Abaporu: o que é e como a obra pode ser abordada no Enem
Professores explicam a importância da famosa pintura no contexto da literatura brasileira
Após uma publicação nas redes sociais na manhã do último domingo (15), um grande debate foi levantado em torno da obra Abaporu, de Tarsila do Amaral. Um internauta postou uma foto da pintura, comparando-a à tela “Batalha de Avaí”, do paraibano Pedro Américo, que, para ele, deveria “representar o Brasil mundo afora”. Os usuários fizeram questão de lembrar o legado da artista e a importância de sua obra, o que deixou a hashtag "#Abaporu" nos trend-topics.
Obra 'Batalha de Avaí', de Pedro Américo
Tarsila do Amaral é considerada uma das principais personalidades do modernismo brasileiro. A obra em questão foi criada em 1928 para presentear o marido, Oswald de Andrade, que, impressionado com a obra, resolveu batizá-la de Abaporu, que significa “homem que come carne humana”, ou seja, antropófago. Posteriormente, Oswald, com o objetivo de fomentar a independência da cena artística brasileira da Europa, publicou o Manifesto Antropófago, que deu origem a o movimento do mesmo nome, um dos mais importantes da época.
Segundo a professora de Linguagens Pâmela Soares, a ideia do termo antropofágico serve para ilustrar os artistas brasileiros deixando de “comer” o que era de fora, como as vanguardas européias. “Abaporu é uma representação daquilo que pode acrescentar algo à brasilidade da literatura nacional”, conta.
Para o professor de Português Felipe Rodrigues, a relevância da obra pode ser observada no contexto modernista brasileiro. “Sua importância se dá pela retomada do ufanismo e aspectos integralmente nossos, na construção de uma arte revolucionária e ancestral”, disse o professor. Rodrigues também lembra que a obra de Tarsila é considerada ponto de partida para a retomada da arte nacional, através de aspectos inerentes ao povo.
A respeito da publicação nas redes, o professor reitera que não existem métodos de mensuração entre obras artísticas. “Perceber o modernismo, um movimento estritamente brasileiro, é entender que o Brasil produz arte e temos raízes, no Abaporu”, diz Felipe. A obra foi arrematada, em 1995, em Nova York, depois de passar por várias mãos, por US$ 1,35 milhão - o valor mais alto já pago por uma pintura brasileira.
No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), segundo Pâmela, a obra pode ser abordada com uma contextualização de movimentos nacionalistas e também quando estudamos a literatura. “A prova de Linguagens, por exemplo, trabalha essencialmente com textos modernos [...] Há a retomada dos textos clássicos como barroco, quinhentismo, romantismo, que são vistos a partir da ótica moderna. Então, a obra de Tarsila e o manifesto de Oswald dão visibilidade para esse movimento que é importante, até o hoje, para a identidade literária brasileira”, conclui.