Para acostumar nossos ouvidos
Noite de improvisações livres no Mamam, com a Hnöir (BRA) e Viva La Muerte (ARG)
A impressão de quem chegou na quarta-feira (10) ao Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) era de que os equipamentos culturais precisam reconhecer o aumento do público interessado em novas experimentações artísticas.
Mesmo bastante seleto - mais ou menos aquele mesmo público que frequenta aberturas de exposições, lançamentos de revistas de crítica cultural e afins -, as apresentações da noite começaram com sessão lotada às 20h (com uma hora de atraso), no auditório do museu.
A primeira apresentação foi do grupo de alunos participantes da oficina com o músico argentino Fernando Perales, que veio ao Recife a convite do coletivo Estranhas Ocupações, em parceria com o projeto Reverbera. A apresentação foi a sessão mais lotada da noite, confirmando a idéia de que eventos no meio da semana ainda não são totalmente digeridos pelo público recifense.
“Já tinha visto a apresentação deles no bar Iraq, gostei muito, inclusive do trabalho visual das capas do disco, simples e criativo”, afirmou o artista Iezu Kaeru, que trabalha com experimentações sonoras e audiovisuais no Oi! Kabum, e fez a trilha sonora do documentário/ficção “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro.
Com a sala um pouco mais vazia, a banda pernambucana Hnöir apresentou seu trabalho “sonoro-plástico”, como descreve um dos membros da banda, Henrique Vaz. “Geralmente não temos muitos espaços para tocar, é sempre um convite de alguém”, fala o multinstrumentista, que tocou na noite violino, clarinete e flauta. Ruídos perturbadores, luzes apagadas, o som da flauta e os arranhados de guitarra. De fato, uma noite de sonoridades próprias de trilhas sonoras.
A esperada apresentação de Viva La Muerte, que se apresentou por volta das 22h, já teve um cenário diferente. Com a sala visivelmente vazia, a apresentação foi bem mais intimista do que a agressividade da anterior. “Boa noite, me chamo Fernando Perales, esse é meu projeto Viva la Muerte. Gostaria de agradecer a Yuri por estar aqui”, comentou o argentino antes de sua apresentação, referindo-se a Yuri Bruscky, do selo Estranhas Ocupações.
Mas, apesar da saudável novidade do evento, algumas pessoas saíam da sala, deixando a impressão de que, assim como é preciso acostumar o público a ver filmes “lado b”, é preciso possibilitar novas experiências sonoras, a fim de desconstruir os sons que estamos acostumados a consumir.