'Ninfomaníaca': tudo à mostra e pouco choque
Primeiro volume do filme de Lars Von Trier estreia nesta sexta (10) no Brasil
O dinamarquês Lars Von Trier é conhecido por colecionar provocações cinematográficas disfarçadas de arte. Em seu novo filme Ninfomaníaca, o cineasta não foge da sua linha de produção. A primeira parte do filme estreia no Brasil nesta sexta (10) e traz cenas pornográficas com tudo à mostra, frases de efeito e a história de uma mulher autodiagnosticada como viciada em sexo.
Ninfomaníaca conta a história de Joe (Charlotte Gainsbourg), uma moça que conhece a ninfomania desde a adolescência. O filme inicia com a protagonista desmaiada e com o rosto sangrando em meio à neve. A sinestesia e uma trilha com rock pesado introduz o espectador na história. Um pescador (Stelan Skarsgard) a leva para casa e lhe dá o que beber. Joe começa a contar a sua vida sexual desde a infância, relembrando passagens que a enchem de culpa. A grande 'musa ninfomaníaca' é vivida pela franco-britânica Charlotte Gainsbourg, que também atuou em Anticristo e Melancolia.
Mesmo com tudo à mostra e a questão psicológica, o filme de Lars Von Trier choca pouco. Ninfomaníaca não vai decepcionar quem for ao cinema atrás de pornografia leve. Contam-se mais de dez cenas de sexo entre a Joe jovem (Stacy Martin) e seus parceiros. Em uma cena, Joe faz uma aposta com uma amiga: pegar homens casados e solteiros no trem, transando com eles no banheiro. A recompensa é um saquinho de chocolates. Esta cena está no trailer que, assim como o filme, NÃO É RECOMENDADO A MENORES DE 18 ANOS. Assista:
O primeiro volume de Ninfomaníaca - que tem ao todo cinco capítulos - contém vários tipos de sexo, uma bateria de closes de pênis em série, além do close de uma punção numa vagina (desnecessário e desconfortante). Numa montagem paralela, Joe transa com quatro caras diferentes, dizendo a cada um deles que é sua primeira vez.
Durante o longa, a ninfomaníaca se define como uma pessoa má, que se preocupa apenas com seu prazer (viciada em luxúria não por necessidade, mas pela satisfação do prazer), sem levar em conta os sentimentos das outras pessoas. O pescador ouvinte tenta encontrar uma lógica naquilo que escuta, apelando para referências como a arte da pesca da truta, números de Fibonacci e a polifonia de Bach, respectivamente.
Para não dizer que o filme tem tudo para ser sem graça para boa parte do público, duas grandes sequências chamam atenção em Ninfomaníaca: uma com a atriz Uma Thurman como a esposa abandonada de um dos parceiros de Joe, que leva os filhos para conhecer o apartamento da ninfomaníaca e outra com Christian Slater, como o pai da protagonista à beira da morte. Não se pode deixar passar em branco o relacionamento de Joe com o pai. Desde criança, a relação da viciada com o pai sempre foi muito amorosa. Já com a mãe, Joe não teve a mesma sorte.
Para tornar mais artística a jornada sexual da moça, as frases de efeito equilibram as cenas pornográficas: "Minha diferença em relação aos outros é que eu sempre esperei mais de um pôr do sol"; "Para mim, o amor sempre foi apenas luxúria somada ao ciúme"; "O ingrediente secreto do sexo é o amor". No longa estão as principais marcas do cineasta: protagonista feminina, nenhum pudor nas cenas eróticas, divisão por capítulos e a tentativa de convencer o espectador de que ele está vendo algo artístico.
Versão censurada
A primeira parte de Ninfomaníaca (volume I), que estreia nesta sexta (10) é uma versão editada pelos produtores e com menor duração, com 110 minutos. A segunda parte (volume II) com 130 minutos, estreia em março deste ano. A versão de 5h30, sem cortes será exibida no Festival de Berlim, em fevereiro. A Califórnia Filmes, distribuidora de Ninfomaníaca no Brasil, pretende lançar também a versão integral nos cinemas.