Pesquisa: trabalhar é um dos desejos de reeducandas
Mulheres do sistema prisional reclamam de ócio na cadeia
Estudo realizado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), por meio do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, constatou que mulheres do sistema prisional alimentam o desejo de trabalhar. Desenvolvida na Penitenciária de Recuperação Feminina Maria Julia Maranhão, no bairro da Mangabeira, em João Pessoa, a pesquisa ainda identificou que o ócio é um dos principais males enfrentados pelas reeducandas.
Uma das explicações para o desejo das detentas de trabalhar é a possibilidade de redução das penas. De acordo com a doutoranda Núbia Guedes, responsável pela pesquisa, as presas grávidas são as que mais reclamam da falta de atividades de trabalho na cadeia.
Para Núbia, a ausência de atividades, sejam elas educativas ou profissionais, causa prejuízos ao processo de ressocialização. “O ócio intentado pelo Estado é um castigo que não está tipificado no ordenamento jurídico, mas que é de grande eficácia para um Estado punitivo e para uma sociedade vingativa”, comentou a doutoranda, conforme informações da UFPB.
A pesquisa concluiu que, quando existe trabalho em presídio feminino, poucas mulheres são inclusas e, na maioria das vezes, as atividades são associadas a afazeres domésticos, tais como limpar banheiros e cozinhar. “Estudos indicam que esses tipos de atividades apenas servem para passar o tempo na prisão. Embora não tenham o caráter de ressocialização, é bom para que o tempo passe de forma mais amena”, comenta Núbia.
A pesquisadora traz, porém, um ponto positivo a ser observado na a Penitenciária de Recuperação Feminina Maria Julia Maranhão. No local, é promovido um projeto chamado “Castelo de Bonecas”, em que as participantes produzem bonecas, panos de prato e artigos que são expostos em feiras de artesanato. “É um grande exemplo a ser assimilado, pois é um trabalho que, além de passar o tempo, humaniza a pena e profissionaliza as mulheres reclusas”, destacou a pesquisadora. A iniciativa, no entanto, ainda é embrionária, uma vez que somente 15 mulheres fazem parte da programação. Para a doutoranda, o ideal é que todas as detentas participem da ação.