conhecidas mundialmente como a do nascimento do menino Jesus. Um momento bom para apreciar o som é durante um ataque a Alemanha. Durante esse cena, o momento se torna uma valsa, comandada pelo acordeão de Hubarmann.
Além de emocionar, a história da corajosa Liesel, tanto no filme como no livro, traz uma reflexão para a atualidade. Em um mundo no qual a “falta de tempo” é a desculpa da vez, as pessoas só irão valorizar o poder da escrita e da leitura quando a liberdade para o conhecimento estiver ameaçada. Afinal, nada é mais libertário do que as palavras.