Duas características se tornaram marcas registradas nos filmes de super-heróis vindos dos quadrinhos. O público desses filmes (e principalmente que é fã de quadrinhos) espera ver esses dois elementos nos filmes. Mas o que são essas duas coisas? Vamos ver exemplos de ambos:

Cameo:

Um Cameo é uma aparição em um filme de uma pessoa famosa num papel de figuração ou em um papel que não tenha interferência direta no desenrolar da história do filme. Nesta cena acima (retirada do filme "Os Pássaros") o diretor do filme, o célebre Alfred Hitchcock interpreta o despretensioso papel de um senhor saindo de uma pet shop com dois cachorrinhos simpáticos.

Hitchcock afirmou em entrevista que fazia aparições cameo em seus filmes inicialmente por causa da falta de figurantes em seus filmes (que não iniciaram como grandes produções) mas que se tornaram um hábito... uma assinatura percebida pelos seus fãs em todas as suas obras. Nos filmes recentes da Marvel temos a presença de um Cameo recorrente: a figura de Stan Lee.

O currículo de Stan Lee inclui: escritor de quadrinhos, editor, produtor, apresentador de TV, presidente e diretor da Marvel... além de ator! Ator exatamente porque ele faz aparições em basicamente todos os filmes de super-heróis da Marvel, o que inclui:

- Na série de TV do Demolidor (no Netflix), foto dele na parede;

- Em Amazing Spider-Man II, na arquibancada;

- Em Homem-Aranha, na cena da explosão da sacada ele salva uma menininha dos destroços da explosão da sacada;

- Em Homem-Aranha II ele salva uma senhora dos destroços que caem do prédio;

- Em X-Men (2000), vendendo cachorro-quente na praia;

- O julgamento do Incrível Hulk (1989), membro do juri;

- Capitão América: caracterizado como soldado veterano;

- Homem-Aranha III: palavras de sabedoria para o jovem Parker;

- Quarteto Fantástico: interpretando o gentil carteiro que entrega correspondência no edifício Baxter;

- Thor II: como um dos pacientes no sanatório;

- Homem de Ferro III: como jurado em um concurso de beleza;

- X-Men III (the Last Stand): como vizinho da jovem Jean Grey;

_ Agent Carter: importunando um personagem, pedindo uma sessão do jornal emprestada;

- Homem de Ferro II: em meio a um grande evento sendo confundido com Larry King;

- Thor: dirigindo uma pick-up tentando mover o Mjonir;

- O Incrível Hulk (2008): bebendo uma bebida verde na geladeira (o que todos esperavam que fosse transformar ele no Hulk...);

- Guardians of the Galaxy: num planeta distante, paquerando com uma bela alienígena;

- Agents of Shield: dando conselhos amorosos;

- Capitão América: Winter Soldier: segurança que deveria guardar a roupa do Capitão América;

- Big Hero Six: o pai do garoto que aparece na cena final, incentivando-o no mundo do heroísmo;

- Demolidor (2003): Matt Murdock o salva de ser atropelado (mesmo sendo ainda um garotinho cego);

- Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer: no papel dele mesmo sendo barrado na festa do casamento;

- Vingadores: aparece na TV denunciando os Vingadores de serem uma farsa;

- Hulk (2003): acompanhado pelo segurança do instituto de pesquisa (o ator que fazia o Hulk no seriado de tv dos anos 80: Lou Ferigno);

- Homem de Ferro: em uma festa, cercado de elas mulheres;

- Amazing Spider-Man: usando fones de ouvido na biblioteca onde ocorre a cena da luta (e ele nem percebe a luta).

Esta listagem foi divulgada no site http://zap2it.com/2015/04/stan-lee-marvel-cameo-ranked/ :)

Cenas pós-créditos

A Marvel decidiu não fazer mais filmes... não! Hoje ela tem um PROJETO! O que significa que seus filmes estão interligados e além de contar, cada um, uma história individual, eles também contribuem para uma história maior, presente num panorama expandido... Esse panorama expandido só é percebido quando temos uma conexão entre os filmes isolados.

Nessa cena, exibido após os créditos do filme Thor (2011) vemos como um elemento desse filme caiu nas mãos de Loki, o que desencadeia os aconteceimentos do filme Vingadores. Esse filme poderia ser compreendido sozinho, mas com essa explicação tudo faz mais sentido para os fãs.

Nas cenas finais de Homem Formiga, não apenas temos a origem do personagem Vespa (insinuado como a filha do Homem Formiga original usando um traje projetado por ele) como temos a sugestão de como o próprio Homem Formiga se encaixará no cenário expandido (através do Falcão ele chegará ao Capitão América).

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima representa os espectadores do novo filme do Quarteto Fantástico... esperando os créditos só para ver que NÃO TEVE cena pós créditos e NÃO TEVE nenhuma cameo... e se perguntando se esse foi o pior filme de heróis da Marvel dos últimos anos...

Provavelmente sim! 

Os filmes de super-heróis se tornaram grandes campeões de bilheteria. A frequência com que esses filmes são lançados se torna cada vez maior. E com o retorno financeiro cada vez maior, as produções ficam mais caras e as produções cada vez melhores.

Mas nem sempre foi assim... alguns filmes foram produzidos e lançados com os orçamentos e técnicas das suas épocas, o que custou parte da confiança do público, mas com o tempo vieram a ser revistos e melhoraram sensivelmente. E essa semana estreou um dos filmes mais esperados no segmento dos heróis: o Quarteto Fantástico.

Essa equipe foi criada em 1961, representando a ideia da família americana. O Senhor Fantástico, apaixonado pela Garota Invisível (que depois passou a se chamar Mulher Invisível), o irmão dela: o Tocha Humana e o grande amigo de Senhor Fantástico, o Coisa, que ganharam seus poderes ao serem expostos à radiação cósmica. Vamos dar uma olhada na evolução desses heróis no cinema para ver como eles chegaram até aqui.

1) 1994

Esse filme contava a origem do grupo e sua luta contra seu arqui-inimigo, o Doutor Destino. Ganhou belos rankins do site Rotten Tomatoes, que seria uma premiação para os piores filmes. Sem muito mais o que dizer sobre esse.

2) 2005

Em 2005 basicamente a mesma história: apresentar a equipe, apresentar o arqui-inimigo, blá blá blá... mas a produção atingiu um nível bem mais elevado com a evolução dos efeitos especiais e os orçamentos mais altos, incluindo atores conhecidos, como Chris Evans e Jessica Alba. Ainda assim, o Coisa parecia um boneco de plástico.

3) 2007

Saindo da temática de apresentar a equipe, "Rise of the Silver Surfer" apresenta uma das temáticas mais recorrentes do Quarteto: interagir com ameaças extra-terrestres e nenhum personagem incorpora tão bem a ameaça do espaço como Galactus, o devorador de Mundos e seu arauto: o Surfista Prateado. Se o primeiro filme captou a atenção do público mundial, esse não foi muito bem recebido... gerando um hiato de oito anos até um reboot da franquia.

4) 2015

Como todo reboot, o filme em cartaz hoje tem o mesmo enredo do filme de 1994 e o mesmo de 2005... aparentemente a cada dez anos a história precisa ser recontada.

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima é do mesmo filme de 1994, mas por quê? Porque esse filme, para os padrões de hoje, é simplesmente FANTÁSTICO (com o perdão do trocadilho). Mas não acredite em mim... veja por você mesmo:

Veja pelo menos os dois primeiros minutos, que são o trailer desse filme... Você vai gostar mais dos filmes modernos depois disso!

Nerd que é nerd gosta de estudar. Não necessariamente gosta de assistir aula, mas gosta de estudar. Mas como todo nerd é filho de Deus, também gosta de férias... e nessas férias o cinema estava particularmente atrativo para quem gosta de quadrinhos, ficção científica, animação e coisas afins.

De vez em quando alguns filmes precisam tratar de insetos... e como não amar essas criaturinhas do nosso dia a dia? Eles estão conosco e quem nunca imaginou que elas conversem ou o que fazem quando não estamos olhando?

Mas, diferente de animais que podem ser treinados, como fazer para que esses insetos atuem na tela? Somos obrigados a utilizar recursos da computação gráfica que os anime. Fazer com que pareçam naturais e ainda assim despertem sentimentos não é nada fácil.

Vamos ver dois casos em que esses insetos foram parte do filme e acabaram roubando a cena

1) Joey e as baratas

O protagonista deste filme de 1996 (Joey) mora num apartamento INFESTADO e baratas, que se tornam suas amigas. Conversam com ele e até cantam e tentam ajudar na sua vida amorosa (obviamente piorando tudo).

A animação foi um pouco controversa, primando pelo realismo dessa criatura tão detestada criou desconforto em muitas pessoas.

2) Homem Formiga

Filme lançado esse ano, o personagem de Paul Rudd se torna um super-herói que encolhe e que se comunica com insetos através do seu traje especial, criado por um cientista do qual ele achava que iria roubar, mas que estava tramando tudo para acontecer exatamente dessa forma.

Se tratando de um filme de super-heróis (dentro do universo dos Vingadores) as formigas acabam salvando o dia quando bem utilizadas, conseguindo até gerar a empatia que nos dá pena quando uma das formigas morre. Leal companheira e montaria do nosso herói.

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima é do filme Formiguinhaz, de 1998. Diferente dos filmes aqui mencionados, é um filme 100% animação, onde todos os personagens são animações computadorizadas. Num caso como esse, o universo é deles e eles não são mais formigas ou insetos, são os protagonistas ao invés de serem um elemento pontual inserido no mundo dos humanos.

Um tema que embala vários filmes de ficção científica e que tem reaparecido nos cinemas atualmente, as viagens no tempo são sempre muito intrigantes. Dependendo do roteirista, várias explicações e várias mecânicas de como conseguir o deslocamento temporal podem ser apresentadas, mas alguns padrões costumam ser mantidos.

Um dos pontos mais recorrentes entre esses padrões é o paradoxo. O paradoxo é uma contradição que resulta da mudança no passado causada por quem veio do futuro. Afinal de contas, quem viaja do futuro para o passado SEMPRE altera o passado... seja propositalmente ou acidentalmente. Paradoxos são situações que impedem a lógica da própria existência, o mais popular sendo "o paradoxo do vovô"... Uma situação em que a pessoa que volta no tempo encontra seus antepassados e mata esse antepassado ou de alguma forma impede as condições para o seu próprio nascimento. Imagine que essa pessoa nasceu em 1981 e no ano de 2015 volta no tempo para o ano de 1975 quando seus pais se conheceram e impede que se conheçam. Se eles não s conhecem, não namoram e ele não nasce. Mas se ele não nasceu ele não pode voltar no tempo. Se ele não voltou no tempo ele não impediu o namoro e assim, ele nasceria normalmente. Se ele nasceu normalmente, o que o impediria de voltar no tempo? Esse looping é o paradoxo e isso poderia fazer a realidade deixar de existir como a conhecemos.

Vamos observar alguns casos recentes e de que forma cada um deles aborda a viagem no tempo:

1) X-Men: Days of Future Past

No filme mais recente da franquia X-Men, Days of Future Past, o método para voltar no tempo foi o poder mutante Kitty Pride (embora nos quadrinhos tenha sido a mutante Rachel Grey). Através do seu poder ela desloca a consciência de Wolverine para que assuma o controle do seu próprio corpo décadas no passado para que ele possa mudar eventos que (eles acreditavam) levaria à situação terrível em que se encontravam. Segundo o filme indica, as alterações deram certo e a história foi reescrita a partir da década de 1970.

2) Efeito Borboleta

Neste filme, que fica no limiar entre a ficção científica e o romance, não há uma explicação clara para a forma como a viagem no tempo funciona, ou mesmo SE É uma viagem no tempo ou algum tipo de poder de alteração da realidade... O fato é que o personagem central se mostra capaz de reviver certos momentos de sua vida, podendo agir de forma diferente. O nome do filme se dá em homenagem à teoria do caos que diz que o bater das asas de uma borboleta pode causar furacões do outro lado do mundo pela forma como altera os acontecimentos. No filme, sempre que um momento de sua vida é revivido no passado as consequências no presente são enormes (algumas para o bem e outras desastrosas). E é um dos filmes mais elegantes que eu já assisti.

3) O Exterminador do Futuro: Gênesis

Neste que é o quinto filme da franquia, a volta no tempo em si não é particularmente abordada (uma grande máquina, muitas luzes, alguns raios de energia e pronto). A ideia de voltar no tempo e alterar o futuro é usada de uma forma um pouco mais criativa, aqui. Se uma volta pode alterar o passado e transformar todos os eventos posteriores, o que aconteceria se uma outra viagem mandasse alguém para um momento ainda mais no passado? Isso quer dizer que a mudança do passado não tão antiga já teria sido alterada.

O filme se dá ao luxo, em uma determinada cena, de lançar a pergunta: "se alteramos o tempo, essas alterações ainda nos afetam ou nos tornamos imunes por sermos agentes sobre o tempo"? Essa simples questão (que se perde porque o filme é primordialmente um filme de ação) poderia ser levada na profundidade e redefinir a teoria dos paradoxos e levar os filmes de viagens no tempo a outro nível. Seria, poderia, teria... mas não foi ainda. Quem sabe em outro filme.

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima é do filme "De Volta para o Futuro", lançado no ano de 1985, onde o próprio enredo do filme se baseia na viagem no tempo, os esforços de um cientista em atingir esse objetivo, as dificuldades da viagem e as trapalhadas do jovem amigo do cientista para tentar recriar as condições para retornar ao seu tempo. O motivo de não incluir esse filme na listagem é porque simplesmente ele é um clássico... Não parece certo mexer com um clássico, mesmo que seja para elogiá-lo.

Até hoje as referências das datas mostradas nos filmes dessa trilogia são esperados, celebrados e comentados por toda a comunidade nerd.

Que as produções cinematográficas hoje são grandiosas não é nenhuma novidade. A tríade que mais vem fazendo sucesso é a junção de quadrinhos, cinema e games onde o conteúdo nasce nos quadrinhos, passa pras telonas onde ganha maior visibilidade e abrange um público maior e depois se torna um jogo, onde o público se apropria e interage com ele.

Mas o que parece ser a sacada crescente é a percepção de que o público precisa ser trazido para dentro do projeto se quisermos que ele "compre"  o produto final. E eu me refiro a comprar no sentido de ir ao cinema, comprar os bonecos, comprar os DVDs e Blu-Rays, comprar o jogo de videogame e até os brindes do Mac Lanche Feliz (ou no caso da Warner seriam as lembrancinhas da Bob's). Mas como se faz isso?

O princípio vem sendo trabalhado nas redes sociais pelo que elas tem de melhor: o compartilhamento. Mas compartilhamento em que sentido? Bom, um filme é, na verdade, um projeto que leva anos para ficar pronto. De sua concepção à sua exibição nas telonas as etapas são diversas e costumavam passar despercebidas. Hoje é possível entreter o seu futuro público dando-lhes sempre algo para absorver e povoar seu imaginário.

Por exemplo: durante os primeiros testes de video com a atriz Gal Gadot no uniforme da Mulher Maravilha. A polêmica girou em torno das cores utilizadas e muitos fãs mais puristas insistiam na preferência pelos tons mais vivos dos quadrinhos.

Essas pequenas polêmicas  mantém o público interessado, não deixa o assunto morrer e muitas vezes pode até se chegar a ser atendida (ou pelo menos mencionada) pelos encarregados pelo projeto, seus diretores, etc.

E por falar nesse filme (Dawn of Justice, anunciado para 2016), seu desenrolar é um bom caso de como produtores e equipe fazem para manter o público cativo. Vejamos três momentos desse andamento:

1) Um ano atrás, na convenção Comic Con de San Diego um painel especial se prestou a apresentar oficialmente os atores que assumiriam os papéis de Superman, Batman e Wonder Woman. Com isso as especulações que circulavam on-line foram trazidas e discutidas para que os fãs se sentissem incluídos!

2) Meses atrás a Warner divulgou esse video oficial com imagens finalizadas. São trechos curtos e servem principalmente para situar os espectadores quanto ao enredo do filme e seu ambiente. A temática da inclusão volta ser utilizada e o público já pode se sentir usufruindo do produto.

3) Mas na última semana o capítulo mais recente dessa novela foi o novo video do filme. Não podemos ainda chamar de trailer, pois ainda falta muito para a finalização do material de divulgação oficial, mas fato é que o furor é grande e o hype é real!!

Não tem fã de quadrinhos que não se atinja com uma coisa dessas, e uma das reações mais imediatas foi a comparação com os filmes lançados pela Marvel.

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima é parte de um projeto que nunca foi concretizado: um filme da Mulher Maravilha. Alguns diretores foram cotados e confirmados para a produção do filme, várias atrizes foram cotadas e confirmadas para o papel principal (incluindo a Megan Fox), mas o filme nunca foi executado. Fica um caso em que o público teve suas esperanças elevadas mas não foram realizadas (ainda).

Ao longo da vida de uma pessoa seu repertório é desenvolvido à medida que somos expostos aos objetos culturais. Isso é necessário para que possamos entender objetos cada vez mais complexos, começando dos mais simples e disso muitas vezes acabamos separando esses objetos em categorias: coisas de criança, coisas de adultos.

Pensando nisso, e pensando no desenvolvimento pelo qual passa o nerd, vamos pensar sobre os desenhos animados, do jogos, as revistas e os filmes que seriam característicos dessas fases da vida e vamos dar uma olhada em alguns exemplos disso (sendo um pouco tendencioso com os exemplos que marcaram a minha própria trajetória).

Animes

Animes são a versão animada dos mangás (que são as revistas em quadrinhos típicas do Japão). Diferente dos desenhos animados ocidentais, os animes tratam de temas mais variados e são reconhecidos como conteúdo para as mais variadas idades, enquanto que os "nossos" desenhos animados são bem ligados à fase infantil (pelo menos era assim até a Locomotion, a Nickelodeon e o Cartoon Network apresentarem alguns formatos bem diferenciados...).

Dentro do universo infantil, animes como Hamtaro trata de aventuras ligadas a escola, bichinhos de estimação falantes (que são do imaginário de toda criança). Essa proximidade é um convite ao interesse dos mais jovens e acaba sendo uma porta de entrada para todo um universo de possibilidades. Com o estilo de desenho e animação mais leve, tem uma fruição mais fácil e agradável.

Cavaleiros do Zodíaco foi um dos primeiros animes a fazer sucesso com o grande público no Brasil e atinge o público numa fase entre infância e adolescência (geralmente) e trabalha com a canalização da violência típica dessa fase, mas juntamente com isso traz os questionamentos de certo e errado e da importância de se lutar por aqui que é certo, manter seus ideias e de crescer.

Evangelion, por sua vez, é um anime que visualmente trata de robôs gigantes lutando contra invasores gigantes do espaço... mas ao conhecer a história, ela trata da resistência humana frente ao ataque dos "Anjos", que são tratados na série como uma possibilidade de que Deus esteja extinguindo a vida na Terra. O resultado é que as lutas são uma metáfora para a existência humana e a sua resistência para nos mantermos vivos. Os episódios são recheados de reflexões filosóficas e frequentemente usa o protagonista para retratar a desesperança e os sofrimentos do amadurecimento.

Videogames

As gerações nascidas a partir dos anos 80 já viveram uma realidade onde ter consoles de jogo em casa era comum. Jogos de videogame existiam fazia tempo, mas de modo geral ficavam nas casas de jogo (os fliperamas, playtimes, arcades, ou como queiram chamar). Os jogos nesses locais era pago e não faziam tanto o perfil para crianças como passaram a fazer a partir dos anos 80, principalmente a partir do Atari. Com o console em casa, o videogame se tornou uma diversão acessível para as crianças também.

Os jogos da franquia Super Mario são tudo o que se pode chamar de "lúdicos". Cores vibrantes, personagens (mesmo os vilões) visualmente simpáticos e metáforas para a violência passar sem impactar os jogadores. Tudo convidativo para os mais jovens.

Valkyrie Profile: Silmeria é o melhor jogo de videogame que eu já joguei... Se por um lado ele é um jogo de enredo épico envolvido com a mitologia nórdica de muitos combates e muita estratégia, ele também fala sobre  a abnegação dos personagens que entregam suas vidas pelo bem maior. Além disso é um jogo recheado de cutscenes (vídeos que conduzem a narrativa entre as fases do jogo) que aprofundam as relações emocionais dos personagens, indo além de apenas ação e aventura.

Indigo Prophecy (ou Fahrenheit) é um jogo cujo enredo trata de você descobrir a verdade sobre uma situação onde você foi incriminado por um assassinato, onde você acorda na cena do crime, sujo no sangue do morto. O mais interessante nesse jogo é que você perde quando é preso ou quando seu personagem perde a vontade de viver (o que o leva a se matar). Isso acaba dando ao jogo uma trama mais dark mas muito interessante (e profundamente desaconselhável para crianças).

Quadrinhos 

Os quadrinhos por definição já existem como um formato híbrido de texto e imagem que ajuda as crianças a adentrar no mundo da leitura... mas eles vão muito além disso. Os quadrinhos são uma forma própria de narrativa e se configuram como uma forma de expressão plástica única também.

Os quadrinhos da Turma da Mônica, por décadas, contam histórias de crianças que moram próximas umas das outras e que brincam juntas. Os personagens tem suas características marcantes (um que não gosta de tomar banho, uma que é gulosa, um que fala errado...) e juntos vivem aventuras do universo infantil, com seus animais de estimação, bichos de pelúcia, etc.

Os quadrinhos de super-heróis são uma renovação dos mitos heróicos da tradição grega. Suas histórias, suas formas de atuação, suas relações criam as fábulas e mitos através dos quais princípios de virtude ideal para o público juvenil, juntamente com o elemento do fantástico, da aventura e dos grandes feitos que criam um mundo à parte onde o leitor se refugia da sua própria realidade.

E há os quadrinhos de temática mais adultas, como é o caso de Sandman. Nesta obra o protagonista é o senhor do sonho e seus irmãos são a Morte, o Delírio... são os auto-denominados "Perpétuos", pois se tratam de forças da constituição humana e do próprio universo. A maior parte das histórias se passa sobre os embates psicológicos, filosóficos e éticos da condição da humanidade e do universo em si mesmos. Definitivamente não é uma leitura que agrade um público juvenil, mas seus fãs são profundamente cativos.

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima trata do desenho "Ren and Stimpy", lançado no Brasil pelo canal Locomotion. Ele trata de aventuras non sense ou mesmo escatológicas. Da mesma forma como esse desenho, grande parte dos desenhos do canal Nartoon Network utilizavam um visual infantil e lúdico para atrair os mais jovens, mas utilizava conteúdos e temáticas mais adultas, para entreter os públicos mais maduros. Um exemplo disso é o episódio da Meninas Super Poderosas que fazia uma paródia onde os vilões da série formavam um grupo chamado "Beat-Alls". O episódio é todo recheado com referências visuais e históricas da banda, o que não seria condizente com o universo infantil, mas para outras audiências (EU, por exemplo) foi um puro deleite.

Essa cena do desenho retrata a famosa capa do álbum Abey Road dos Beatles

Uma ferramenta muito usada na criação de algo é ter como base algo conhecido... uma história, um personagem, um universo, um conceito... pode-se aproveitar o que o público já conhece para apresentar algo novo. Mas muitas vezes a pergunta é, o quão novo é esse "novo" conteúdo?

Essa reutilização acaba sendo dividida em duas categorias distintas, chamadas "remake" e "reboot". Vejamos um pouco das características de cada uma e alguns exemplos:

Remake

Um Remake é, como a tradução literal do inglês indica, refazer alguma coisa. Um Remake pega a mesma história e reconta da mesma forma. Mas nesse caso, seria apenas uma cópia?

Por padrão os Remakes acontecem um bom tempo depois do original, de modo que o público já não será mais o mesmo. Novas pessoas terão acesso à mesma história e com isso vão gerar novo significado com ela. A sociedade também já não é a mesma, de modo que os impactos dessa história também não serão os mesmos.

Mas para além disso um outro fator costuma estar presente nos Remakes: o fator tecnológico! Com o passar do tempo, a evolução do maquinário acaba por permitir resultados superiores com a produção. Um ambiente no qual isso ocorre de modo perceptível são os games:

A versão original, "Super Mario Bros. 2", lançado pela Nintendo no ano de 1988

A versão refeita pela Nintendo no ano 1993. O mesmo jogo, a mesma história, mas com uma diferença significativa: o original havia sido lançado para o console 8 bits e apenas cinco anos depois sua versão para o console de 16 bits apresenta gráficos e som superiores, mantendo a história e personagens conhecidos.

Reboot

Diferente dos Remakes, os Reboots se apropriam de uma história, mas a modificam enquanto contam seus acontecimentos. O termo significa "reiniciar", ou partir novamente do começo para traçar uma nova trilha.

Num Reboot o público está familiarizado com o universo e personagens, mas não tem a certeza de como essa história terminará, pois ela de fato se torna uma história nova.

O jogo original da franquia The Need For Speed, lançado EA Games em 1994.

Anunciado pelos desenvolvedores como um Reboot, isso significa que a história se desenrolará de forma diferente... referindo-se a um jogo é provável que ocorra a inserção de novas funcionalidades e opções para o jogador, resultando numa experiência profundamente diferente (além da evolução do hardware, que permite uma apresentação visual reconstruída, como mencionado sobre os Remakes).

E caso você esteja se perguntando, aquela figura lá em cima seria um Reboot ou um Remake?

Na verdade, aquela figura não seria nenhuma das duas coisas... Quando a franquia de jogos Prince of Persia foi levada para o cinema (resultando no filme de 2010) a história de três jogos foram condensadas para aparecer numa película. A história foi recontada e ao mesmo tempo sofreu alterações... 

Podemos dizer nesse caso que não se trata de Remake nem de Reboot, mas que essa mudança de mídia requer adaptações, resultado do processo "transmídia", mas isso fica para um próximo texto!

Uma das franquias de jogos de luta com maior reconhecimento mundial, Mortal Kombat surgiu durante a onda de crescimento de jogos como Street Fighter e King of Fighters. Frente à popularidade de um e ao carisma já firmado do outro, o diferencial adotado como marca da identidade desses jogos foi a violência!

Diferente dessas outras franquias, Mortal Kombat investia no uso explícito e visual dessa violência. Sangue e a insinuação de desmembramento, decapitação, eletrocução, incineração entre outras coisas igualmente mórbidas acompanham os jogos e dão a sua tônica. Insinuações, pois as capacidades gráficas dos consoles de 16 bits não alcançavam os detalhes necessários para a experiência necessária... mas com a evolução dos consoles isso foi sendo corrigido.

Então, em homenagem ao lançamento do novo Mortal Kombat X, vamos rever alguns dos reflexos dessa violência e de como eles foram utilizados.

Fatality

O Fatality representa a primeira e mais característica marca. Quando o oponente zerava seu marcador e energia nos dois rounds ele estava derrotado, o vencedor tinha, então, a oportunidade de deixar seu oponente "cair" ou fazer algo para garantir a sua morte! Cada personagem, de acordo com seu histórico confirmava essa morte à sua maneira.

No novo jogo, Mortal Kombat X, a evolução tecnológica permitiu que as cenas fossem visualmente mais explícitas, atingindo níveis mais profundos de impacto visual!

Funções como o "raio x" explicitam ainda mais a violência dos golpes, além da alta fidelidade das imagens, dignas dos filmes de terror mais grotescos! Mas além dos Fatalities, ao longo dos jogos da série outras finalizações também foram apresentadas aos jogadores:

Animality

Em certa edição cada personagem tinha um "espírito animal" e demonstravam a capacidade de se transformarem em um animal para finalizar seu adversário. A explicação não era o mais importante, mas a representação dos personagens em suas formas animais eram sempre divertidas!

Brutality

Uma "evolução" dos Fatalities, o Brutality seria uma forma ainda mais impactante, ou mais brutal, como o nome sugere. Corpos que explodem, muito sangue e pouco contexto... apenas força "bruta".

E caso você esteja se perguntando, aquela imagem lá em cima se refere a uma das reações à violência dos jogos. Parte do público (e muitos pais e mães) se mostravam contra essa selvageria. O Mortal Kombat X foi apresentado a um público de mais idade e a reação deles foi a seguinte:

Sendo questionados pelo seu teor "explícito" e a possibilidade de perder público, o jogo passou a contar com as novidades: o Friendship e o Babality. É incerto se essas finalizações foram uma brincadeira com esse tipo de reação ou de fato uma forma de deixar o jogo mais leve... para quem não lembra, eles eram mais ou menos assim:

Criando uma dissonância do escopo, no Friendship o personagem se recusa a "matar" seu oponente e faz alguma brincadeira, seja pular corda, oferecer flores, brincar de projetar sombras, etc...

No lugar de matar o oponente, no Babality a intenção é transformar o oponente em um bebê e humilhá-lo... de uma forma fofa!

Mas uma das maiores sacadas do jogo foi que ele (como vários jogos já fizeram) acolheu um personagem da cultura pop cinematográfica para seu enredo... nesse caso  Jason Vorhees (o vilão dos filmes da série Sexta-feira 13). E o mais bem feito: o personagem no jogo é tão imortal quanto nos filmes, tendo uma forma de "ressuscitar", como pela eletricidade dos raios do Raiden!

O normal quando se conta uma história é uma linha narrativa progressiva (a história vai avançando com o tempo e os fatos vão se desenrolando). Com isso o leitor (ou o "jogador" ou o "expectador") vai andando junto com seus personagens de modo tradicional.

Entretanto, a transgressão no fluxo do tempo é sempre um elemento interessante numa história, pois ele quebra essa expectativa do "normal", trazendo uma instabilidade e obrigando esse leitor/jogador/expectador a refazer as conexões sobre o andamento e colocando as coisas em seus lugares. Principalmente interessante é colocar essa mudança do tempo nas mãos do jogador:

Mas não é exatamente desse tipo de mudanças no tempo que estamos falando. Especialmente hoje estamos tratando de um fato muito comum quando se trabalha com um personagem ou com um universo por um longo tempo... quando suas histórias são contadas em diferentes episódios e sucessivamente elementos se desdobram ou são inseridos.

O que ocorre nesses casos é que muitas vezes são necessários "ajustes" quando o desenrolar da trama faz com que alguns elementos não façam sentido entre si... pois certas vezes os escritores e roteiristas que se sucedem à frente de determinado personagem o tratam de forma diferente (ou simplesmente discordam do que seu antecessor fez). Quando isso acontece, muitas vezes se conta ou se "reconta" a história do passado.

Esse tipo de história é chamada de "retcon", do inglês "retroactive continuity" (ou "continuidade retroativa") que significa exatamente isso: reconstruir a continuidade dos fatos de uma história.

Vejamos alguns exemplos:

1) A primeira morte de Jean Grey

Incerto se foi tudo friamente calculado ou se foi um retcon motivado pela insatisfação dos fãs frente à morte da personagem, o fato é que a primeira morte de Jean Grey foi corrigida pouco tempo depois do ocorrido.

Caindo na Terra em uma cápsula espacial, Jean se sacrificou usando sua telecinese para manter a estrutura da cápsula e se expondo á radiação cósmica. Ela cairia no rio Hudson já morta, não fosse a interferência da força cósmica da Fênix, que usou seu corpo como hospedeiro.

Tempo depois, consumida pelo poder extremo da entidade e manipulada pelo Mestre Mental, Jean se tornou a Fênix Negra e passou a usar seu poder descomunal para a destruição. Após um combate com a elite de guerreiros do Império Shiar, Jean se permite matar, mas em uma história "retificadora" é explicado que a verdadeira Jean estava esse tempo todo no fundo do rio Hudson, envolta num casulo de energia criado pela Fênix, enquanto a Fênix vivia e convivia com todos usando um corpo que criou copiado da Jean...

Caso pensado ou retificação de história?

2) X-Men: Days of Future Past

Nos quadrinhos a história se passa dentro do fluxo natural do tempo, onde repentinamente uma personagem (Kitty Pryde) é possuída pela consciência dela mesma, vinda de décadas no futuro com a tentativa de alterar o passado e impedir que o futuro de onde ela vinha acontecesse. Algo bem "Exterminador do Futuro".

No filme, temos um jogo mais complexo de cronologias... Temos o tempo "presente" que havia sido apresentado pelos filmes da trilogia original e pelos filmes do Wolverine (Origins e Imortal), temos o tempo "passado" apresentado pelo filme First Class e temos o tempo "futuro" apresentado pelo próprio Days of Future Past. Então o que o enredo do filme se presta a fazer acaba se tornando uma dupla função.

Se por um lado a história mostra a consciência de um Wolverine que assume controle do seu corpo décadas no passado para mudar eventos que possam levar à situação terrível vivida pelos mutantes. Mas a outra função é a se tornar um retcon GIGANTE... no sentido em que abre uma mudança do passado grande o suficiente para que todos os eventos da trilogia original sejam recontados, permitindo aos roteiristas apagar o que ocorreu na trilogia original, apagando eventos que foram questionados pelos fãs.

E se você estiver se perguntando, aquela imagem lá em cima é de uma das cenas mais famosas da DC Comics: A Crise nas Infinitas Terras.

Utilizando a prerrogativa de que o plano de existência se divide em inúmeras realidades paralelas, o universo da DC às vezes se mostra instável, as realidades colidindo e ameaçando a própria existência... essas "crises" acabam ocasionando o surgimento de um universo mesclado de realidades diferentes. Ou seja: o UNIVERSO DC inteiro passa por retcons sucessivos, pois de cada novo surgimento novo, as histórias e a configuração de tudo acaba sendo reescrita.

Eu diria que são os maiores retcons da história!