Vinil para quebrar as barreiras da arte

"Levando os elepês de Gal para passear" surpreende

por Diogo de Oliveira sab, 15/09/2012 - 11:01
Divulgação/Andre Laws Primeiro dia da exposição Divulgação/Andre Laws

Na graduação em jornalismo e marketing, Arthur Scovino respondeu uma prova final e a professora lhe disse: “Arthur, seu texto é bom, mas não posso aceitá-lo. Sua criatividade não cabe em um curso de jornalismo”. Era um aluno com idade avançada. Aos 19 anos trabalhou numa seguradora no Rio de Janeiro. “Eu poderia fazer o que quisesse até meus 28 anos”, afirmou Arthur. A produção criativa do organizador da exposição Levando os elepês de Gal para passear (2011/2012) se resumia à sedução de trabalhar para o marketing e ganhar dinheiro com isso usando sua criatividade para a publicidade e propaganda. 

A rotina do Rio de Janeiro foi descrita da seguinte maneira: pressão, quantidade de gente e carros. Foi carioca até se tornar baiano da Boca do Rio e estudante do cotidiano soteropolitano, por sinal, na escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 2009. 

No Coletivo Mi_Zera, eles se reúnem uma vez por semana para ler, pesquisar e produzir arte contemporânea e ‘performar’ com cafés e conversa durante a tarde. Umas das intervenções do Coletivo foi o Piscnião. Carol Santana, Gabriel Guerra e Arthur Scovino instalavam uma piscina de plástico infantil com fotografias em bandejas de isopor de mortadela, queijos e cortes finos embaladas com plástico filme transparente. As bandejas ficavam navegando na piscina entre os corpos dos performers. O Coletivo Mi_Zera, nas palavras de Arthur é “um grupo de amigos com afinidades que investiga o pensamento contemporâneo através da performance e tem o humor como marca registrada”.

Ele andava com os LP’s de Gal por todos os lugares. O disco de vinil é como a identificação. Antes da intervenção no aniversário da cantora Ivete Sangalo, em maio de 2011, Arthur acordava bem cedo para não pegar o ônibus cheio e saia cedo do campus da UFBA, no bairro São Lazaro, para conseguir uma cadeira vazia no lado esquerdo do ônibus. E estudava a orla durante o percurso até sua casa na Boca do Rio. Isso aconteceu durante três anos de graduação.

A cena da performance com os LP’s da cantora Gal Costa é descrita por Arthur da seguinte forma: "no dia 27 de maio, andando pela Praça do Campo Grande, em Salvador, parei para ver o movimento dos fãs de Ivete Sangalo que se aglomeravam na entrada do condomínio onde mora a cantora. Lembrei dos anos 80 e do sucesso popular de Gal Costa, que morava no mesmo prédio. Frevos no carnaval, programas de TV, capas de discos... Imaginei os fãs de Ivete exibindo LP’s como estandartes, ilustrando e colorindo aquela tietagem performática. Pensei em entrar no meio deles com meus colegas da UFBA empunhando vinis de Gal Costa... Desde esse dia passei a levar os elepês de Gal para passear comigo, para que respirem novamente os ares das ruas onde, em outros tempos, transitavam das lojas para as casas, das casas para as festas, para outras casas, escolas...” .

Andrea May, do Ateliê Coletivo Visio da capital baiana, afirmou que “Levando os elepês da Gal para passear atrai pela estranheza e leveza de uma ideia que tanto repercutiu em seus desdobramentos de excelentes resultados consolidando-se agora em uma mostra multimídia completa cujo pensamento une conceito artístico e inconsciente coletivo”. 

Produção de performance coletiva e exposição em galeria

A performance de Arthur Scovino durou entre o meses de maio e dezembro de 2011. Nesse período, ele passeou com os ‘elepês’ de Gal por todos os cantos. Comprou discos de vinil, ganhou, posou para fotos e as fez. “A performance terminou em si”, foi o que ele disse. Nesse período, o blog onde registrou algumas peças da performance conta 195 postagens e quase três vezes mais a quantidade de arquivos compartilhados. As interações entre público, artista e Lp’s entram nas legendas de algumas fotografias, registrando a mudança no cotidiano de Arthur e das pessoas envolvidas.

Na fotografia de 3 de junho de 2011 G Barbosa de Lauro de Freitas – auto retrato, ele nos conta:  “As crianças do colégio me perguntaram o que era. Vendo o LP fora da capa, responderam: ‘Oxe, professor! cabe música pra *** aí, né?’. Semana que vem terão aula de História do vinil, pois hoje foi dia de gincana”

Nos dias 13 e 14 de setembro, foi ao encontro da musa inspiradora no lançamento do álbum Recanto no projeto VivoRio, no Rio de Janeiro. Algumas colaborações vieram de Buenos Aires (Argentina), New York (EUA) e Portugal. Outras imagens foram produzidas no interior da Bahia, sendo feitas por Arthur e amigos.

De dezembro de 2011 a setembro de 2012, Arthur esperou a poeira baixar e transformou a performance em exposição multimídia. Além de apreciar a montagem com as imagens fotográficas produzidas por ele, o público pode interagir com os toca-discos, licor álbum Fantasia, sorrisos de gato de Alice, artistas dentro e fora da galeria, músicas e performances. Um desafio cumprido no último passeio com os Lp’s de Gal. 

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