Performance e realidade no espetáculo "Ímã"

Grupo Totem apresentou sua visão dos rito de passagem com um casamento realizado de verdade durante a performance

por Felipe Mendes seg, 01/10/2012 - 10:34

Cerca de duzentas pessoas estiveram na Torre Malakoff, no Bairro do Recife, neste sábado (29), para conferir Ímã, o terceiro espetáculo resultante da pesquisa A performance do humano: da pedra ao caos, promovida pelo grupo Totem. Nesta terceira etapa, o grupo se concentrou nos ritos de passagem, presentes em todas as sociedades, focando no casamento.   

"Quem passa por um rito de passagem tem a expectativa de se tornar outra pessoa", afirma Fred Nascimento, diretor do grupo, explicando que "Nossa ideia central é que a performance é o rito contemporâneo". Na entrada, cada pessoa recebeu um ramo ornamental de trigo, entrando no clima ritualístico dos espetáculos do Totem desde a chegada.

Como de costume para o grupo, a música foi executada ao vivo por Fred Nascimento (percussão), Cecília Pires (flauta transversal) e Fred Lyra (guitarra), criando ambientações para as performances de Lau Veríssimo, Gabriela Holanda, Inaê Veríssimo, Juliana Nardin, Taína Veríssimo, Ronaldo Pereira, Tatiana Pedrosa, Gabi Cabral e Renato Feitosa.

Dividida em duas partes, Imã é uma alegoria sobre a atração entre as pessoas, polos opostos, e seus ritos para confirmar socialmente a condição de casal. A primeira parte é uma preparação para o casamento e o entendimento de sua condição ritual. O uso de imagens projetadas diretamente nas paredes da Torre Malakoff trazendo fotos de ritos de povos que conservam aspectos de sua cultura primitiva enriqueceu a performance, que teve como um ponto alto o momento em que três performers femininas realizam um balé para que uma vista a outra.

Na segunda parte, a mistura de teatro, dança, música e performance do Totem ganhou mais elemento especial: a realidade. Duas pessoas do elenco - Gabi Cabral e Renato Feitosa - realizaram um rito real de casamento. Ainda que existisse um roteiro e marcações de cena, a emoção do casal era visivelmente verdadeira. Juntos, eles construíram um totem peça a peça, e nele se casaram.

A cerimônia ritual se encerrou com uma marcha nupcial do casal por entre o público, que recebeu vasilhas com essência de flor de laranjeira para espirrar nos noivos. A dualidade alegoria/literariedade do casamento deu ao espetáculo uma riqueza expressiva maior, e uma beleza também. "Eu compartilhei alegria, foi um momento de troca", disse Gabi para o LeiaJá. Gabi e Renato estão juntos há cinco anos e meio e, durante o processo criativo de Ímã, decidiram morar juntos, daí surgiu a ideia de realizar seu "rito de passagem" como parte da performance.

"Não sou performer", avisa Renato, que participou pela primeira vez de um espetáculo do Totem. Ele explica que todo casamento é um evento público, e que, no palco, viveu algo verdadeiro. "É como concretizar o que você está sentindo", reflete o sociólogo. O casamento teve direito a festa particular depois da performance.

"Eles conseguiram prender o público", avalia o músico Fábio de França, que assistiu a uma performance do Totem pela primeira vez. Os performers, músicos e noivos foram aplaudidos de pé ao fim do espetáculo que celebra a vida e o amor.

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